segunda-feira, agosto 11, 2014

Os mitos urbanos

 
O tempo estival, com as conversas na praia, entre a "Flash" e a 'Gente", é o pasto social certo para a alimentação daquilo a que os anglo-saxónicos chamam "urban legends". São historietas bizarras que se repetem ("estou a contar-ta como ma contaram!) de boca em boca e que, nos últimos anos, encontraram nas redes sociais um terreno excelente para divulgação.

Alguns desses "mitos urbanos" ficaram clássicos. Há a do tipo cuja sogra teve um ataque de coração e morreu, em Espanha. Para evitar burocratices, a família trouxe o cadáver da senhora "sentado" no carro, passou a fronteira, parou numa bomba de gasolina, saiu por um minuto e... roubaram-lhes o carro (com a sogra dentro!). E quem conta a história acrescenta: "Até hoje!". Na internet, enviada por amigos reformados, quem é que não recebeu já os "avisos" clássicos para não se aceitar uma bebida oferecida por estranhos, logo apimentado com o caso de alguém que, depois disso, adormeceu e, quando acordou, tinham-lhe tirado um rim, para venda de órgãos?

Às vezes, os "mitos" são políticos. Durante anos, muita gente tinha visto (ou tinha-lhe contado uma prima que tinha um colega que tinha visto) uma fotografia com o Otelo a levar aos ombros o caixão de Salazar. Nunca soube bem o que isso provaria, se acaso fosse verdadeiro, mas corria nos meios "anti-25 de abril" como facto indesmentível. Outro, de idêntico jaez, era a célebre fotografia (que também ninguém viu, mas que alguém tinha um afilhado de um primo de uma tia que jurava "a pés juntos" que lha tinham mostrado) de Mário Soares a pisar a bandeira nacional, numa manifestação em Londres. Um dia, Soares, confrontado diretamente por uma miserável repetidora da canalhice, colocou-lhe um processo em tribunal, que naturalmente ganhou, e o boato esmoreceu. 

Agora, desde há umas semanas, anda por aí outro "mito urbano" (sobre o qual não dou o menor dado, para não ajudar "à festa"), envolvendo uma figura pública. Já ouvi três versões, cada uma mais pateta do que a outra. Nem o facto de ser totalmente inverosímil faz com que algumas pessoas se coíbam de repeti-lo, às vezes distanciando-se ("foi o que me disseram..."), mas deixando ainda um toque se segurança: "mas não há fumo sem fogo..."

11 comentários:

Anónimo disse...

A história com o Mário Soares, conforme sempre a ouvi quando era criança, metia urina.

patricio branco disse...

essa calunia de mario soares a pisar a bandeira nacional numa manifestação em londres em 1972 ou 73 foi desmentida pelo próprio embaixador de portugal em londres, faria, na ocasião em que correu o boato. perguntado pelo mne de caetano (rui patricio)se se confirmava o facto, o embaixador respondeu que não, simplesmente. profissional sério, se é falsa uma noticia ou boato desmente-a.
pois a do otelo carregando a urna de salazar não tinha ouvido.
vou ver se descubro o mito urbano que corre neste momento sobre figura publica, afinal gosto de boatos, divertem ou chocam, são um fenómeno social...

Anónimo disse...

Desconhecia... De facto é fascinante como o tecido social se alimenta desses boatos. Alguns exemplos: o fantasma da curva do Mónaco (na Marginal), o Mickael Jackson está vivo, os crocodilos nos esgotos (embora recentemente tenha havido um caso verídico) etc... Um dos livros que aconselho para melhor conhecer esses rumores e/ou mitos urbanos é a obra "La rumeur d'Orléans" do sociólogo Edgar Morin sobre o, rumor relativo ao desaparecimento de mulheres jovens nos provadores de roupa de comerciantes judeus de Orleães nos anos 60... Hoje o rumor transferiu-se para a comunidade chinesa e o tráfico de órgãos.. Para quem quiser ter mais informações sobre a veracidade ou não dalguns rumores que hoje circulam a nivel internacional graças à Internet, aconselho o excelente site hoaxbuster.com..

Manuel A. Cunha

JPA disse...

Caro Dr FSC;

Não me diga, que Otelo lhe disse, que viu o Mário Soares a pisar a bandeira Nacional, quando levava em ombros o caixão com o cadáver do Salazar, no funeral deste?

Atentamente
JPA

Anónimo disse...

Hoje circula um outro boato urbano. Diz-se que Santana Lopes afirmou querer ser Presidente da República.
Apesar de ser apenas um boato, que o próprio não deixará de vigorosamente desmentir em entrevista a prestar no intervalo de uma chegada de Mourinho a um qualquer aeroporto, acho que se elegemos Cavaco Silva Presidente, porque não Santana Lopes?

David Caldeira

Carlos Fonseca disse...

Groucho Marx dizia ter convicções profundas, mas salvaguardando que se não servissem arranjava outras.

Parece que também para alguns, se o mito de Mário Soares ter pisado a bandeira já não colhe, arranja-se outro, que segundo as "audições" do Anónimo das 13:28, mete de urina.

Ele há gente que não desiste. Talvez algumas análises (e não me refiro propriamente às de urina) ajudassem a resolver alguns problemas.

Anónimo disse...

Há tb mitos urbanos que o dr. Soares (e que tb já ouvi numa aula um professor universitário de História) gostam de disseminar.

O de que Cunhal encenou a chegada a Portugal de modo a que ficasse semelhante à de lenine na Estação Finlândia, subindo para cima de um carro de combate e fazendo-se cercar por um soldado e um marinheiro.

Ora, o que gente que lá estava garante (por exemplo Vítor Dias) é que perante tamanha multidão terá sido um graduado do exército a convidá-lo a subir para cima da Chaimite que no lugar ajudava a assegurar a segurança, nada tendo havido de premeditado - tanto mais que por esses dias andava tudo louco.

Quanto ao ladeamento por um soldado e por um marinheiro, basta olhar para a dita fotografia desse dia. Dão-se alvíssaras a quem topar com um marujo ali em redor.

Anónimo disse...

No fundo, o que todos queremos saber é o mito recente de que nos fala.

domingos disse...

De facto, Soares processou em tribunal a miúda que lhe perguntou sobre a história da bandeira. Mas, se bem me lembro, a miúda não chegou a ser condenada. Houve um acordo entre as partes para desistência da acção judicial. O que, aliás, não retira qualquer pertinência à reflexão do Embaixador.

Anónimo disse...

O processo de designação do novo Comissário é também um exemplo de mito urbano e o EXPRESSO colabora nele.
Desmentindo o propósito de Maria João Rodrigues o jornal invoca "fontes diplomáticas" como rechaçando a intenção de Juncker a designar para Comissária. Só que fontes não identificadas valem o que valem, isto é nada.
Alegadamente Juncker preferiria a "Senhora Albuquerque": Só que a Senhora Maria Albuquerque é obviamente menos qualificada, embora possa ser mais dócil e dobrável perante um estrangeiro. A indicação de um secretário de estado menor que represente tudo o que foi condenado pelo Parlamento Europeu em matéria de troika vai efetivamente colocar alguns engulhos e é provável que caia a sua designação e que se volte a falar de uma Senhora mais qualificada. Que até poderia ser Graça Carvalho.

Anónimo disse...

Ai Jesus! No que isto ja vai?!
Como sabe bem uns comentarios destes num tempo em que no pais o que parece verdade é que não ha mesmo - "papel"... Daquele com que se compravam uns bons melões de Almeirim, vendidos sem factura à beira da estrada nacional... Isso era tudo verdade: o que ja houve, e, o que ja não ha de verdade, verdadinha!!!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...