sexta-feira, março 20, 2009

Invasões francesas


Pelo segundo ano consecutivo, a cidade de Boticas, em Trás-os-Montes, vai honrar uma tradição de dois séculos e, com fins comerciais, enterrar em saibro garrafas do vinho da região.

O chamado “vinho dos mortos” teve origem nas invasões francesas em 1808. Para evitar as pilhagens, a população escondeu vinho debaixo de terra. Quando os invasores se retiraram, descobriu-se que o vinho estava melhor. A tradição manteve-se em várias famílias, mas, até recentemente, apenas para consumo caseiro.

Daqui se prova que as invasões francesas acabaram, afinal, por ter alguns “efeitos colaterais” positivos...

Em tempo: eliminou-se neste post a referência às Cartas de soror Mariana. Veja porquê aqui.

E, sobre o assunto, leia também A Nova Floresta.

7 comentários:

Anónimo disse...

Um canal televisivo qualquer, aqui há tempos, fez uma reportagem interessantíssima sobre esse assunto.
Como dizia o “outro”, “nem tudo é mau mesmo parecendo”. Assim pelos vistos sucedeu com as ditas invasões.
Infelizmente, tanto quanto me recordo dessa reportagem, já poucos praticam essa tradição.
Ficou-me, todavia, a impressão que o curioso vinho assim “guardado” ficava além, em qualidade.
Mas que importa, para o caso?
P.Rufino

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Senhor Embaixador se a moda pega a outros bens, num país em que o aluguer de cofres bancários subiu em flecha, os "produtos mortos" vão ficar cada vez mais vivos...

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,

compreendendo embora que o seu papel é o de aproximar Portugal e França, e não o de sublinhar as agruras do nosso passado comum, não posso deixar de considerar que os efeitos colaterais das invasões francesas foram muito mais positivos para a França do que para o nosso país, como uma visita ao Louvre facilmente comprovará.

Por outro lado, as cartas de Mariana Alcoforado são um efeito colateral, não da Guerra Peninsular, mas sim da Guerra da Restauração, na qual a França foi nossa aliada. Estou certo que Soror Mariana não se teria entregue com o mesmo ardor ao representante de uma potência ocupante...

Melhores cumprimentos,

Vasco Campilho

Francisco Seixas da Costa disse...

Como (julgava eu) se deduzia do meu post, era apenas irónica a referência ao carácter "positivo" das Invasões Francesas. Elas constituíram uma sinistra rapina do nosso património.

E obrigado pela reposição da verdade histórica no tocante a Maria Alcoforado. Foi um erro que assumo e já corrigi.

Anónimo disse...

O meu ironicómetro às vezes deixa-me ficar mal :)

Esta situação recordou-me outra, mais antiga, em que o meu ironicómetro ainda hoje está perplexo. Há uns bons 10 anos, o governo do Eng. Guterres iniciou as cimeiras regulares Portugal-Marrocos. Lembro-me como se fosse hoje do Primeiro-Ministro na televisão, fazendo um discurso de boas-vindas ao chefe do Governo marroquino, referir 12 séculos de amizade entre os nossos dois países.

Dando de barato que Portugal não tem 12 séculos de existência, o que se teria passado há 1200 anos que desse inicio a essa "amizade", pensei eu na altura? Pois: as invasões mouras. E o que se passou depois? Uma reconquista, e depois a conquista portuguesa de varias praças-fortes no Norte de África. Para cima de 1000 anos de guerra, portanto.

Ainda hoje estou para saber que aquela amizade era ironia ou diplomacia :)

Cumprimentos,

Vasco Campilho

Francisco Seixas da Costa disse...

Decididamente, Vasco Campilho tem a qualidade de me deixar em situações difíceis... É que eu estava quase ao lado do Engº Guterres, nessa cimeira, como membro do governo português de então, e recordo-me de ter ouvido a incursão histórica do nosso primeiro-ministro (área em que ele é quase imbatível) e... não fiz as contas!

Anónimo disse...

Não conhecia a do vinho de Boticas , mas conheço a da origem da chanfana em alguns concelhos da Beira quando os pobres habitantes foram obrigados por um Sir Beresford , amississimo de portugueses,a destruir os haveres, incluivé os comestiveis.Terão então transformado as cabras em assado e enterrado a parca sobrevivência até à saída de ingleses e franceses. Estava óptima, diz a lenda e ficou assim no roteiro gastronómico comum.

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