segunda-feira, janeiro 10, 2011

Rocha Vieira

Este é um post que preferia não ter de escrever, mas que, por uma questão de honestidade para comigo mesmo, entendo dever redigir.

O general Vasco da Rocha Vieira é uma personalidade militar e política que, não obstante conhecer mal pessoalmente, há muito me habituei a respeitar e considerar. Prestou elevados serviços ao Estado e tem uma notável folha de atividade pública, que o colocam, definitivamente, num patamar prestigiado da história da nossa democracia.

O jornalista Pedro Vieira é um amigo de há quase três décadas - conhecemo-nos numa passagem sua por Angola -, cujo profissionalismo sempre admirei, desde os tempos de "O Jornal" à "Visão", e com o qual mantenho uma excelente relação pessoal.

Agora, Pedro Vieira escreveu uma biografia de Rocha Vieira. Um livro apresentado numa bela edição da Gradiva, muito bem redigido, bastante documentado, sendo mais do que evidente que o biografado cedeu grande parte da informação ao biógrafo.

Rocha Vieira não necessitava deste livro, Pedro Vieira não necessitava de o ter escrito. Costuma dizer-se que elogio em causa própria é vitupério. E esta obra é elaborada num estilo laudatório que eu pensava já ter desaparecido, por onde perpassam ajustes de contas perfeitamente escusados, remoques que só apoucam o biografado, expressão de ressentimentos que, para mim, são muito pouco consentâneos com a imagem que eu tinha do general Rocha Vieira, a qual procurarei preservar, apesar deste livro. É um livro como uma visão totalmente unilateral, que dispensa, em absoluto, o contraditório, como se o que nele se afirma devesse ser tido como uma incontestável evidência. Em lugar de uma biografia, estamos perante uma hagiografia autorizada do general Rocha Vieira. 

Sei que o Pedro Vieira não vai gostar deste meu post. Mas ele também sabe que eu não escondo nunca o que penso e que, também aos amigos, digo sempre a verdade. E a verdade é que não gostei deste livro.

10 comentários:

Anónimo disse...

E a verdade é que não gostei...FSC

É de facto Também uma das inegáveis alternativas.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

A fotografia da capa é uma verdadeira radiografia do estado de espirito da figura.

Anónimo disse...

Anónimo das 02:43: BRAVO!!!

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Caro FSC

Alguns de nós, felizmente ainda ou já, não gostam do beija mão, do salamaleque, do crédito a conta de favor, do espírito reverencial e reverencioso muitas vezes replicado do pior que tinha a segunda república ou o estado velho do estado novo.

O que não se pode confundir com educação, respeito, amizade, até e sempre no contraponto.

Não conheço Rocha Vieira, apenas o caudal de histórias que ficarão para a história e o respeito que tenho pelo mais nobre da instituição militar, que em termos de hagiografia bate aos pontos fortemente com as necessárias (e serão certamente muitas) necessidades prementes da angiografia biográfica da nossa vida política (e factos são factos, ou não fossemos um povo triste, com líderes tristes mesmo que muitas vezes delirantes, que se perdem na extraterritorialidade da sua condição de amnésicos representantes - novamente com as poucas excepções de quem se perde na tradução).

No fim o povo é sereno, e justo, na... avaliação!

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
No Natal vi esse livro. Folheei-o. Voltei a pô-lo na prateleira e perguntei a mim própria "porquê" e "para quê".
Recentemente um jornalista que respeito, tentou falar comigo a propósito da biografia autorizada que estava a fazer de Jorge Sampaio. Senti um calafrio. Mas cortei cerce dizendo-lhe que não era amiga da pessoa em questão. Assunto arrumado.
Contudo, ainda não percebi porque é que, em vida, se fazem "biografias autorizadas"...

Anónimo disse...

Não li ainda o livro sobre Rocha Vieira razão por que não me posso pronunciar sobre ele;
Os muitos anos que trabalhei em Macau no âmbito da respectiva Administração Portuguesa daquele Território, nomeadamente no Consulado do General Rocha Vieira, permitem-me entender a razão de ser desta edição da Gradiva do amigo Guilherme Valente;
10 anos depois da transferência do Território de Macau para a RPC, é tempo de esclarecer muitos e importantes aspectos relacionados com atitudes e posicionamentos dos mais altos dirigentes políticos portugueses, nomeadamente o então Presidente da República, na fase final do processo de transição e de se fazer justiça ao muito difícil papel desempenhado eficazmente e com toda a dignidade por Rocha Vieira.

-Será que o livro esclarece sobre a forma como o ex Governador de Macau foi recebido em Portugal no final do seu mandato?
-E quanto ao pormaior do destino dado à Bandeira Portuguesa arreada pela última vez do mastro do Palácio da Praia Grande e recolhida junto ao peito por Rocha Vieira, o livro esclarece?...
-E quanto aos contornos da criação da Fundação JORGE ÁLVARES e da posição das autoridades portuguesas sobre os vários equívocos com ela relacionados, o livro esclarece?

Bom, se a referida publicação, de algum modo, contribui para esclarecer alguns destes e outros aspectos do processo de transição de Macau bem como sobre o papel desempenhado, cá e lá, pelos seus principais protagonistas, ela estará plenamente justificada independentemente do estilo literário.

Cumprimentos
João Queiroga

Anónimo disse...

Embora considere que as pessoas devem ser acarinhadas e elogiadas em vida, no caso das biografias autorizadas já não é tanto assim porque, na maioria, acabam por cair na bajulação... e as biografias não autorizadas na maledicência.

As biografias após a morte são, sem dúvida, mais isentas, a não ser que sejam "encomendadas".

Isabel BP

Unknown disse...

Eu compreendo, perfeitamente, a necessidade deste livro, para o senhor general. E quem viveu em Macau durante o seu consulado, principalmente os que não tiveram de dobrar a "espinha" tambem! E, quase certo, este não terá sido o "seu" último livro....

Nuno Lima Bastos disse...

Aos interessados neste tema, permitam-me que sugira a leitura dos textos referidos no link abaixo indicado:

http://oprotesto-macau.blogspot.com/2009/09/indice-da-antologia-da-transparencia.html

Anónimo disse...

Contrariamente a muitas opiniões expressas, li o livro e apreciei muito; fiquei com uma visão dos factos, mas naturalemtne que gostaria de ler outras visões.

A maioria, não gosta muito do rigor e da verdade, gosta mais de comer na gamela ...

Como é que é possível pretender-se nomear para cargos fundamentais no País os amigalhaços? Na internet consta o site Jorge Sampaio, magalhães e silva e associados.

Um ex-presidente da república aufere de condições para viver condignamente, pelo que se optar por trabalhar deverá abster-se de receber a pensão enquanto trabalha.

Isso faria Rocha Vieira ou Eanes, mas Sampaio, Soares ou outros, duvido.

Acho que Cavaco terá uma atitude digna nesse capítulo.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...