Tudo indica que Carlos Moedas será o próximo comissário europeu indicado por Portugal - e não, como por aí se diz erradamente, o "comissário português". No momento em que escrevo, não há indicação do setor técnico que Juncker lhe vai destinar.
Conhecendo, como ainda julgo conhecer, algo do processo decisório em Bruxelas, escrevi há umas semanas aqui que "Portugal tem hoje muito poucos argumentos e (lamento dizê-lo) muito escasso prestígio na grande mesa europeia e, estranhamente, vai ter ainda de "pagar", aos olhos de muitos, a década de Barroso à frente da Comissão". Por essa razão, e por muito que Juncker gostasse de ter Maria Luís Albuquerque no seu grupo, nunca tive a mais leve ilusão de que Passos Coelho iria conseguir impô-la para uma pasta de prestígio. O suposto braço-de-ferro com o futuro presidente da Comissão só podia terminar como terminou.
Como então assinalei, "os vários países têm uma capacidade muito diversa para pressionar o presidente da Comissão para obterem aquilo que pretendem. Ou alguém acha que a Alemanha, a França, o Reino Unido ou a Itália não vão obter um bom portfolio? Ou, se o não conseguirem, que não serão compensados com lugares cimeiros, como os de presidente do Conselho europeu, presidente do Eurogrupo, Alto representante para a Política externa e outros postos chave da máquina comunitária que estão sempre sobre o tabuleiro, na Comissão ou no Conselho?"
Carlos Moedas é uma figura intelectual de mérito e uma personalidade de extrema afabilidade. Isso não são fatores despiciendos numa Comissão onde a margem de manobra depende muito da capacidade de relação dentro do colégio de comissários. O facto de falar francês e inglês de forma irrepreensível garante que Portugal coloca em Bruxelas alguém que não vai fazer "má figura". Posso revelar que, dentre os vários membros deste governo com quem tive oportunidade de interagir, enquanto embaixador em Paris, e independentemente do conteúdo da política que lhe era dado defender, Carlos Moedas foi dos que deixou uma marca mais forte de profissionalismo e competência, aos olhos dos seus interlocutores. E isso vai ser importante, porque Portugal não se pode dar ao luxo de colocar em lugares internacionais de topo personalidades que não "puxem" pela imagem do país.
Dito isto - e com o "disclaimer" de quem tem uma grande consideração pessoal pela figura de Carlos Moedas - não posso deixar de lamentar que, nos próximos cinco anos, Portugal venha a ser representado na Comissão europeia por alguém que co-titulou uma linha negocial errada, que condenou os portugueses a uma nefasta receita de austeridade, que poderia ter sido evitada no grau e no ritmo com que se processou. E que, no seio da União Europeia, para ser coerente com o que sempre pensou e disse, vai continuar a favorecer essas políticas, nomeadamente as que se opõem à renegociação da dívida portuguesa, condição essencial para o país poder "respirar" nas décadas que aí vêm.
Uma última nota. A escolha de um nome do PSD faz parte da "lei da vida" política, que favorece os governos de turno. Só quem não conhece as regras do jogo é que acreditou na hipótese de Passos Coelho vir a indicar alguém do PS para Bruxelas. Pelo menos, o atual primeiro-ministro teve a decência de não alimentar o "trompe l'oeil" que Durão Barroso protagonizou cinicamente há uma década, ao dar ares de que apoiava António Vitorino para a presidência da Comissão quando, por detrás, manobrava já para garantir para si próprio esse mesmo lugar.
10 comentários:
Pouco ou nada serve a Portugal e à Europa tanto tocar piano e falar francês, quando aquilo que defende o senhor arrasta os povos para a miséria; depois de Barroso, o projeto europeu merecia que Portugal indicasse alguém de rosto humano. Mas é só ingenuidade minha...
David Caldeira
Quem sabe nunca esquece...
Os políticos são mal renumerados, tem muitas horas extras que lhe não são pagas, etc., etc.! Pois é, mas depois vem a recompensa. Mas atenção, em tempos de "paz"...E, depois, a "família" é que conta! Então tinha algum jeito colocar alguém que não fosse dos seus!?
Vou "roubar"
há as estrelas principais, os actores com papeis secundarios, os figurantes, os stunt, pensávam pôr uma estrela que merecesse e lhe fosse oferecido um papel primario, percebeu se que não lho dariam e foi poupada à pequena humilhação ou desaire, como reserva apresentou se um actor de papel secundario, ou figurante, pena não terem outra estrela mulher para o papel secundário, a distribuição equilibrada de homens e mulheres é correcta, acharam que não havia mais nenhuma mulher, claro que há, este governo já se percebeu que é machista, por favor anda por lá uma que trata da agricultura e algo mais, a sra candeias, se não me engano, embora não haja politicas nenhumas nessas áreas, vejamos então a distribuição dos papeis no cenário de bruxelas, por mim o sr moedas está melhor lá que por cá apesar de tudo.
efectivamente, depois de barroso, corresponde 1 travessia do deserto, alem do escasso peso no clube que tem o membro portugal, como se diz acima, etc
Caro Dr. Seixas da Costa,é positivo elogiar Carlos Moedas, mas ao mesmo tempo tira-lhe o tapete.Eu penso que qq representante do país fará o seu melhor.
Vejo que muitos só olham para o seu umbigo e não enchergam que o seu salário ou pensão é pago com dinheiro alheio.Gostaria que as Finanças publicassem quem comprou os milhares de carros caros e se eram do público ou privado.Já o disse uma vez; se a minha Rua servir de exemplo,MUITOS foram comprados por pensionistas e funcionários públicos com bons rendimentos. O país não tem capacidade para manter esta situação.
Eu se quiz ter melhor pensão tive que optar pelo Estado depois de ter 32 anos no privado.Por 16 anos no Estado recebo o dobro.
Se Eu não tivesse enfiado os meus filhos no Estado, hoje tinha problemas. Sejamos sérios.
Cumprimentos
Caro opjj: eu não "tiro o tapete" ao Dr. Carlos Moedas. Digo abertamente o que penso dele como pessoa e o grau de respeito que as suas ideias me merecem. Comigo, as coisas são muito claras, mas isso não significa que tenham necessariamente de ser a preto-e-branco.
Ora aí está...
"faz parte da "lei da vida" política,
que favorece os governos de turno.
Só quem não conhece
as regras do jogo é que acreditou "
in FSC
Para quem irá ficar com um portfolio estilo política do consumidor tem pouco relevo saber se o figurante será Moedas ou não. Barrete foi o que os jornais andaram a papar durante uma semana como se houvesse a mais leve intenção de a nomear para Bruxelas. O lugar de Comissário da Política Regional há muito que está tomado com a reinvestidura do actual, designado pela Áustria e concomitante indicação pela República Checa da atual ministra do Desenvolvimento Regional. Como português não posso deixar de pensar se fará sentido continuar a ter razão de ser o nosso País quando deitamos pela janela fora pessoas qualificadas e competentes que teriam mais credibilidade do que um vago Secretário de Estado propulsado pelos laços de fidelidade a um Primeiro-Ministro obstinado e mal preparado. Casos de Maria João Rodrigues, Graça Carvalho, Silva Peneda ou Elisa Ferreira.
Parabéns pela sua memoria e pela sua honestidade intectual, Senhor Embaixador!
Enviar um comentário