quinta-feira, março 19, 2009

Varanda da Europa

A revista francesa de turismo e viagens "Destination" acaba de dedicar o seu nº 2 a Portugal (o primeiro foi dedicado a Nova Iorque).

Para além de um tom geral muito positivo e de grande simpatia que ressalta dos textos, confesso que não fico muito feliz ao notar que continua a projectar-se, em muitas das páginas da publicação, a imagem de um país ainda próximo do tom das montras da nossa velha "Casa de Portugal" na rue Scribe, ao tempo de José Augusto e do Verde Gaio: velhinhas à saída da missa ou penduradas nas varandas dos bairros pobres, bem como os inevitáveis reformados ao sol, com as usuais proeminências abdominais. E, nos comentários, sempre, sempre, a ladainha da nostalgia, do fado, da tristeza, do olhar melancólico. Vá lá: ao menos, desta vez, livrámo-nos das redes dos pescadores, com camisas aos quadrados... Esse Portugal também existe, faz parte daquilo que também somos. Mas haverá necessidade de estar sempre a reiterá-lo, como se esses sinais fossem um nicho de "riqueza" etnológica a explorar? Quase só falta o slogan: "vá a Portugal e visite o passado"...

Lembrei-me disto hoje, dia da inauguração do nosso pavilhão no salão de promoção turística "Monde à Paris". Lá estamos, com bastante dignidade e com um nível de comunicação eficaz, servidos por documentação dotada de textos e fotos com muita qualidade, embora sem os espaventos que os tempos desaconselham. A nossa oferta actual é magnífica e a França cada vez mais a aprecia, estando em crescendo a sua contribuição para os nossos ganhos europeus em matéria turística. E vamos preparar outras iniciativas, sob a responsabilidade das várias regiões turísticas, apontadas para faixas específicas de um mercado que requer cada vez maior sofisticação.

Mas não vale a pena ter ilusões: ainda há muito a fazer para mudar a imagem externa de Portugal, muito em particular aqui em França.

10 comentários:

douro disse...

"velhinhas à saída da missa ou penduradas nas varandas dos bairros pobres, bem como os inevitáveis reformados ao sol, com as usuais proeminências abdominais.".

Surpreende-me que isso o incomode e que se felicite de se terem esquecido das redes. Claro que também hà um outro paìs e outras gentes, que discutem Sartre e jantam na 'Bica do Sapato', mas o nosso povo é mais aquele do que este e não vale a pena escondê-lo no quintal das traseiras. Se o assumir plenamente, acredito que se sinta menos constrangido por nos ter de representar a todos junto dos franceses.
Cumprimentos

Anónimo disse...

É pena que tão interessante blogue esteja a perder comentários. Será censura? Por mim já postei alguns que não passaram.
Se as imagens existem são imagens de Portugal.
É importante perceber a realidade.Não embarquemos em pínhicos "Allgarves". Gostava muito, isso sim, que os emigrantes fossem mais respeitados. Sei que o Sr. Embaixador tem essa sensibilidade.

Francisco Seixas da Costa disse...

Para as dezenas de comentários publicados, nem todos simpáticos para o blogue, apenas foram eliminados três, claramente escritos com intuitos ofensivos, escritos a coberto de um cómodo anonimato.

Portugal é um todo, comportando no seu seio um país menos desenvolvido e um país mais avançado. Confesso que acho muito surpreendente que ainda haja quem se sinta satisfeito com a ideia de que se faça a promoção do país à luz de uma visão caricatural e quase etnológica.

Estou certo que os portugueses que aqui lutaram e lutam por dignificar a imagem do seu país, bem como os seus descendentes que hoje fazem o seu esforçado caminho de afirmação na sociedade francesa, perceberam bem o que eu escrevi.

Respeitemos o passado, mas não sacralizemos o miserabilismo. Concedo, contudo, que a foto anteriormente utilizada no post possa dar origem a leituras equívocas. Por isso, foi substituída.

Anónimo disse...

Considero o assunto em debate de suma importância, reconhecendo que o turismo é a melhor forma de conhecer e dar a conhecer o País. Pessoalmente achei a primeira fotografia mais expressiva.
Quando folheamos revistas que aliciam ao Turismo é comum depararmo-nos com imagens do mais comum conceito de paraiso, salvaguardando claro, o alerta de Alexandre Dumas "Todas as generalizações são perigosas inclusivé esta".

Tomar a parte pelo todo, também pode ser perverso e fomentar uma imagem redutora.

Não me lembro nunca de ter visto como imagem promotora de um País, Pessoas Sem abrigo a dormir de baixo de pontes, ou qualquer expressão da prática da mendicidade.

Conheço até paises que constatei ser a imagem difundida a menos visivel no terreno, mas a que me convenceu.

Acho que é possivel seduzir o turista através da coabitação de um menu de imagens contrastantes, a julgar por mim ...Incondicionalmente

Isabel Seixas

Anónimo disse...

Em primeiro lugar desejarei apresentar os cumprimentos aos Senhor Embaixador Seixas da Costa, por tão interessantes peças que vai inserindo no seu blogue.

Para algumas tenho "pedalada", para comentar para outras nem pensar!

De qualquer forma, interessadamente, vou lendo todos os dias a matéria que insere.

Ainda ontem numa pequena viagem que fiz â volta da área onde vivo há uns 30 anos, em Banguecoque, durante a condução do meu carro de 14 anos, veio-me à mente a figura do embaixador Seixas da Costa, desde o tempo que era chefe da Missão de Portugal nas Nações Unidas, em Novaa Iorque e depois foi transferido para Viena. Com isto a "toque de caixa" (Notas Verbais) veio para Banguecoque o embaixador Lima Pimentel e meu chefe durante os quatro anos (como manga de alpaca) que assumiu a gerência da Missão Diplomática no Reino da Tailândia.

Ora o meu pensamento virava-se como era possível a um embaixador de Portugal acreditado em Paris, depois de tantas obrigações a que o cargo o obriga como tem tempo de se enfronhar a desenvolver um blogue onde escreve matéria tão interessante.

Pensei: "ou o Senhor Embaixador Seixas da Costa é deveras um diplomata organizado ou então dorme pouco..."

Bem, como reformado, servindo 6 embaixadores e sete conhecidos,em Banguecoque, durante 30 anos, sou conheci dois que se levantavam cedo, os outros quatro, sem serem picados pela mosca do sono, apodreciam na cama.

Quanto a turismo e associados ao miserabelismo que menciona nesta peça é a verdade nua e crua.

Durante cinco anos representei o ICEP (um condimento a juntar ao de funcionário público na Missão Diplomática de Banguecoque) e procurei incrementar o turismo português na Tailândia.

Até se fizeram coisas interessantes quer no turismo ou na parte comercial.

Mas o homem sonha, realiza obra e os deuses do mal a destroiem-na...

Assim aconteceu depois de Maio de 2002 e de quando um ministro dos Estrangeiros inventou a Diplomacia económica, arrumando com o ICEP e vingando-se contra uns inimigos que tinha pelas Necessidades.

Não me vou adiantar mais...

Porém gostaria de incluir, pedindo-lhe de borla, as obras na minha biblioteca do Senhor Embaixador Seixas da Costa, mas coisa impossível já estou reformado e não podem ser enviadas, de Paris, por Mala Diplomática, para Banguecoque.
Seu leitor atento
José Martins

Anónimo disse...

Bom dia! Numa sexta-feira solarenga de temperatura amena… não haverá nada melhor para acabar a semana e entrar no fim-de-semana!
Não discordo com a sua critica à imagem do Portugal com velhinhas de avental e velhinhos barrigudos aquecendo-se ao sol ou arrefecendo-se à sombra seja qual for o caso, que quer se queira, quer não, isso é Portugal.
Mas não concordo que isso seja o Portugal do passado, somos assim! é assim o meu Portugal.
Também sou imigrante embora definitivo e não provisório como V. Exa., e quando lá vou à terra, seja à nossa linda Capital seja ao nosso interior ou extensa costa, lá estão as nossa velhinhas, velhinhos e aquele Portugal que nos identifica, nos separa dos outros e nos distingue.
Gostar desse Portugal ou não isso é que já é outra conversa, mas aí, digo-lhe com a segurança de quem vive noutro país à tempo suficiente para que quase veja o meu País com “olho estrangeiro”, o que quem nos visita procura é outro país, outra cultura, outros velhinhos, e é por isso que a tal revista publica o que publica com as fotografias que escolhe, eles sabem bem o que o leitor quer.
Olhe que para mim é muito infelizmente esse Portugal que já começa a ser difícil encontrar, e é uma pena, porquê? Porque quando formos todos iguais, então para quê viajar?
Por exemplo à bem pouco tempo vou a Lisboa e como tinha estrangeiro comigo decidi fazer a Lisboa turística um boa parte a pé na baixa lisboeta e o resto de carro, Torre de Belém, Jerónimos e como cereja no topo do bolo, vamos aos pastéis de Belém onde eu já não ia à muito tempo.
Os pastéis estão tão bons ou melhores que sempre, o galão e dois pastéis cada foram um sucesso.
Saímos e virando á direita vejo a triste cena de um Starbucks cheio de jovens portugueses a beber sabe-se lá o quê por uns copos de cartão e provavelmente a comer um muffins ou outras estrangeiradas cheias das hormonas que tornaram os americanos tão obesos que quando se anda em alguns locais nos EUA é como se estivesse dentro dos jogos sem fronteiras que davam na TV tuga quando eu lá estava, bamboleiam-se de trás prá frente e para os lados a tentarem-se equilibrar num troncos que não foram desenhados para tanto peso, triste!
Embora os pastéis de Belém possam sobreviver esta modernização e talvez eu erradamente prefira pensar que o nosso caminho deveria ser “nosso” e não o sucumbir à imagem multinacional extremamente bem vendida a jovens e mesmo muitos não tão jovens do produto americano que lhes é “lavado no cérebro” (note que de propósito utilizo o termo português, seria fácil brainwashed…) em séries de TV e em filmes e que muitos seguem porque… eu sei lá porquê? Só sei é que muffins, hotdogs, hamburgers e pizzas não me ajudam a sentir que estou em Portugal, nem são melhores que pastéis de nata, folhados de carne, enfim cresce-me água na boca só de pensar em tanta iguaria nacional que irá desaparecer se nos “livrarmos” da velhinha trouxa de ovos e do velhinho pastel de nata, por favor elogiem-nos é isso que somos e não é tão mau quanto isso.
Não sou contra a evolução dos tempos, adoro gabar algumas das nossas obras contemporâneas, a Casa da Musica, ou a pala do Pavilhão dos Descobrimentos na Expo que acho uma obra fantástica técnica e esteticamente, tive o cuidado de levar as mesmas pessoas a esses locais mas penso que o que os meus amigos estrangeiros mais gostaram foi onde sentiram que estavam em Portugal porque o resto têm eles lá nas terras deles mais e maior!
PS: muito obrigado pelo seu blog, indescritível o prazer e privilégio que tenho em lê-lo.
Zezinho Aragão

Anónimo disse...

Vivi, aqui há uns anos atrás, uns 6 no Sudeste Asiático e recordo-me bem do esforço, muito louvável, que países como a Tailândia e a Malásia faziam para se promoverem no plano turístico, com recurso, já nessa altura, a excelente marketing, difundindo aspectos desses países, sem miserabilismos e apostando em imagens que visavam suscitar o interesse dos destinatários das mesmas, os potenciais turistas.
Portugal, nessa altura, pelo contrário, ainda não sabia “vender” a sua imagem e muita gente ainda nos associava aquele país salazarento que tínhamos deixado de ser há mais de uma década.
Entretanto, desde esse tempo tenho visto inúmeros outros países a projectarem a sua imagem turística com grande eficácia e dinamismo, através de insistentes e bem concebidas campanhas publicitárias. Nas televisões, revistas, jornais, na NET, nas operadoras turísticas, etc.
É justo reconhecer entretanto que as autoridades portuguesas responsáveis “acordaram”, já algum tempo, para a imperiosa necessidade de começarem a divulgar uma imagem diferente do país, procurando “mostrar” um Portugal diferente, mais moderno e, sobretudo, mais evoluído. Não me parece é que essas campanhas publicitárias sejam suficientemente enérgicas. Há que fazer mais, ainda melhor e, acima de tudo, estar disponível para se gastar algum dinheiro com essa divulgação e publicidade, só assim se obtendo o devido retorno com a visita de turistas que vêm até cá e querem, no futuro, voltar, este último aspecto é da maior importância.
Tenho, todavia, as minhas dúvidas quanto à eficácia na insistência excessiva “nos Algarves, nos campos de Golf”, etc.
Portugal tem uma variedade enorme de outros aspectos (turísticos) que merecem ser dados a conhecer. Esse Portugal mais rústico (e piscatório) convinha que fosse sabiamente “diluído” (não quero com isto dizer “escondido”, mas utilizado de forma diferente, como muito bem diz Francisco Seixas da Costa, sem miserabilismos) com o moderno e associado também (porque não?) a um turismo vinícola (a Itália, Espanha, Áustria fazem isso há tempos), a um turismo no Interior (Douro, Alentejo, enfim, de belas e acolhedoras paisagens rurais), ás ilhas (sobretudo dos Açores, ainda menos conhecido do que a Madeira) e mesmo à nossa costa atlântica (que pode atrair actividades desportivas que noutros países, sobretudo no Mediterrâneo, quase não se praticam, como o Surf, Winsurfing).
Mas enquanto não nos dispusermos a investir seriamente no Turismo como fonte de receitas sustentada, o que implicará esforços políticos e orçamentais, não vamos lá.
O sector das exportações é fundamental e vital para a nossa economia, mas também o é o do turismo. Ou poderia ser.
P.Rufino

Anónimo disse...

Ora me deu satisfação encontrar aqui um comentário do meu velho amigo e compadre de 25 anos o dr. Paulo Rufino.

Servi a diplomacia portuguesa, em Banguecoque, como seu subordinado e desde então até hoje nunca mais deixamos de nos corresponder.

Bem me recordo que o dr. Rufino sempre muito interessado em promover o comércio e o turismo português na Tailândia.

Entre os vários eventos que levou a cabo, foi sempre visto pelo lado "zarolho" pelo chefe de missão de então.

Remava contra a maré!

Um dia, nos anos de 1989, organizou a melhor provas de vinhos, em Banguecoque, que até hoje nunca mais foi levada a cabo.

Na altura, já lá vão 20 anos, a capital da Tailândia era uma "bela adormecida", onde havia muito dinheiro debaixo dos colchões e um futuro certo para se incrementar as relações comerciais entre Portugal e a Tailândia.

A prova de vinhos e petiscos genuinos portugueses teve lugar na Wireless Road a mais "chique" de Banguecoque, onde o casario era baixo e à frente a todas as casas um pequeno jardim.

A prova de vinhos teve lugar na casa do proeminente escritor, tailandês, Pira Sudham, nominado para o Prémio Nobel da Literatura em 1989.

O Pira um grande amigo do dr. Paulo Rufino e meu também, além de escritor (escreveu entre outras obras "Siamese Drama", onde relatava o drama das populações nordetinas das terras ensalitradas do Esarn) era um especialista em vinhos. O Governo de Macau tinha-o nomeado representante do turismo na Tailândia.

O dr. Rufino juntamente com o Pira Sudham e o dr. Luis Mesquita, funcionário superior da Lever Brothers que em pouco mais de ano, com a sua técnica de marketing, a sua empresa tinha absorvido todas as grandes e médias empresa de produção de gelados e o "Olá" é rei e senhor das vendas, convidaram os maiores importadores e proprietários de lojas de vinho de Banguecoque e foi um total sucesso.

A minha actividade sempre com a mania da fotografia (na altura com um máquina de video), registei, em imagens, o evento e enviei uma peça para a Lusa de Macau que foi metida na linha.

O dr. Rufino navegava contra a maré pelo desinteresse total do seu embaixador.

Eu seguiria-o depois de ter terminado a sua comissão em Banguecoque (1990) e lá fui dando uma no cravo e outra a ferradura, sem apoio algum que fosse.

Em 1997 uma nova era começou tendo o apoio do chefe de missão e aconteceu o desenvolvimento comercial e turístico (a TAP fazia escala em Banguecoque) até 1999.

Com a vinda de um novo embaixador em vez de continuar a desenvolver o comércio, "pregou" comigo a dactilografar telegramas (cozinhados dos recortes dos jornais) e o comércio português e o turismo entre Portugal e a Tailândia foi colher urtigas até hoje.

Como o afirmei acima gostei de ver aqui o dr. Rufino, meu compadre e amigo, que já não lhe coloco a vista (pessoalmente) desde 1990.
José Martins

Anónimo disse...

Concordo em absoluto.
No Alentejo apostamos nesta ideia de uma região onde se conjugam tradição e modernidade, homem e natureza, onde ainda há tempo... para tudo.
Abraço
António

Anónimo disse...

PORTUGAL ANTIGO E MODERNO...

http://www.youtube.com/watch?v=fHXtZq3Tork&feature=channel_page

tentativa de mostrar o que foi e é Portugal...sem vergonhas!

Abraço

Os ácidos

Nos anos 60, a expressão que vai em título tinha outro significado. Nos tempos que correm, pode aplicar-se a quem se dedica, por vício ou em...