terça-feira, agosto 19, 2014

Património

Foi hoje anunciado que o Ministério dos Negócios Estrangeiros terá sido o departamento do Estado que vendeu mais imóveis, num total de 11 milhões de euros. Estou mesmo surpreendido em que não tenham já passado a patacos o Palácio das Necessidades ou o Palácio da Cova da Moura - que davam dois belos hotéis. Mas, se calhar, estou a dar ideias...
 
Imagino que algumas almas piedosas estejam satisfeitas pela delapidação do património público da diplomacia e apoio consular português levada a cabo nos últimos anos, no estrangeiro e no país. Em alguns casos, trata-se de bens que estavam ligados à memória portuguesa em muitas cidades, que uma política externa consequente - melhor, que uma política externa "tout court" - vai ter de reconstituir um dia, com custos agravados para o erário público de então. Mas, por essa altura, os Torquemadas financeiros que estiveram de passagem pelas Necessidades já se terão posto ao fresco. E, com eles, alguns tristes Quislings que por lá ajudaram e ajudam alegremente à festa... 

21 comentários:

patricio branco disse...

creio que não voltará um dia a reconstituir-se, enveredámos definitivamente pela venda a pataco, pela liquidação, alienação, não só dos imoveis mas tambem do exercício útil e digno duma politica externa, estamos a adaptar o conteúdo ao contentor, a politica vai ser fechar, vender, ter um minimo de politica externa diplomatica e consular...

Alcipe disse...

Muito bem!

Anónimo disse...

A actual política de venda de património e de abandono de espaços dignos que alugavamos será o legado que a actual Secretária Geral e o Director do Departamento de Administração irão deixar para o futuro, como marca da sua passagem pelos lugares que ocupam.

Anónimo disse...

Se o Ministério das Finanças fizesse bem as contas, em vez de vender comprava todos os anos um ou dois imóveis para as representações diplomáticas e consulares portuguesas.

Os custos das rendas são muito mais onerosos a longo prazo.

Anónimo disse...

Caro Senhor Embaixador,

A receita de 11 de milhões de euros foi obtida, maioritariamente, com a alienação de património em solo estrangeiro, do qual cumpre destacar a venda da antiga residência do Cônsul-Geral em Nova Iorque, que arrecadou cerca de 8,9 milhões de euros. A decisão que precipitou este "downsizing" data de 2012, sendo da responsabilidade do Dr. Paulo Portas.

Infelizmente, os tempos são o que são e - a meu ver - o Estado necessita de fazer face a encargos extraordinários do conhecimento geral. Os edifícios em causa não constituíam património de relevo histórico, pelo que, de uma perspectiva cultural, não creio que tenha sido uma grande perda. Do ponto de vista diplomático, acredito que daqui não resulte grande prejuízo para o desempenho das funções de representação; já outros cortes afectaram o MNE de forma mais gravosa...

Por fim, e já que falamos de património, todos os dias tenho pena de ver o estado de degradação dos azulejos das Necessidades. O palácio aparenta estar sempre em obras, mas aguarda a intervenção de um restaurador que salve aquela que é uma forma de arte exclusiva do barroco português.

Com os melhores cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

Defreitas disse...

O tema do "post" precedente era "Os postos" , claro. Mas para là dos "postos" e das "funções" teria sido interessante que se falasse um pouco da diplomacia. Para que serve , por exemplo. Porque nestes últimos tempos, sem recuar até Metternich , Talleyrand e mesmo Kissinger, a impressão que tenho é que os diplomatas de muitos países são, hoje, os obscuros agentes das forças económicas e financeiras que dominam os governos, e que a única diplomacia que existe é portanto a do "quero e posso"dos países dominantes.

Deve ser muito difícil , por exemplo, de representar um pais que vive à custa da "compreensão" internacional, que o obriga a adoptar posições diplomáticas nos organismos internacionais em harmonia com a ajuda recebida! Mesmo o envio da GNR para o Iraque obedeceu a esta "obrigação"! Ou a utilização do espaço aéreo para voos "especiais" que um pais verdadeiramente independente teria normalmente recusado. Aqui, a diplomacia baixou a cabeça, humildemente. Não existe.

(Quando penso "diplomacia" um nome vem ao meu espírito : Frank Carlucci, em Abril 1974, em Lisboa, nomeado por Kissinger para pôr os travões à revolução dos cravos! E os esforços perdidos de Otelo para fazer partir o embaixador americano de Lisboa). Sem resultado. A diplomacia é apanágio dos grandes.

E ela não existe, porque o pais real também desaparece aos poucos. Vende-se tudo. As infra-estruturas como os homens. A juventude já o compreendeu, como ontem também a classe trabalhadora , nas décadas de 60, o tinha compreendido. Dentro do pais não existe possibilidade de existir dignamente. Duma certa maneira, um antigo primeiro ministro fez o mesmo, por ambição desmedida, preferindo a desonra de abandono de posto .Outros, da alta classe, da finança e dos negócios, vão para poleiros mais elevados : FMI, BCE, Bancos de renome ,organismos internacionais , etc.
E depois há ainda os que continuam a sugar a besta. A valsar com os milhões que não lhes pertencem.Os BES e os comparsas.

Ficam só os que conseguiram "safar-se" a tempo, inserindo-se no sistema , como podem, aproveitando tudo o que se oferece num pais que não sabe o que será amanhã. E depois há os que trabalham, por uma côdea, lá onde existe ainda algum trabalho. resignados, porque já se faz tarde para partir.

Que diplomacia pode ter um pais que não conta no concerto das nações, senão como "apoint" de voto nas instâncias internacionais ?

Anónimo disse...

Esta questão, que oportunamente aqui registou, é realmente lamentável. Paulo Portas foi o grande impulsionador dessa ideia, embora parece que Amado já teria dado o pontapé de saída, corrija-me porém se estiver enganado. Mas, como disse, Portas foi o maior responsável. Sem qualquer sensibilidade para o lugar que aqui ocupou, por pouco tempo (antes da sua irrecusável e teatral “saída-entrada”) sob todos os aspectos, apenas para fazer curriculum, tomou decisões como essas, de bradar aos céus! Foi ainda o responsável por obras internas nas Necessidades que custaram um balúrdio ao erário público e que eram dispensáveis neste tempo de sérias restrições orçamentais por que passamos. Apenas ara embelezar a Secretaria de Estado! E gastou ainda mais dinheiro com a segurança por tudo o que é entrada no MNE, outro disparate de dinheiro, aqui, com a supervisão do seu amigo e secretário de estado Morais Leitão, uma figura política cujo comportamento para com a hierarquia do MNE foi inconcebível. O actual titular do MNE terá sido obrigado a vender mais alguns imóveis a mando da dupla de insensíveis políticos como o PM e a ministra das Finanças.
Talvez, pegando no que escreve, se possa pensar agora em vender ao Grupo Pestana o Palácio das Necessidades. Paulo Portas poderia servir de intermediário!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Henrique Souza de Azevedo: embora o numero apresentado fosse de 2013, o meu comentário era igualmente sobre o que foi feito em anos anteriores, sobre alienação de vários outros edifícios diplomáticos e consulares, bem como a entrega às Finanças do Convento de S. Francisco, onde tudo estava preparado para alojamento condigno de vários serviços e, em especial, para que o MNE pudesse ter finalmente um auditório.

Anónimo disse...

Caro Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,

Nesse ponto estamos de acordo: que eu saiba, de momento, o MNE tem apenas duas salas no claustro que são usadas para reuniões, acções de formação e uma ou outra conferência. Há ainda os salões do Protocolo e uma sala do IDI. Um auditório espaçoso e confortável seria certamente de grande utilidade. Talvez, noutra conjuntura, a obra venha a ser feita.

Entretanto, é peremptório equilibrar as contas do Estado e a alienação de certos edifícios é uma forma de obter um cash-flow rápido.


Com os melhores cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

Anónimo disse...

Convento de S. Francisco ou do Sacramento????

patricio branco disse...

existia umas decadas atrás, tempo de marcelo caetano rui patricio, um imovel do mne situado creio que na zona de sintra/colares, o seu destino seria ser usado como residencia oficial do mne, ou lugar protocolar para recepções, no entanto nunca ou quase não chegou a ser usado e possivelmente foi alienado. alguem sabe desse palacete mistério?

o mne devia sim ter um auditório, peça fundamental de reuniões e trabalho, conferencias, coloquios num lugar como esse.
é uma falha.

a residencia do cg em ny era num edificio famoso pela arquitectura e exclusividade, foi usado como cenário da pelicula rosemary's baby de roman polanski e onde john lennon era lá proprietário de apartamento onde viveu, talvez ainda a japonesa sua mulher viva, é sabido. anteriormente foi residencia do embaixador nas nu.

os azulejos estão em muitos sitios no mne mas uma cozinha interior é um portento de obra de azulejos, merecia aqui uma fotografia. já foi armazem e é sitio de passagem.

foram cometidos actos verdadeiramente violentos no que respeita ao patrimonio, sobretudo com amado e portas. a famosa reforma consular queria mesmo abandonar (vender não, não seria possivel) o pavilhão de 1929 de portugal em sevilha, um edificio precioso que só à justa se salvou.

antes os imoveis eram para bancos, compravam tudo para abrir balcões, depois foram para condominios de luxo, agora são para hoteis. há anos ouvi falar dum plano para vender parte do terreiro do paço, dos ministerios, para hoteis e habitação de luxo...

Francisco Seixas da Costa disse...

Claro que era (já não é, foi "devolvido" às Finanças por um SE)o Convento do Sacramento e não de S. Francisco

Defreitas disse...

Ao ler o "argumento de venda do património" desenvolvido pelo Senhor Azevedo, não posso deixar de pensar que todas estas vendas ao desbarato (cash flow rapido) do património nacional darão o resultado conhecido: sacrifica-se o futuro sem ganhos para o presente.

De facto, quem pode acreditar que a venda das jóias da família para fazer entrar dinheiro fresco imediatamente vai resolver o problema do crescimento, indispensável para o futuro económico do pais, vai resolver a crise social, assegurar a felicidade da população, um quarto da qual vive já abaixo do patamar de pobreza?

Não será antes o facto que o governo , excede as exigências da Troika , com um zelo que se assemelha à colaboração - um pais ocupado procura sempre a prevenir os desejos do ocupante - em vez de procurar por todos os meios a renegociação da dívida ?

Espero que se alguém se lembrar de privatizar o meu Castelo, onde nasceu Portugal, como alguns alemães tinham pensado obrigar os Gregos a privatizar a Acrópole , haverá ainda muitos Portugueses para provocar mais uma batalha de São Mamede para o impedir.

domingos disse...

Alguns comentadores criticam aqui a "diplomacia" portuguesa ou a falta da mesma. Julgo que sendo a diplomacia apenas um dos instrumentos da política externa, talvez o principal, o que se deveria criticar seria a pobreza, se não mesmo a ausência, de uma verdadeira política externa. Ora isso só pode ser assacado ao poder político e aos seus delegados no MNE. Creio que o próprio SG, que noutros tempos conseguia ser um representante da experiência
diplomática face aos desideratos do Governo, e como tal deter alguma margem de negociação, resignou-se actualmente a uma mera função de capataz da "maralha".

Anónimo disse...

Eu, como contribuinte (e não só) acho lamentável que se tenha vendido (ou, melhor, dado) este património que nunca mais recuperaremos. O que é esse valor face a outras despesas como, por exemplo, os juros do dinheiro que emprestámos ao Banco Novo e que devemos à troika? Nunca se deve vender quando estamos aflitos - aliás, nunca se deve vender património como este, "tout court". Lamentável também o encerramento de várias embaixadas, consulados e missões, que custam muito mais a reabrir, como custará muito mais, também por exemplo, comprar uma nova embaixada em Bruxelas ou um novo consulado em NY, o que teremos que fazer mais tarde ou mais cedo.
Parabéns e um abraço.

Unknown disse...

Caro Francisco

Hoje não comento, prontos (sem s)

Este texto, como sempre está muito bem esgalhado. Mas (há sempre uma desgraçada de uma adversativa...) quero fazer-lhe um pedido:

Quando sair o meu livro de crónicas veja se compra 13, pois serão muito úteis como prendas de aniversários, de casamentos, de baptizados, de primeiras comunhões, de crismas, de Natal, de Ano Novo, de bodas diversas, de velórios e de divórcios.

Além disso espero/ordeno que faça propaganda/publicidade do dito cujo. Para tanto mandarei-lhe (???) a data do lançamento onde gostarei que esteja. As suas Amigas e os seus Amigos também poderão fazê-lo. Se não o fizer - capo-o... rrrsss


Abç

Anónimo disse...

As Necessidades davam um hotel de charme soberbo, umas espreguiçadeiras no terraço e beber umas caipirinhas a olhar para o Tejo.

O Paulo Portas é que não esteve tempo suficiente para que o SE Morais Leitão pusesse mãos à obra. Uma dupla "fantástica" que passou rápido, mas deixou marca para o futuro.

a)Maria Irrevogável

EGR disse...

Senhor Embaixador: não tenho conhecimentos para entrar no detalhe mas acredito que tem razão por um motivo simples e prosaico: eles só não vendem cada um de nós porque não podem.
Mas, na parte em que puderem não hesitarão.
Tudo em beneficio da missão do PM, dos BES, dos GES, da Goldman Sachs, dos vistos "Gold" etc.etc.

Anónimo disse...

Quando estava à venda o edifício do Banco de Portugal em Vila Real eu ainda propus que fosse transformado numa discoteca que se chamasse "Banco de Portugal". Assim não se perderia, pelo menos, a referência: Onde vais hoje à noite? Vou beber um copo ao "Banco de Portugal". (claro que na tertúlia propus outra coisa...)
antónio pa

Alcipe disse...

No século XIX a palavra de ordem dos liberais era "Enrichissez-vous!" (Guizot)

Hoje a palavra de ordem dos liberais na Europa (sublinho na Europa) é "Apauvrissez-vous!"

Anónimo disse...

Que tiro tão certeiro! É de facto assistir a este assassinato do património do Estado Português.

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...