Gerald Kaufman, que acabo de saber que morreu ontem, aos 86 anos, era o "shadow Foreign Secretary" ao tempo em que Neil Kinnock era líder da oposição trabalhista. Eu vivia em Londres nesse período e seguia com atenção as prestações de Kaufman, uma voz muito respeitada, num período complexo para a construção de uma alternativa a Margareth Thatcher, que demoraria algum tempo a concretizar-se. Quando isso ocorreu, já sob a liderança de Tony Blair, Kaufman não seria escolhido para liderar a diplomacia britânica, tarefa que coube a Robin Cook. Recordo ainda que é dele a magnífica e assassina frase com que qualificou o programa esquerdista de Michael Foot, em 1983: "the longest suicide note in History".
Como se sabe, na terminologia britânica, os Ministros são designados por "Secretary of State" e aquiles a quem entre nós chamamos Secretários de Estado são apelidados de "Minister", o que muitas vezes confunde a nossa imprensa.
Kaufman tivera funções govenativas num anterior governo trabalhista e havia escrito, já em 1980, um curioso livro sobre o mundo da política governativa no Reino Unido, na relação entre os governantes e o "civil service". Esse livro tem por título "How to be a minister".
Um dia, estando no governo em Portugal como secretário de Estado, numa passagem por Londres, encontrei uma reedição do livro numa livraria e comprei-o. No avião para Lisboa, comecei a lê-lo. Os passageiros foram entrando e, como mais tarde vim a constatar, entre eles devia ir um jornalista. Porquê? Porque, uns dias mais tarde, numa daquelas colunas anónimas de imprensa tipo "Gente", lá vinha uma graça de que eu andava a ler um livro cujo título representava ambições que tinha... Enfim, a intriga, combinada com falta de cultura.