Fui daqueles que, ao tempo da sua construção, diabolizaram o Centro Cultural de Belém (CCB). Não só achava a obra uma megalomania tonta como desprezava a vontade de quantos haviam ousado estragar o equilíbrio dos Jerónimos com a proximidade "modernaça" de um mostrengo arquitetónico de duvidoso recorte neo-egípcio, que iria impedir o "diálogo" sereno com a Torre de Belém. Além do mais, pensava eu, o CCB ia ser uma "catedral no deserto", condenada ao vazio e ao fracasso como projeto.
Enganei-me redondamente: o CCB tem uma dimensão não conflitual com a monumentalidade vizinha (100 metros de distância mais dos Jerónimos não teriam, porém, ficado mal) e constitui hoje um polo da maior importância na modernidade portuguesa. Os lisboetas "apropriaram-se" dele e afeiçoaram-se por completo a esta nova centralidade.
Enganei-me redondamente: o CCB tem uma dimensão não conflitual com a monumentalidade vizinha (100 metros de distância mais dos Jerónimos não teriam, porém, ficado mal) e constitui hoje um polo da maior importância na modernidade portuguesa. Os lisboetas "apropriaram-se" dele e afeiçoaram-se por completo a esta nova centralidade.
Às vezes, temos de ter a coragem - e a decência - de "dar o braço a torcer". Faço-o hoje, com gosto, a propósito do CCB.
15 comentários:
Senhor embaixador. Parabéns por dar o braço a torcer. Poucos tem tamanha dignidade. Afinal, o mundo é dinâmico e que bom que sempre novas evidências surgem diante de nosso olhar. Quem diz isso é uma brasileira que conheceu Lisboa antes do CCB e que hoje é apaixonada por aquele espaço. Já assisti ali a alguns dos melhores concertos e espetáculos de minha vida.Durante o dia ou à noite aquele é um dos lugares mais bonitos do mundo. Em todas as minhas visitas à capital portuguesa faço questão de lá estar, visitar o Mosteiro, comer pastéis, visitar o CCB e a mágica Torre, mesmo observando com distância. E como o mundo é dinâmico, de um ano para cá, também frequento o Starbucks que, inicialmente, causou em mim certo estranhamento. Mas passou a fazer parte do ambiente. Mais uma vez parabéns!
Mágda Cunha, jornalista, professora e pesquisadora/PUCRS Porto Alegre/Brasil
Foi esse sentimento descrito a reação de muita outra gente, incluindo-me eu. Hoje, porem, sem o CCB estaríamios mais pobres de espaços culturais.
Talvez pudesse ter ficado um pouco mais afastado no sentido da largura da praça, dando mais folga e independência aos jerónimos. Mas está 90% integrado na paisagem monumental, urbana e fluvial que o circunda
Todos os paises e cidades necessitam dum centro cultural ou museu emblemático que se torne uma mais valia. E muitos governantes, desde os egipcios, gregos e romanos, gostam de marcar os seus mandatos com determinadas obras grandiosas e caras mas que depois são assimiladas e enriquecem (arcos do triunfo, torres eiffel, torres de belem, partenons, e até o malogrado Dome de Londres)
Muito bem. Adoro o CCB e passei la' muitas tardes a estudar quando frequentava o ISCSP nos anos 90. Confesso que o TGV e o novo aeroporto causam em mim a mesma preocupacao. Obras megalomanas que o pais nao precisa. Mas o CCB e' um espaco soberbo e ainda bem para Lisboa!
E pena que o MNE nao envie para algu-mas capitais embaixadores como V.Exa(caso existam).E mutatis mutandi "dei por mim a pensar que Portugal se permite, com grande frequência, não utilizar, em funções determinantes para a condução ou orientação do país, algumas figuras cuja estatura seriam uma mais-valia para o serviço público..."alem da mera funcao de re-presentatividade.
Bom dia caro Embaixador,
Sou mais um que dou o braço a torcer.
Na altura e até há dois anos vivia perto do CCB e fui corrigindo o tiro.
Hoje, alentejano adoptivo, sempre que visito Lisboa é com prazer que vejo o CCB.
Cumprimentos
Senhor Embaixador
Estou consigo. Também eu pertenci ao grupo de dissidentes.
Continuo a não gostar do monstro, mas aprecio hoje o papel de aglutinador cultural que o CCB representa.
E como na zona vamos ter a Fundação Champalimaud...
Quando visitei a primeira vez o Centro Cultural de Belém, no princípio dos anos 90 logo após a sua conclusão, na companhia de um amigo francês, arquitecto, fui convencido por ele, com seu ar conhecedor, que se tratava de uma obra de muito bom gosto. Argumentava que as críticas surgem sempre nas obras importantes; também foi assim com o Centre Pompidou e com a Pirâmide do Louvre. Deixa passar as críticas e verás.....disse-me.
Já não aceitei de bom grado outra opinião sua que lamentava a evolução social de Portugal. “Antes as pessoas curvavam-se e agora não, o turista francês tinha mais poder de compra, era um país mais exótico...”
Teria razão acerca da arquitectura mas não gostei da sua análise social que não sei porque razões já não via as pessoas curvadas e eu, decerto por outros ideais, ainda as via muito submissas...
É, também gosto do espaço e da ambiência,da luz verde azeitona do jardim das oliveiras replica (in) significante do nosso Nordeste...
Isabel Seixas
Senhor embaixador.
E bem caras nos ficaram, na construção e neste pormenor, sei do que falo e ficam (na manutenção!) estas megalomanias, expressão duma vaidade bacoca e provinciana, o CCB e a sua irmã inveja - a Casa da Música ...!
Eu cá, nunca percebi muito bem os argumentos contra, a nível arquitectónico-estético.
Os críticos, em geral, faziam-no porque sim...E eram da oposição.
O único argumento que podia entender seria orçamental. Contudo, os anos foram passando, e só depois dos estádios do euro é que me congelaram e agora irão cortar no salário.
Fomos muitos a protestar, somos muitos, agora, a gostar do CCB! Concordo que umas centenas de metros mais a ocidente teria evitado tanta diabolização. Gosto do espaço, gosto do "jardim das oliveiras", gosto do CCB.
Gosto da sua decência e gostaria muito de lá ter estado a ouvir falar do Eduardo Prado Coelho.
Gosto da cafetaria com terraço sobre o Tejo, gosto do look de fortaleza de açucar mascavado, gosto de ver os meus filhos correr pelas rampas de acesso, gosto de algumas exposiçoes que la vi e dos espectaculos que nao verei...
Gosto da calçada portuguesa, dos auditorios onde nao ha o cheiro enjoativo a pipocas, das lojas do Rés-do-chao...e dos Pastéis de Belém ali mesmo ao lado ; )
UM QUARTEIRAO EM NUMEROS...
• 30.500 m2 área bruta do Centro de Reuniões
• 22.000m2 área bruta do Centro de Espectáculos
• 35.000 m2 área bruta do Centro de Exposições (8.000m2 livres para exposições temporárias)
• as paredes do complexo (36 mil metros quadrados) estão cobertas por pedra calcária "Abancado de Pero Pinheiro" com acabamento "Rústico Gastejado" assente em suportes metálicos
• 1.600 quilómetros de cabos eléctricos
• 15 mil lâmpadas
• 280 quadros eléctricos
• 2.600 sensores de incêndios, gás e intrusão
• 700 sensores de temperatura, humidade e pressão
• 19 elevadores e monta-cargas
• 1300 portas e portões
• 550 ventiladores, caixas e unidades de ar condicionado
...OU, O PESO DA CULTURA ! : )
Júlia o seu último comentário deixou-me apreensiva, nos tempos que correm. Onde vão, agora, cortar? Sensores a metade, elevadores com horário e só para quem não pode subir escadas, portas a metade - a mim esta medida talvez me fizesse jeito... -iluminação a um terço?!
Valha-nos Santa Engrácia.:-))
Helena, nao querendo ser péssimista...creio que vao ter que acabar por cortar em TUDO !
E sera que Santa Engracia ainda vos pode vos valer ? Muito provavelmente nem um congresso de santos.
Eu penso que a soluçao mesmo é : Trocar de "filósofo" ; )
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