Ir contra o vento é um movimento que tem sempre os seus riscos. Quem me conhece sabe que não me custa rigorosamente nada corrê-los. Vamos então a isso.
Adubar o pessimismo caseiro constitui uma tarefa a que milhões de portugueses se dedicam com afã diário, tendo mesmo criado, para tal fim, algumas expressões próprias, que fazem parte dos bordões do falar vulgar. Por essa razão, quando alguém se propõe levantar a auto-estima nacional, sublinhar o que de positivo existe ou está a ser feito, logo se ergue um coro ácido de detractores, encostando os autores ao arrasador labéu do colaboracionismo "com eles".
Recordo-me que, há cerca de dois anos, Nicolau Santos, sub-director do Expresso, publicou um texto que era um retrato do Portugal económico "que funcionava bem", onde elencava um conjunto de empresas com sucesso internacional, destacadas nas suas respectivas áreas de actividade e dotadas de um nível de inovação que pedia meças a quem quer que fosse. E lembro-me bem de, dias depois, ter lido num qualquer "blogue da tragédia" - essa multidão de lugares informáticos que por aí pululam, onde causticar o Portugal contemporâneo é um exercício diário, levado a cabo com zelo militante - a afirmação de que era "uma estupidez" publicar essa listagem de êxitos. Porquê? Porque tal divulgação poderia fazer supor que o poder político do momento tinha algo a ver com isso, e esse risco eles não queriam correr... Claro! Não faltava mais nada!
Alguns tempos depois, o empresário Carlos Coelho publicou "Portugal Genial", um curioso livro que se pretendia "uma visão desafiante sobre 82 genialidades portuguesas capazes de contribuir para a afirmação contemporânea da marca de Portugal no mundo". Salvo uma episódicas notas, algumas salpicadas de pouco subtil ironia, o livro caiu rapidamente no esquecimento. Porquê? Porque ia em evidente contra-ciclo com a escola, politicamente correcta, da auto-flagelação vigente. E isso, naturalmente, não convinha...
Agora, Álvaro Santos Pereira, professor português numa universidade do Canadá, que tem textos publicados em vária da nossa imprensa, editou o livro "O Medo do Insucesso Nacional", onde, sem recurso a quaisquer loas aos poderes públicos, sai do registo do destino trágico nacional, apresenta um diagonóstico frio das disfunções do país e avança com algumas propostas de solução, com cuja aberta e despreconceituada discussão todos ganharíamos. E, de passagem, deixa patente que a esperança, mesmo em tempo de crise, assenta em boas e concretas razões, adiantando: "O sucesso nacional não é um mito ou uma ilusão. É real e está ao nosso alcance, faz parte da nossa história e certamente fará parte do nosso futuro".
Pode ser que eu me engane, mas o melhor que este livro pode esperar é o silêncio raivoso da nossa bloguítica comunidade do pessimismo. Sucesso? Não queriam mais nada!?
Adubar o pessimismo caseiro constitui uma tarefa a que milhões de portugueses se dedicam com afã diário, tendo mesmo criado, para tal fim, algumas expressões próprias, que fazem parte dos bordões do falar vulgar. Por essa razão, quando alguém se propõe levantar a auto-estima nacional, sublinhar o que de positivo existe ou está a ser feito, logo se ergue um coro ácido de detractores, encostando os autores ao arrasador labéu do colaboracionismo "com eles".
Recordo-me que, há cerca de dois anos, Nicolau Santos, sub-director do Expresso, publicou um texto que era um retrato do Portugal económico "que funcionava bem", onde elencava um conjunto de empresas com sucesso internacional, destacadas nas suas respectivas áreas de actividade e dotadas de um nível de inovação que pedia meças a quem quer que fosse. E lembro-me bem de, dias depois, ter lido num qualquer "blogue da tragédia" - essa multidão de lugares informáticos que por aí pululam, onde causticar o Portugal contemporâneo é um exercício diário, levado a cabo com zelo militante - a afirmação de que era "uma estupidez" publicar essa listagem de êxitos. Porquê? Porque tal divulgação poderia fazer supor que o poder político do momento tinha algo a ver com isso, e esse risco eles não queriam correr... Claro! Não faltava mais nada!
Alguns tempos depois, o empresário Carlos Coelho publicou "Portugal Genial", um curioso livro que se pretendia "uma visão desafiante sobre 82 genialidades portuguesas capazes de contribuir para a afirmação contemporânea da marca de Portugal no mundo". Salvo uma episódicas notas, algumas salpicadas de pouco subtil ironia, o livro caiu rapidamente no esquecimento. Porquê? Porque ia em evidente contra-ciclo com a escola, politicamente correcta, da auto-flagelação vigente. E isso, naturalmente, não convinha...
Agora, Álvaro Santos Pereira, professor português numa universidade do Canadá, que tem textos publicados em vária da nossa imprensa, editou o livro "O Medo do Insucesso Nacional", onde, sem recurso a quaisquer loas aos poderes públicos, sai do registo do destino trágico nacional, apresenta um diagonóstico frio das disfunções do país e avança com algumas propostas de solução, com cuja aberta e despreconceituada discussão todos ganharíamos. E, de passagem, deixa patente que a esperança, mesmo em tempo de crise, assenta em boas e concretas razões, adiantando: "O sucesso nacional não é um mito ou uma ilusão. É real e está ao nosso alcance, faz parte da nossa história e certamente fará parte do nosso futuro".
Pode ser que eu me engane, mas o melhor que este livro pode esperar é o silêncio raivoso da nossa bloguítica comunidade do pessimismo. Sucesso? Não queriam mais nada!?
8 comentários:
não é preciso ir muito longe para ver o nosso sucesso diário:
- o multibanco na Bélgica é muito fraco comparado com o nosso: temos por todo o lado e podemos fazer praticamente tudo nas nossas máquinas multibanco; em Bruxelas as distâncias entre máquinas multibanco contam-se em vários quarteirões e as operações possíveis são limitadas;
- na nossa via verde passamos a andar, não é preciso parar: na "via verde" francesa, pelo menos à data da inauguração, cada zona de passagem na "via verde" tinha uma barreira que só levantava depois da viatura imobilizada (pode ser que entretanto tenham removido as barreiras mas numa breve pesquisa no Google sobre auto-estradas francesas e formas de pagamento automático tudo indica que as barreiras continuam instaladas);
- somos dos países com maior produção de energia eléctrica por meios ecológicos e salvo erro inaugurámos (mundialmente? na Europa?) a produção regular através do movimento ondulatório das ondas do mar, com tecnologia nossa;
- dos melhores ecrãs do mundo para projecção vídeo à luz do dia (mesmo com iluminação solar intensa!), ecrãs com ganho superior a 1, são produto nacional e concebidos e fabricados pela LusoScreen em Olhos de Água, Palmela; a maior parte da produção é para exportação, e ganham maior visibilidade nos períodos de campeonatos de futebol internacional quando os ecrãs aparecem instalados em espaços públicos um pouco por todo o lado (cidade universitária, Alcântara, ...)
estes são alguns dos factos que conheço e os exemplos podiam continuar, devem estar referenciados nos livros que refere, fiquei curioso e vou ser leitor
Pedro
Pode então ser que nos enganemos...
Isabel Seixas
Magnifico - ate agora...- o seu blogue e as suas "reflexões", extremamente acutilantes e cheias de graça .....!!!
Que a sua "contra-corrente" se junte a muitas outras e se transformem em verdadeiro Mar de Pensamento, Motivação e Acção...!!!
Melo e Lima
Mais um livro para eu ler. Obrigado Francisco !
Quanto ao nosso tradicional pessimismo,é o eterno problema da "galinha da vizinha...".E, acrescente-se, a nossa secular tendencia para profetizarmos a "desgraça".....
Afinal, correm-se sempre menos riscos quando se antecipa a possibilidade de algo correr mal, ou se relevam os eventuais aspectos negativos de uma qualquer acção, do que quando se avança no sentido de defender projectos, acções ou ideias.
Neste "jardim à beira mar plantado",ter uma visão positiva, confiante, ousada, de Portugal e dos Portugueses, não só dá uma trabalheira dos diabos, como não paga dividendos...!
É sempre mais fácil dizer "eu bem avisei.." do que "eu acreditei".
Forte Abraço
Rui M Santos
Não são só os blogues. Mas é facto. E parece que se contrariarmos a tendência, mesmo (ou sobretudo) que (só) de forma veementemente opinativa, somos 'cilindrados'. No mínimo, ignorados.
Confunde-se tudo no mesmo cenário e oblitera-se o bem que há no mau que se apregoa.
Que existe, mas que não está só. Muito menos é soberano.
São importantes tanto o exemplo quanto a esperança.
Mas cívicos, de base, e se possível, expurgados da política. Para evitar acusações. Contaminações.
Porque se associa de imediato o bom exemplo à pior propaganda e, assim, algo se compromete aos olhos de muitos.
Por mais que custe aceitar, o movimento de fundo tem de ser da sociedade civil; a vida pública, a causa política, estão francamente desgastadas aos olhos dos cidadãos.
O problema que trata neste post é complicado. Mas ache curioso que acabe com um sinal de desespero perante a força dos blogs e dos pessimistas militantes. Significa isto que não há mesmo esperança??
:)
É fantástico ser optimista quando se está bem sentado à mesa do Orçamento. No entanto, os números desmentem tudo isto.
"Isto" o quê?
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