terça-feira, agosto 26, 2014

Socialistas - os franceses e os nossos

Como não vejo televisão há vários dias, desconheço se alguém perguntou já a António José Seguro ou a António Costa se acaso discordam, numa vírgula que seja, do discurso de Arnaud Montebourg sobre a necessidade do fim da austeridade e dos seus apelos a políticas europeias promotoras do crescimento e do emprego. É que, à parte as tradicionais tiradas de nacionalismo económico protecionista gaulês, e para além das críticas abertas a Angela Merkel, o que ouvi de Montebourg leva diretamente, quase linha por linha, àquilo que ambos os candidatos à liderança socialista, aliás como o PS português no seu todo, têm vindo a defender nos últimos anos.

Ora foi a persistência pública nesse discurso, com o apoio expresso de dois outros ministros, que levou ao respetivo afastamento do governo de Manuel Valls. Porque a lógica não deveria ser uma batata, seria legítimo concluir que a política que Valls procurará imprimir ao seu governo deveria contrariar as posições de Montebourg - caso contrário este não teria saído. Isto significa, para fechar o círculo, que os socialistas portugueses estariam hoje em contraciclo com os seus camaradas franceses.

Pois isso! A política é o que é: Hollande e Valls dirão que o que os separava de Montebourg eram apenas meras "nuances" no prosseguimento de uma mesma política e talvez discordâncias no modo de a explicitar. Por cá, Costa e Seguro dirão que não querem imiscuir-se na vida interna do partido-irmão francês e que continuam a contar (e aqui improviso) "com a já afirmada determinação dos socialistas franceses para se aliarem a quantos, como é o caso do PS português, se batem na Europa pelo fim das nefastas políticas de austeridade, que não só aumentaram exponencialmente as dívidas soberanas nacionais, mas igualmente agravaram as fraturas sociais, afetaram gravemento o tecido das políticas públicas, arruinando largos setores da economia e destruindo, a prazo, as hipóteses de um crescimento sustentado, ao mesmo tempo que potenciaram o desemprego e, no caso português, provocaram uma onda de emigração qualificada que descapitalizou fortemente os recursos humanos do país".

E não é que tudo isto - digam Montebourg ou Costa ou Hollande ou Seguro o que entretanto disserem - é pura verdade?! Mas então, se as diferenças não são assim tão grandes entre todos, por que diabo Montebourg foi obrigado a demitir-se? Pela mesma razão que, por cá e naquilo que os socialistas portugueses digam ou possam vir a dizer e que se ouça na Europa, o peso das palavras e da sua oportunidade tem de ser sempre muito bem medido. Seguro e Costa deviam olhar bem para esta crise governamental francesa e dela tirarem algumas lições para o cuidado a ter na formatação do seu discurso futuro "para fora". E nós não somos a França, não se esqueçam!

13 comentários:

Lourenço disse...

Socialistas de nome, politicas de direita entre Passos e Seguro venha o diabo e escolha. Dois invertebrados.País ao fundo, morreu a esperança. Abril por onde andas!

Defreitas disse...

O liberal socialismo de Hollande e Valls não difere do liberalismo de Sarkozy. Impossível de aplicar outra política que aquela que e ditada por Berlim e pela finança internacional.

Os socialistas vivem com uma esperança mas hoje morrem com ela. Como os povos que creram um dia na revolução e que veem cada dia que passa que a vida e cada vez mais difícil.

O que e lamentável e que os políticos continuem a destilar a esperança aos povos sabendo que não terão o poder para mudar as coisas.

Helena Sacadura Cabral disse...

Quer-me parecer que qualquer dia Hollande diz que não condegue governar, faz como Chirac e obriga a direita a ir para o palanque com ele.
Os sistemas presidencialistas permitem estas manobras...

Anónimo disse...

Caro Francisco

Eu sou socialista dos do antigamente,pois já faço 73 no dia 20 do próximo mês. As "primárias" do meu partido parecem-me os caucuses americanos mas sem raisinga funds. Ou será que também os têm?...

Comparações com os socialistas franceses são a meu ver desnecessárias e impraticáveis. A França (ainda) é a França e Portugal (já não) é Portugal.

As políticas de austeridade(e de autoridade) LEVARAM-NOS E VÃO-NOS LEVAR A UM FIM MUITO TRISTE.

O que era preciso nesta altura é ue chegue rapidamente o 28 de Mai, ups de Setembro.Eu vou votar Costa e ponto final.

Abç

Anónimo disse...

As políticas socialistas e sociais democratas que têm vigorado em Portugal no pós Abril são tudo farinha do mesmo saco. Não se vislumbra qualquer diferença. Questiono mesmo porque não formam um só partido.

Por outro lado, vimos que os últimos governantes, para não ir mais atrás, nem sabem o que andaram lá a fazer. Sócrates que gastou a seu belo prazer sem saber como pagar esses gastos e Passos que aumenta a dívida pública, aumenta o desemprego, aumenta os impostos e baixa salários. Como é que alguém pode desejar que estes personagens continuem ligados à política?

Importante referir que quem nos governa nunca é julgado, pelo que faz ou não faz. A não ser pelo eleitorado. Como se pode ver temos uma série de Câmaras em situação de pré-falência e tudo continua como se não fosse nada.

Assim também quero ser político...

Anónimo disse...

A situação política actual em França é fruto dessa enorme hipocrisia. Políticos com duas caras, governos com duas caras, irão sempre continuar a aplicar a austeridade enquanto se dizem contra a austeridade. O duo Valls/Hollande é neste momento o pior inimigo do PSF.

Anónimo disse...

Os seus argumentos convenceram-me, Senhor Embaixador: como não há margem para fazer senão o que a Sra Merkel diz, vou votar no PSD, porque são os melhores seguidores da única política europeia possível. A Senhora Engenheira concorda e manda cumprimentos.

Atenciosamente

a) Feliciano da Mata, o Schauble do Golungo

Anónimo disse...

Pois eu, tapando o nariz, faço como o Cunhal quando votou Soares: voto no PC, que e o único que defende a Nação Portuguesa! Ah, se o Jerónimo alinhasse na velha sigla "o Rei e os sovietes"...

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)

Anónimo disse...

Cá por mim e pelo andar da carruagem, Hollande não chegará à segunda volta em 2017. Está a ficar sem votos à sua esquerda e o que lhe resta no PS nào é suficiente. Marine Le Pen terá como adversários Sarkozy ou Juppé. Como aconteceu em 1995. Com outros nomes, a História repete-se. Muito mais grave é o facto de o Mundo estar muito mais perigoso agora do que há vinte anos.
Um abraço
JPGarcia

Defreitas disse...

O sinal enviado pelo duo Holandês-Valls parece simples:

Os "valorosos" combatentes da esquerda socialista, Montebourg e Harmon, como Melenchon, foram expulsos porque não eram coerentes com a linha politica do presidente. E esta linha estava mais próxima dos industriais e do "Made in" France.


A nova linha politica que será defendida pelo novo ministro da economia será a dos financeiros.

Emmanuel Macron, Ex diretor do Banco Rothschild, e o novo conselheiro financeiro de Holanda, conselheiro do Bank of América, vão aplicar a nova política.

A França encontra-se assim na mesma trajetória da Grécia. Mais esforços para os pequenos e mais privatização dos benefícios para os "nantis".

A operação "desconstrução " do social vai continuar e será intensificada. O "contrato" com o MEDEF impõe a redução dos encargos sociais e as ajudas as grandes e pequenas empresas. 400 mil milhões já foram "disponibilizados ". O mana vai continuar.

O partido socialista francês prepara o caos que sucedeu a dissolução da assembleia nacional por Chirac.


Apetece-me gritar :"Aux armes citoyens" !






Anónimo disse...

Dear Francisco, I read your text very carefully and my interpretation (as you know, I am the Big Hermeneuthist!) is that you finally came to agree with my views. Perhaps you are not still aware of that and you will reject my reading. That is called "self-denial" : don't lie to yourself. All my best regards from Gengenbach

a) Wolfgang

Anónimo disse...

O titulo é muito bom... Felizmente para os franceses e para os emigrantes, a França é o celeiro da Europa, com ou sem ministro da Eonomia.. Os ministros das finanças vão ainda tendo lugares cativos em organizações internacionais de renome. Enquanto isso; "la vamos cantando e rindo", nem que seja com alguns comentarios aos apontamentos do "nosso" embaixador!

Anónimo disse...

Caro FSC e caro Alcipe
Estando eu de férias, a 'velha senhora', minha velha amiga médica, não vê blogues, pois nada entende nem quer entender de internets.
Agora regressado, li-lhe este post, já de há dias, que provocou a senhora e a fez poisar o copo de Alvarinho e comentar:

votar seguro ou votar costa é tudo igual?
falar de frança impede opção em portugal?

por cá desliza, liso, o 'nosso' embaixador
helàs! sem nos dizer porquê e a quem se opor.

o 'meu' comentador - e amor, ai, de algum dia -
os pontos põe, porém, nos is com ironia:

wolfgang, mata, alcipe e outros mais vinhais
não deixam sem resposta os menos bons sinais.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...