O meu mais antigo amigo chama-se Olívio. Nascemos no mesmo ano, na mesma rua (amanhã saberão qual é) e, claro, não me lembro de mim sem o conhecer. O pai do Olívio tinha, lá na rua, uma casa de conserto de bicicletas, pelo que era conhecido como o "Olívio das bicicletas".
Entrámos juntos para a escola, embora o Olívio tivesse sabiamente optado, desde muito cedo, por um ritmo de conclusão dos anos letivos um pouco mais lento que o meu. Tinha, e tem, um jeito sarcástico no falar, um sorriso marcado por uma permanente ironia e uma imensa graça, às vezes ácida, que nunca deixou de espalhar. Fala às mulheres com delicadeza e isso teve as suas recompensas. Recordo uma madrugada de 67, na "Candeia", no Porto, vindo ele de Vila Real vender antiguidades (o seu hobby de estimação), com o dinheiro do negócio rapidamente transformado por nós em whisky e em outros produtos locais, com ele, generosamente, a financiar a minha curta bolsa de estudante.
Entrámos juntos para a escola, embora o Olívio tivesse sabiamente optado, desde muito cedo, por um ritmo de conclusão dos anos letivos um pouco mais lento que o meu. Tinha, e tem, um jeito sarcástico no falar, um sorriso marcado por uma permanente ironia e uma imensa graça, às vezes ácida, que nunca deixou de espalhar. Fala às mulheres com delicadeza e isso teve as suas recompensas. Recordo uma madrugada de 67, na "Candeia", no Porto, vindo ele de Vila Real vender antiguidades (o seu hobby de estimação), com o dinheiro do negócio rapidamente transformado por nós em whisky e em outros produtos locais, com ele, generosamente, a financiar a minha curta bolsa de estudante.
No final dos anos 60, acabámos por ir ambos para Lisboa, embora com vidas diferentes, em grupos muito diversos. Encontrávamo-nos no Montecarlo, cada um em sua tribo. Aí eu trocava livros e conversa, enquanto ele perdia as noites e ganhava a vida como grande especialista em dominó, atividade que já o tinha tornado famoso na nossa comum ter ra natal, Vila Real.
Depois, fomos para a tropa, era ele delegado de propaganda médica, estava eu no meio do curso e também já empregado. Sobrevivemos bem. Anos mais tarde, chegou-me a notícia de que o Olívio, que vivia na Luz Soriano, havia sido preso. Um lamentável equívoco, provocado por uma amiga solidariedade, ia-lhe destruindo a vida. 100% inocente, claro, foi solto, mas terá aprendido alguma coisa sobre os outros. Depois, montou um bar, o "Cocote", atrás da Caixa Geral de Depósitos, ao Calhariz. Todo o "emigrado" de Vila Real por lá passava as noites. Recordo-me (ele não vai gostar disto...) que tinha um dos piores whiskies "marados" de toda a Lisboa, pelo menos a julgar pelas dores de cabeça que me provocava. Depois, fechou a loja e entrou nas antiguidades e no comércio de pintura. Passava as noites no "Pavilhão Chinês", onde também exercia a sua bela arte de bilharista.
A saúde pregou-lhe uma séria partida e o Olívio regressou, entretanto, a Vila Real, só voltando a Lisboa a espaços. Encontramo-nos às vezes.
Ontem, num interlúdio televisivo, estava eu a ver um videoclip do grupo musical "Toranja" e quem topo eu, figurante, cabelo curto, já muito branco, bengala na mão, com o ar quase aristocrático? O Olívio. Pois é, Olívio, por esta é que eu não esperava!
Ontem, num interlúdio televisivo, estava eu a ver um videoclip do grupo musical "Toranja" e quem topo eu, figurante, cabelo curto, já muito branco, bengala na mão, com o ar quase aristocrático? O Olívio. Pois é, Olívio, por esta é que eu não esperava!
8 comentários:
Acho que é a primeira vez que vejo o nome próprio Olívio...
Interessante.
Isabel Seixas
Lá fui ver com atenção o vídeo
Mas cadê o Olíveo?
PLOMENOS ouvi e apreciei os TORANJA, de quem gosto.
Viva sr. Embaixador
Rua Avelino Patena,mais conhecida por rua das Pedrinhas,será?
Tenha 1 bom domingo,por aqui,VRL,chove abundantemente.
1 abraço (da sra da bata branca).
O romantismo não é desdenhável.
Podem perder-se caminhos reveladores. Facto que este vídeo já havia sido 'publicado' há uns meses, e, não fosse uma possível 'soupçonne' no gosto, já há muito haveria de ter detectado o excelso senhor 'parmi' o sépia do olhar e a rouquidão formidável do Bettencourt...
Voilá: tudo se resume a uma questão de laços.
Que às vezes nunca se devolvem.
Bela história.
Espero que por Paris não chova
Eu tive um amigo chamado Olívio! Era uma curte de pessoa. Self-made man ao arrepio de convenções masculinas (um Ziggy como na canção). Vendia legumes numa praça algures na cidade grande e usava um avental onde punha os trocos das freguesas. Gostave de arte e foi por isso que o conheci, longe do meio dele e do meu. Num espaço intermédio sem fronteiras. Perdi-lhe o rasto e gostaria de reencontrá-lo assim, num acaso.
O Olívio!...
Um ponto de referência, para todos os efeitos, da minha geração em Vila Real!...
Não pude reconhecê-lo no vídeo mas lembro-me muito bem dele nas disputadas tardes de snooker no Excelsior e no cantinho ao lado, quase reservado, onde pontificava no dominó!...
Caro Embaixador;
O Olívio, tal como me lembro dele nesses idos anos de 60/princípios de 70, é uma personagem de quase ficção, com perfil de cidadão do mundo a justificar e merecer perfeitamente, hoje, a lembrança deste Post!...
Abraço
João Queiroga
É mesmo o Grande Olívio.
Estava eu a pesquisar no Google sobre o Olívio de Vila Real e sai este video...
Não estou com ele desde 2005, mas passei tantas aventuras com o Olívio no bairro alto e no bar majong que tenho histórias suficientes para recordar durante muitos anos.
O Grande Olívio...
Albano Santos
Enviar um comentário