Conheci pessoalmente José Cardoso Pires no final dos anos 60, em noites em casa do Carlos Eurico da Costa. Tinha-o lido bastante, mas desconhecia o conversador delicioso que ele era, com um humor cáustico e uma patente frontalidade, arredondada por inesperadas ternuras por coisas comuns. Durante muito tempo, via-o apenas a espaços, em momentos ocasionais. E continuava a lê-lo, claro.
Bastantes anos mais tarde, voltámos a encontrar-nos, já com alguma regularidade, na tertúlia do "Procópio", onde se conserva um grande retrato seu, como se deve a quem nos faz falta. A propósito do chafariz à entrada, José Cardoso Pires escreveu, um dia, esta pérola: "Um chafariz à porta de um bar é cá uma saudação que enternece o maior malvado".
José Cardoso Pires morreu, precisamente, há 12 anos. A melhor homenagem que lhe podemos prestar é lê-lo. Foi um dos grandes escritores da língua portuguesa e um homem que sabia o que queria da vida e o que queria para a vida de nós todos.
José Cardoso Pires morreu, precisamente, há 12 anos. A melhor homenagem que lhe podemos prestar é lê-lo. Foi um dos grandes escritores da língua portuguesa e um homem que sabia o que queria da vida e o que queria para a vida de nós todos.
7 comentários:
De Profundis, Valsa Lenta
de José Cardoso Pires
"Memória duma Desmemória"
É no mínimo interessante de enigmática...
Isabel Seixas
Tabtos escritores portugueses que hoje não são lidos e assim... morrem de vez! Assim de repente lembro-me de Carlos de Oliveira e de Fernando Namora.
Ainda há pouco tempo deliciava-me com o "Fogo na Noite Escura" e eis que, já adiantado na leitura, dei conta que tinha desaparecido metade do "recheio" do velhinho livro... e já não o encontro à venda...
Há muita ternura neste retrato ao qual gostaria de acrescentar estas palavras que a Margarida lhe dedica: "Os homens amáveis, admiráveis, viciantes, são assim: expressivos, expansivos, esplêndidos"!
O Zé e eu trabalhámos juntos no DP. Considero que foi um privilégio, uma honra e um prazer que tal acontecesse.
Um dia fomos almoçar com o Fernando Piteira Santos e o Mário Zambujal. Ali ao Bairro Alto, no Cantinho da Rosa, na Rua do Diário de Notícias.
O Mário andava pelo Mundo Desportivo e eu pelo Portugal Sociatista que era feito nas oficinas do Diário de Lisboa. quase á saída do elevador da Glória.
Mas o Ruela e o Assis Pacheco tinham-me levadoa que colaborasse no DL, mais precisamente na Mosca, onde escrevi umas linhas mal paridas que assinava Paulinha, a prima da Guidinha, que o Sttau Monteiro me aturava.
Estavamos em meio de um cozido à portuguesa com todos os matadores e o Zé virou-se para mim, ó Antunes (nunca completou o meu nome com o Ferreira), tu comes caril muito picante?
Olha que isso tira a te..
Ele conhecia a Raquel, goesa dos quatro costados; respondi-lhe que, apesar disso, ele podia um dia ir lá almoçar a minha casa, então na Lapa. Bairro fino, não sei como as tias te deixaram lá morar, comentou.
Quatro ou cinco dias depois, fomos os dois e mais o pendura Zambujal e o Abelaira e o Fernandinho Assis Pacheco e o Afonso Praça. A minha mulher caprichara nos tempêros e em especial na pimenta verde, como dizem em Goa.
Acabámos o repasto pelas duas da manhã, fui com eles até à Infante Santo para ver se apanhavam um táxi, mas debalde. Propuz que regressássemos a minha casa e eles lá dormissem.Proposta aceite por unanimidade vínica.
O Zé, depois de mais uns The Monckies, avisou que só ia passar pelas brasas. Todos os sofás serviam para tal.
De manhã, parte do grupo esgueirou-se. Ficaram o Mário e o Zé ainda a passar pelas brasas. Às duas da tarde, já o Zambujal tinha zarpado e a Raquel estava a lutar com a contabilidade da TAP, Cardoso Pires, depois das abluções competentes, informou-me que «a tua roupa fica-me pequena», e perguntou: há por aí alguma coisinha que se coma? Bendito picante. E, naturalmente, que se beba. Havia de um e do outro. E lá se foi a teroria de que o picante tirava a te...
é bom recordar e evocar um grande homem e escritor. A leitura de cada livro dele (com uma ou duas raras excepções) provocava-me, como leitor, uma sensação de plenitude, de que todos os elementos da interessante narração estavam no sítio exacto,que os personagens eram mesmo pessoas, fazendo de cada livro uma obra perfeita: anjo ancorado, hospede de job, delfim, balada da praia, render dos heróis, que obras nos deu!
Oportuna entrada.
Sempre a aprender...
Por cá a teoria explicativa sobre o picante é que é picante porque é afrodisíaco...
Pois...
Isabel Seixas
Que saudades me fez este post de Antunes Ferreira ao falar de gente que tanto me marcou...
Muito obrigada pela lagrimita alegre que quase me saltou. Ainda há bem pouco tempo recordava com o Mário esses tempos!
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