sexta-feira, março 27, 2009

A nova Europa

A situação económica de extrema gravidade que afecta hoje alguns dos países da União Europeia, que fizeram parte das últimas vagas do alargamento, prova, a meu ver, três coisas.

Em primeiro lugar, revela que o euro é hoje uma excelente protecção para os países que a ele acederam, contribuindo para reforçar as respectivas economias e dar-lhes meios para melhor resistirem aos embates de uma crise global como a que atravessamos. Os países da UE hoje atingidos são, precisamente, os que não fazem parte do euro – embora, também legitimamente, se possa dizer que são os que não conseguiram fazer parte do euro devido à sua fragilidade económica.

Em segundo lugar, o que se está a passar parece ter deixado evidente que o facto de alguns desses Estados terem seguido receitas de cariz hiperliberal, com políticas sócio-laborais de grande precariedade e modelos de captação de investimento directo estrangeiro altamente apelativos, acabou por não lhes garantir uma situação mais sólida e por funcionar como factor de estabilização. Alguns dirão, com ácida ironia, que o "dumping social”, a prazo, não compensa.

Finalmente, e por muito que possamos registar que as respostas imediatas à crise foram, até agora, de carácter muito mais nacional do que europeu, creio que uma ponderação mais serena sobre futuro do mercado interno terá, forçosamente, que conduzir os Estados da UE, a prazo mais ou menos curto, a uma maior aproximação (não uso a palavra harmonização para não chocar a sensibilidade soberanista de alguns) das suas políticas ficais e sociais, bem como uma melhor clarificação do conceito de "ajudas de Estado". A preservação do mercado interno é incompatível com a repetição da deriva para fórmulas de "salvação nacional" como estamos a observar, com "ajudas de Estado" mais ou menos encapotadas, acompanhadas de pressões políticas para conseguir a complacência da Comissão Europeia para a heterodoxia de algumas dessas mesmas práticas.

Um nota final, de natural tristeza: não é nada agradável para o prestígio da UE, enquanto entidade política, observar que alguns dos seus Estados se vêm obrigados a recorrer ao FMI para se recomporem economicamente, pelo facto de a própria União não ter sido capaz de encontrar uma resposta solidária para as dificuldades desses parceiros.

Ainda recordo bem a angústia com que, no final dos anos 70 e 80, assistíamos à chegada a Lisboa das equipas da Senhora Teresa Ter-Minassian...

2 comentários:

Anónimo disse...

Um comentário muito actual e que daria um interessantíssimo debate. Que o Euro tem sido um "escudo" que tem protegido as economias mais frágeis da UE, é bem verdade. Veja-se o nosso caso. A desvalorização da moeda seria invitável, o recurso aos sanguessugas do FMI a saída, o desemprego em espiral geometrica, o mesmo para as falências e sei lá que mais.
Por outro lado, resta saber se o Euro poderá vir a "beneficiar" com a crise, por exemplo, posicionando-se, gradualmente, como moeda de referência internacional, substituindo o USD. Já estive mais perto de acreditar em tal, hoje tenho as minhas (profundas) dúvidas cartesianas.
Seria bom pelo menos que a UE "tirasse partido" desta situação para "aprofundar" mais as suas políticas fiscais, sociais, etc, como muito bem diz aqui o Embaixador Seixas da Costa. O recurso de algns Estados Membros ao FMI é um "boa" razão para se tentar proceder dessa forma.
Mas quando é que haverá um verdadeiro espírito de UNIÃO no seio da UE (a todos os níveis)?
Tiago do Rilvas

douro disse...

Bom-dia!
Creio ser prematuro afirmar que, nesta conjuntura, a nossa participação no euro seja muito vantajosa. Isso depende da forma como a Europa gerir a situação e assinalo que os polacos parecem não se estarem a dar mal com o facto do zloty se estar a desvalorizar. O euro pode revelar-se para paìses como nòs um espartilho muito constrangedor. Gostaria de me enganar, mas prefiro esperar antes tirar conclusões definitivas.

Quanto ao que se tem passado em matéria de "auxilios de Estado" e ao papel da Comissão nesse domìnio, sò posso dizer-lhe da minha estupefacção sobre a bandalheira que aì vai. Jà ninguém é capaz de dizer quais são as regras e como se aplicam.

Louvo-lhe a precaução ou o pudor que o levam a não embarcar como outros na afirmação fàcil e demagògica de que o que faz falta é o Tratado de Lisboa.

Saudações

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