Olhando para as redes sociais - acho graça ao conceito: aqui há uns anos, "ter redes sociais" significava ter bons contactos no eixo Lapa-Linha ou Gomes da Costa-Foz - dou-me conta do desprezo que muitos votam ao debate de ideias concretas na contenda pela liderança do PS.
(Quando falo de ideias concretas não me refiro a platitudes, como "ser contra esta austeridade que falhou ", "ser favorável a estímulos ao crescimento da economia", ter "políticas amigas do emprego", "relançar políticas públicas sustentáveis", "afirmar uma voz ativa na Europa" e outras coisas deste estilo piedoso. Ideias é mostrar, no concreto, como é que os candidatos do PS a primeiro-ministro querem construir um orçamento alternativo para 2016. É isso que se lhes pede.)
De ambos os lados do cenário, perpassa cada vez mais a mensagem de que o importante é a personalidade dos competidores, a sua resiliência (o termo entrou no léxico político recente e já fede) perante as dificuldades, a imagem de competência e/ou firmeza e/ou determinação e/ou simpatia que projetam. Ah! e a confiança, que é assim a modos como uma fezada com prazo de validade indeterminado, isto é, até ao dia em que, confessando ou não, os políticos deixam de fazer aquilo que prometeram.
Conduzido o debate para este terreno fulanizado, os próceres e os próprios candidatos foram levados a pisá-lo, mesmo com algum despudor. António José Seguro foi o primeiro a fazê-lo, com acusações personalizadas que pareceram às vezes tocar questões de caráter. Não foi bonito de ser ver. António Costa resistiu mais, mas, nos últimos tempos, começou já a emitir alguns juízos sobre a figura do seu adversário, contestando a sua consistência política. Apesar de tudo tem sido mais contido. Quanto às "cortes" respetivas, então bem uma para a outra. Dizer que tudo isto era inevitável, numa campanha deste tipo, é apenas uma forma "self-deprecating" de insultar o PS. O PS, que foi e é um grande partido da História contemporânea portuguesa, é muito melhor que este "concurso de misses" que parece estar em curso. E convém lembrar que Costa e Seguro, como sói dizer-se no povo, "são do melhorzinho que por lá há", pelo que têm obrigação de estar à altura do desafio.
Os debates que aí vêm são assim uma oportunidade soberana para os candidatos à liderança do PS fazerem uma "desmontagem" criativa da ação do governo e, em cada passo, dizerem concretamente como tencionam corrigir o que foi mal feito. Isso nem parece muito difícil, perante os tão catastróficos resultados da ação governativa. Explicar que, no "novo oásis", as taxas de juro relevam exclusivamente da Europa (como os outros "ajustamentos" mostram à saciedade) e que os números do défice (ainda assim, muito maus) têm obrigatoriamente de ser comparados com a dívida mostruosa que este governo criou para as gerações futuras, não se afigura tarefa impossível. Ah! E há o desemprego! De facto, depois de o ter feito disparar a cifras imemoriais, ele tem vindo a ser reduzido, ajudado pela emigração maciça. Ainda bem! Por este andar, um destes dias, vão mesmo conseguir aproximá-lo dos níveis herdados do governo Sócrates...
8 comentários:
só faltava o discurso do "concreto" e comparar costa ao seguro, que falta de imaginação sôr embaixador.
http://vaievem.wordpress.com/2014/08/26/antonio-costa-e-o-jornalismo-concreto/
Estes serão do melhor que lá há; mas felizmente há bem mais outros que não lhes ficam atrás. Não serão muitos, mas chegarão. Concorda, Embaixador? E esperemos que se cheguem à frente. Concorda, de novo?
Ai não se pode "comparar" Costa a Seguro?! António Costa tem ascendência indiana, mas não me parece que se reveja no estatuto de "intocável" que alguns parecem querer atribuir-lhe. Quanto "concreto", que chatice, não é?
Ainda estou para ver o político, seja ele de que partido for, que cumpra na sua plenitude o que propõe quando se candidata.
Por alguma razão a abstenção continua a crescer e as pessoas a marimbarem-se para a política.
"Ideias é mostrar, no concreto, como é que os candidatos do PS a primeiro-ministro querem construir um orçamento alternativo para 2016. É isso que se lhes pede."
Esta visão do "concreto" que limita e reduz tudo às soluções do curto prazo (do orçamento que se segue) é que nos trouxe aqui. Para isso já chega o desgoverno que nos conduziu à situação presente.
Ela sacrifica o futuro com a urgência de resolver o presente. Mas sobretudo deriva da falta de visão e de uma estratégia de médio e longo prazo para o País e para os problemas endémicos que a nossa economia sofre há mais de uma década.
O mais importante não é "como se constrói um orçamento alternativo para 2016". Isso não servirá para nada se esse orçamento não se inserir numa estratégia de mais longo prazo para estimular o crescimento económico e dar maior competitividade à nossa economia. Este objectivo tem de ser sustentado em políticas que vão muito para além do horizonte da vigência de um orçamento anual. Não entender isto é não entender o essencial.
o sôr embaixador pensa como a direita, reage como a direita e afirma-se de esquerda. será que ainda não se deu conta que defende e divulga diariamente, com rarissímas excepções, os argumentos da rapaziada que nos governa? concreto é cimento e cimento é conversa de trolha, fale de ideias e deixe as misses para os correio da manhã.
ps - na volta era ironia da fina e cá o grosso nã percebeu.
Frau Merckel alinha-os todos da mesma maneira : Em sentido, os braços bem estendidos ao longo da costura das calças. Por vezes, alguns chegam a parada com as calças na mão! Então ela goza ...
Oh,continuando com a metáfora temo que não vá haver desfile de fatos de gala muito menos de trajes de noite e neste enquadramento sigam logo para mono(s)quinis, bem, ou fatos de banho...
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