quinta-feira, outubro 14, 2010

Reformas

Um dos fenómenos mais curiosos, no âmbito dos movimentos sociais que têm vindo a contestar a legislação para o alargamento da idade da reforma em França, foi o aparecimento, nesse contexto, dos estudantes liceais.

Independentemente das questões de fundo deste debate, confesso que não pude deixar de dar uma gargalhada ao ver uma jovem de 16 anos, inquirida sobre a razão pela qual aderia aos protestos, dizer na televisão: "eu, quando chegar aos 60 anos, quero ter o direito de não trabalhar mais!". 

Para alguém ainda longe de entrar no mercado de emprego, não está mal!

18 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Se daqui a cinco anos, com um canudo na mão, estiver desempregada...pode ser que se lembre dessa inteligente resposta!

Anónimo disse...

Por mim, não me importo de trabalhar até aos 67/68. Tudo depende, naturalmente, do tipo de trabalho.
P.ufino

Anónimo disse...

Neste caso, ela e muitos outros são manipulados e não compreendem grande parte do problema. É muito fácil de usar juventude irreflectida!
Será que aproveitem o contexto actual para exprimir a principal preocupação: o futuro é muito incerto.
Esta geração está a perder o seu "rdv" com o emprego/trabalho "là" aonde a anterior, em particular a da após-guerra, conseguiu garantir acrescimento para todos.
Une jeunesse en quete de sens ?
C. Falcão

Anónimo disse...

Pouco proativa a garota!!!...Ai não
Isabel Seixas

Pedro disse...

chama-se ter consciência :)

Julia Macias-Valet disse...

Nem me fale(m) em reformas, blocus e manifestaçoes porque enquanto mae de um "lycéen" e candidata ao Conselho de Administraçao de um dos grandes liceus do XVIème (eleiçoes amanha e depois dos representantes dos pais dos alunos) nao dou maos a medir !!!

Ou porque é que pensa(m) que desapareci...

Julia Macias-Valet disse...

No meio de tudo isto gostei de alguns cartazes da manifestaçao estudantil de terça-feira passada:

"SARKO TA RETRAITE ON VA S'EN OCCUPER !"
ou
"LES VIEUX AU BISTROT, LES JEUNES AU BOULOT !"

E outros... pouco proprios para serem repetidos aqui mas com muita piada.

Cunha Ribeiro disse...

Peço desculpa de não estar de acordo com o Sr Embaixador e com Helena Sacadura Cabral:

Primeiro, é bom podermos ter opiniões o mais cedo possível na nossa vida;
Segundo: Como ideal de civilização, o que disse a "gamine" é de aplaudir.

Julia Macias-Valet disse...

Eu estou com Cunha Ribeiro...afinal a vida passa depressa (quantos dos mais velhos nao dizem "parece que foi ontem que comecei a trabalhar...")

Actualmente o problema é entrar no mercado do trabalho mas dentro de pouco tempo vai ser SAIR do mercado do trabalho.
E os que conseguirem sair, vai ser "METRO, BOULOT, CAVEAU" : (

Patrick disse...

Se os trabalhadores forem obrigados a prolongar sua idade laboral até os 70 anos, certamente vão reter vagas no mercado de trabalho que poderiam ser ocupadas por profissionais mais jovens. Parabéns à juventude francesa!

Anónimo disse...

Ora com o nosso espirito desbravador não tarda a haver manifestações com as sras grávidas ou seja o futuro in útero e as educadoras de infância com o seu Universo na linha da frente vivam as manifestações ao longo do ciclo vital com representatividade global de todos os segmentos de população...

E aliás porque não a reforma pré emprego por antecipação com um travo a prevenção do trabalho é que nos tira o prazer e a liberdade do rien faire.

Esgotadas todas as possibilidades continuemos a incluir e não a ocupar com um o lugar de dois que coisa execrável da economia hipócrita principalmente quando os dois precisam sobreviver.
Isabel Seixas

Gil disse...

Eu estou de acordo com a "piquena".
Citando um autor do sec.XIX:

"Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda a degenerescência intelectual, de toda a deformação orgânica. Comparem o puro-sangue das cavalariças de Rothschild, servido por uma criadagem de bímanos, com a pesada besta das quintas normandas que lavra a terra, carrega o estrume, que põe no celeiro a colheita dos cereais. Olhem para o nobre selvagem, que os missionários do comércio e os comerciantes da religião ainda não corromperam com o cristianismo, com a sífilis e o dogma do trabalho, e olhem em seguida para os nossos miseráveis criados de máquina".

De facto,o trabalho é tão alienante que os próprios pobres coitados que o sofrem o consideram honroso e moralmente obrigatório.
Ora, isso é aberrante. Trabalhamos porque somos obrigados a trabalhar; ou, como diria o outro, numa frase que encerra mais sabedoria do que aquela que transparece à primeira vista, "só trabalhamos porque não sabemos fazer outra coisa".

LP disse...

Estive práqui (lembram-se? http://duas-ou-tres.blogspot.com/2010/10/palavras.html) a pensar e acho que já percebi estas medidas da idade da reforma: cada vez mais vejo meninos imberbes a atenderem e darem a cara, quiçá (esta é legitima né?) por falta de profissionais com experiência de vida...

Quanto à jeune fille, tenho uma história, tinha eu práí 28/29 anos:
Ao olhar para o meu rcb de ordenado, verifiquei que o vencimento por mim solicitado estava dividido em duas partes; uma como vencimento, outra como ajudas de custo para deslocações. Abeirei-me do patrão e questionei as parcelas. Este, muito naturalmente e com aquele sorriso sarcástico, observou-me que o valor por mim solicitado, estava lá. Concordei que de facto os nºs. eram aqueles mas, os descontos para a Seg.Social ficavam viciados e isso iria ter repercussões na minha reforma e ou em caso de vir a estar incapacitado para trabalhar. Esbugalhou os olhos e comentou: - Ó homem então você tem 28 anos e já anda a pensar na reforma!?

D Luz disse...

Não será legítimo e desejável os mais novos pretenderem ter os mesmos direitos que teve a geração precedente? Em França e na generalidade dos países do euro, o desemprego entre jovens é o dobro do da faixa etária acima. Comparemos com a geração que tem hoje 50-65 anos, que facilmente entrou no mercado de trabalho - um mercado protegido, nacional, sem competição com países emergentes que nadam em divisas enquanto esmagam os direitos humanos - e que sucessivamente se outorgou os mesmos direitos que agora diz terem de acabar. Só me surpreende que os estudantes não vão mais longe na contestação.

Helena Oneto disse...

Razões para rir só (vejo) os comentários de Gil, Lp e D Luz...

Anónimo disse...

O problema, que nao esta aqui a ser devidamente sublinhado, 'e que, se as sociedades nao se adaptarem 'a nova realidade do mundo, vao ter um decrescimo global de nivel de vida.
A alternativa e' tirar um coelho da cartola. Qual vai ser? Voltar 'as barreiras alfandegarias? Outra coisa? Enquanto nao se encontrar o coelho, ou se enfrentar de face as dificuldades, estas manifestacoes so' servem para libertar frustracoes e atrasar a solucao do problema.
Um abraco,
A. Pais

Guilherme Sanches disse...

Eu também já tive 16 anos, e se calhar até alguma vez levei algum cartaz,e também seria capaz de dizer que estava preocupado com a reforma.
E a seguir continuava:
- Água leva o regadinho, água leva o regador...
Um abraço

Anónimo disse...

Bem...O que um post suscita.
Por mim hoje vou trautear todo o dia o água leva...
Obrigada aos comentadores e ao dono do blogue, claro.
Impagável...
Até por lembrar a autenticidade sepultada dos dezasseis anos.
Isabel Seixas

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