A tradição parisiense mitificou os "clochards", a quem a modernidade chama hoje "sem-abrigo".
Este post destina-se apenas a notar que há, pelo menos, um "clochard" português nas ruas de Paris. Fala pouco, não quer a nossa ajuda, tem uma história, que se adivinha sentimental ,que o não deixa regressar à Beira natal. Que fazer? Provavelmente nada.
Este post destina-se apenas a notar que há, pelo menos, um "clochard" português nas ruas de Paris. Fala pouco, não quer a nossa ajuda, tem uma história, que se adivinha sentimental ,que o não deixa regressar à Beira natal. Que fazer? Provavelmente nada.
5 comentários:
“…que se adivinha sentimental”…
A beleza desse inferir advém da poesia que tendemos a espalhar sobre as imagens menos coloridas em redor.
Porque o romance e o verso espalham jóias sobre o escuro da paisagem. Fazem cintilar uma certa ilusão. Amanhã, novo dia, nova possibilidade.
Ou não.
O amor é o melhor álibi. Talvez o único que reina sobre a razão, quando esta surge, imperativa e terminal.
O amor redu-la à poeira, à banalidade.
Ao mundo concreto, do qual, de uma forma ou de outra, sempre tentamos fugir.
Quem pode socorrer um coração despedaçado?
Que dádiva sanará os golpes, que mãos estancarão a fuga das borboletas de dentro de um peito dilacerado?
E onde carpir de forma tão perfeita essa mágoa feita rio, senão nas margens de um Sena manso, entre gritos de crianças e vozes babélicas, atrás dos pombos que arrulham nos beirais, olhando as nuvens, esperando o sol, depois a lua, enfim as estrelas e, um dia, quem sabe, um anjo.
Aquele anjo…
Porque até os “clochards” abrigam essa esperança miraculosa da redenção.
Do sorriso único de quem se ama.
Do regresso almejado.
Do abraço como um arco-íris, que acabará com a solidão.
Mais inusitado - mas igualmente tocante - será o facto de haver um "clochard" francês em Lisboa, que costuma arrumar carros ao pé dos Banhos de São Paulo. O senhor tem já uma certa idade e lê o Canard Enchaîné - um luxo que denota uma certa educação, tal como outros pequenos detalhes que o tempo vai deixando adivinhar. As vezes ponho-me a tentar adivinhar as circunstâncias que o trouxeram até cá para praticar um "ofício" que em França não se encontra. Um dia pergunto-lhe.
Que sensibilidades...
Já há algum tempo que não me rendia á evidência de uma mensagem poética... devastadora pela beleza intrinseca e extrinseca.
Fez-me lembrar que há eventualmente um clochard algures em cada Um ...clochard/sem abrigo sentimental/emocional.
Isabel Seixas
Vasco..., que esse dia seja breve.
Pergunte. Mansamente. Quem sabe não existe aí, também, uma história de amor.
Um luxo, nos passos desta vida, como ler "Le Canard Enchaîné"...
Permutas sentimentais num mundo que, quanto ao amor, não tem fronteiras nenhumas...
E sim, Isabel, creio veementemente que todos somos um nadinha 'clochards', disfarçados de seres banais e 'integrados'.
Mas, que essa 'marginalidade' nos é essencial à sobrevivência. E, como eles, não abdicamos de a manter. Mesmo que secretamente...
Perante a beleza dos textos anteriores, eu, que pela defensiva, sou pragmática, diria que há clochards que gostam de o ser e não se imaginam sequer a viver de outro modo.
Mas sê-lo em consequência de um amor mal sucedido é uma história romântica que soa sempre bem!
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