terça-feira, agosto 05, 2014

Os EUA e Israel

O "New York Times" aborda hoje o estado das relações entre os governos americano e israelita e, muito em particular, o momento menos bom que o entendimento entre Obama e Nethaniahu estará a atravessa, face à inédita reação pública negativa de Washington perante a carnificina em Gaza. Este tipo de notícias tem sempre de ser lido com extremo cuidado, porque nada é menos inocente na imprensa americana do que o tratamento de tudo quanto se prenda com Israel. 

Em contraste com a suposta tensão que se vive entre as duas administrações, o jornal nota que a opinião pública americana está esmagadoramente a favor da ação musculada de Telavive, o que levou mesmo o PM israelita a considerá-la "terrific" (para quem seja menos versado em inglês, o termo significa "magnífica" ou coisa assim). Foi sempre assim: os EUA foram quase sempre "mais papistas do que o papa" nesta matéria.

A este propósito, lembrei-me de repetir um episódio que testemunhei em Nova Iorque e que aqui contei há uns anos.

Na primeira metade de 2001, estive presente num jantar anual organizado por uma associação de amizade Estados Unidos-Israel, cujo nome exato não posso precisar. Por uma qualquer razão, um grupo restrito de embaixadores junto das Nações Unidas era convidado para esse evento. A cada um competia a presidência de uma das mesas, com cerca de uma dúzia pessoas, pelas quais se desdobrava o imenso repasto, num local luxuoso de Nova Iorque. A bandeira portuguesa, tal como a americana e a israelita, figurava no centro da mesa em que eu me sentava.

O convidado de honra desse jantar era Shimon Peres, então vice-primeiro ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de um governo israelita chefiado por Ariel Sharon. Peres teve uma intervenção de grande sensatez, com elevado sentido de compromisso, sublinhando os riscos que havia se se viesse a provocar o isolamento de Yasser Arafat e da Autoridade Palestiniana. O futuro, aliás, veio a dar-lhe completa razão.

O ambiente que recebeu as palavras de Peres, nesse encontro que juntava uma elite da comunidade judaica americana, foi de um progressivo gelo. Passados os primeiros minutos do discurso, as palmas que tinham começado por sublinhar algumas das suas frases esmoreceram, até desaparecerem por completo. No final, notei que, na minha mesa, eu tinha sido o único a aplaudir. Na cara e nos comentários secos dos meus vizinhos senti a rejeição profunda da mensagem de Peres. Ouvir alguém falar de perspetivas de negociação com os palestinianos, com cedências na política de expansão dos colonatos, na lógica do "land for peace", era um visível sacrilégio para aquelas pessoas, que aparentemente consideravam que, das suas "trincheiras" de Manhattan, defendiam melhor os interesses de Israel do que um seu líder histórico. Nessa noite, confirmei muito do que pensava sobre o papel da comunidade judaica americana na questão israelo-palestiniana.

11 comentários:

Defreitas disse...

Obama e duma maneira geral todos os políticos americanos estão em sentido e acatam as ordens da AIPAC, o lobby judeu que influencia, como muito bem sabe, todas as decisões dos americanos.
Alias, no momento mesmo em que centenas de Palestinianos são assassinados em Gaza, a administração americana envia 350 milhões de dólares a Netanyahu, para financiar a compra de mais munições destinadas a bombardear as escolas da ONU e os hospitais.

A impostura dos americanos face aos israelitas e uma vergonha para a maior potencia mundial, e Obama, que não tem nenhum combate eleitoral no futuro, pois que vive o seu ultimo mandato, e assim ,certamente , o maior hipócrita da historia dos EUA.

Ele, que recebeu o prémio Nobel da Paz antes mesmo de fazer o que quer que seja, assiste impávido ao massacre dos Palestinianos .

Hipócrita ainda quando vem informar o mundo que os americanos torturaram apos o 11 de Setembro! Como se o mundo não soubesse disso desde hã muito! Ma se só agora o faz, não e por remorso ou por reflexo de honestidade súbita, mas simplesmente porque o relatório do inquérito ordenado pelo Congresso o vai publicar dentro em pouco.

No caso de Gaza, os EUA e a UE demonstraram o desprezo que lhes merecem os Palestinianos e a servidão a qual se submetem perante o sionismo .

As gerações futuras de Palestinianos não esquecerão o que lhes fazem. Não nos admiremos se as organizações atuais do Hamas e do Fatah forem submersas e varridas pela força bruta israelita, que amanhã tenhamos de tratar com os seus sucessores ,do movimento Jihad Islamista.

O Ocidente costuma agir assim. Vimos no passado, que recusando tratar com Massoud no Afeganistão herdamos em seguida dos Taliban.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo com o que escreveu o comentador Defreitas!
Verdades como punhos. Bom Post este e oportuno. Israel pratica hoje e desde há muitos anos aquilo a que se poderá designar de "terrorismo de Estado". Israel só não passa, como deveria, a pária das NU, porque tem o apoio de sempre dos EUA e da sua "muleta", a União Europeia.
Lourenço

Anónimo disse...

http://2.bp.blogspot.com/-OQoz_ZiANL8/U96isHdrYzI/AAAAAAAAW40/64KvySP9sig/s1600/Gaza+2.jpg

patricio branco disse...

os eua estarão sempre ao lado de israel, são 2 aliados fortes, e está bem, israel acaba por ser uma democracia e uma potencia anti-terrorista na zona, o lobby judio nos eua é muito forte mas ainda queria mais radicalidade, os eua sabem por onde ir respeitando a amizade com israel mas sem caisr em extremismos...

Anónimo disse...

Os EUA são amigos de Israel porque o Estado Judaico faz o papel (sujo) de polícia da região, evitando assim gastos e tensões políticas aos EUA, que assim nao têm de manter uma presença permanente mais visível naquela aprte do Globo. Por outro lado, através de Israel e da sua actividade militar na região, os EUA sempre vão testando armamento no terreno.
Lourenço

Defreitas disse...

Se o "napalm" e o agente químico " orange que destruiu o Vietnam e criou milhares de crianças desumanizadas , matou 2 milhões de vietnamitas, se a morte de 1 milhão de iraquianos e a destruição do Iraque para se apoderar do seu petróleo, se os golpes de Estado fomentados pela CIA na América Latina, o massacre dos Chilenos e o assassinato de Allende, se a tortura instaurada como método ...etc.etc.etc .Viva a democracia!

Quanto a Israel, as bombas de fósforo e de fragmentação, de flechas, etc, também provam o alto nível de democracia, sobretudo quando se assassinam 1890 Palestinianos. E tudo isto para espoliação dum povo das suas terras.

Façamos votos que Portugal possa escapar a este tipo de democracia. A corrupção das nossas elites já nos basta! Elites democratas, claro!

Defreitas disse...

No comentário precedente do Sr. Patrício Branco, a expressão "e esta bem", quando constatamos todos os excessos dos dois aliados, no terreno, leva-me a pensar que mesmo em países ,digamos evangelizados , a dezumanizaçao pode ganhar terreno. Ontem, ao ver jovens soldados israelitas se congratularem do resultado duma guerra sem combatentes, onde a força bruta caiu sobre humanos indefesos, esfrangalhando os corpos por toda a parte, onde as pobres presas procuravam abrigo, e ao ver os palestinianos exibirem os pobres corpos de crianças desarticulados, pensei que a sociedade esta cada vez mais desumanizada.

Claro que vem de longe tudo isso. De Hiroxima e Nagasaki, de Sabra e Chatila, de Varsóvia e Leninegrado , do Vietname e do Iraque, e agora, uma vez mais, de Gaza.

Poderíamos falar da África, do Ruanda e do Congo, da Somália ,etc.

A grande diferença entre a África e Gaza, seria talvez que aqui são duas "democracias" que exibem o seu poder de destruição contra um povo invadido um dia para ceder o seu lugar a outro, que lhe teria sido prometido pela suprema autoridade. O que significaria que a Autoridade Suprema escolhe entre os homens, aqueles que protege e aqueles que abandona.

Se eu pertencesse ao campo dos abandonados bater-me-ia até a morte.

São disse...

Assino por baixo, se o autor permitir, o excelente e frontal comentário de Defreitas!

Os seus cumprimentos

São disse...

ERRATA:

- Excelentes comentários

- Meus cumprimentos

E, já agora, também as minhas desculpas!

Defreitas disse...

Obrigado Cara São pela atenção que porta aos meus comentários. E um bom incentivo. Nunca senti, como nestes últimos tempos, tanta revolta pelo que se passa no mundo. Mas incomoda-me, sobretudo, a acção nefasta dos jornalistas do "pronto-a-pensar", onde tudo está mastigado, pronto a digerir. E que o distribuem com facilidade. E são muitos aqueles que ingurgitam toda essa matéria nociva, ao ponto que agora são os oprimidos que são acusados e os agressores que beneficiam da compreensão geral.

E portanto, tanto haveria a dizer de tanta injustiça e de tantas mentiras propagadas nos média submetidos ao poder dos mais fortes.

Por isso creio que este espaço de liberdade, como outros, deve ser utilizado para apresentar outra versão das coisas, e submete-la ao confronto de ideias.

Melhores cumprimentos

J. de Freitas

São disse...

Meu caro, nada tem a agradecer!

Interesso-me pelos seus comentários, embora não diga nada , porque respeito as pessoas honestas e corajosas capazes de assumir o que pensam, mesmo correndo riscos.

Quanto à comunicação social , realmente, está num péssimo estado e ao serviço de quem detém o Poder.

E foco o caso da Ucrânia, cuja crise é de total responsabilidade da União Europeia.

Os meus respeitos!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...