terça-feira, fevereiro 14, 2017

Notícias da geringonça

É indiscutível que os casos TSU e Caixa/Domingues constituíram dois abalos importantes para o governo. 

No primeiro, houve uma evidente leviandade política na expetativa infantil de uma outra atitude por parte do PSD. No segundo, a inabilidade do governo foi ainda mais clamorosa, com erros crassos na avaliação dos constrangimentos jurídicos pré-existentes, espalhando sinais desastrosos na tentativa de "damage control", que se voltaram contra ele. Depois das notas de ontem do primeiro-ministro e do presidente da República, o ministro das Finanças sai obviamente fragilizado deste episódio, sem sequer pode gozar o crédito dos bons resultados financeiros por que se empenhou.

Do lado da oposição, onde o CDS andou apenas a reboque (o deslumbre da candidatura da líder a Lisboa parece obnubilar o partido), Passos Coelho ganhou uma evidente sobrevida no seio do PSD (o que não é necessariamente uma má notícia para António Costa, porque o antigo líder continua a ser o adversário mais fraco que pode ter). Se, no caso da TSU, o seu ganho público foi limitado (e devastador, em termos de credibilidade como partido com sentido de Estado, para um eleitorado mais elaborado), não é ainda claro o que poderá vir a registar a seu crédito com o episódio de Centeno.

Estas semanas podem ter inaugurado, contudo, um tempo novo na relação entre o presidente e o governo. 

Marcelo tem ido mais longe do que a sua "entourage" lhe recomenda, no seu apoio ao governo. À direita, como se esperava, "saltou a tampa" e as críticas já passaram a fase em surdina para se afirmarem abertamente em público. O presidente não dá ares de grande preocupação, mas, intimamente, deve estar a interrogar-se sobre as consequências futuras desta desafetação da sua base política natural de apoio. É claro que a sua popularidade é por ora elevadíssima, mas ter contra ele PSD e CDS é algo que, a prazo, contribuirá para erodi-la. E ele sabe isso melhor do que ninguém.

No lugar de António Costa, eu estaria um pouco preocupado. Cada "frete" que Marcelo Rebelo de Sousa, com desgaste político, faz ao governo é um ponto a débito deste. O presidente tem assim vindo a ganhar "lastro" para poder, um destes dias, fazer uma ou outra jogada de demarcação, que lhe permita reequilibrar um pouco a balança política. E isso vai provocar alguma "estranheza" no seio dos socialistas, em especial se o "tom" presidencial mudar. Não antevejo como provável que Marcelo, acabadas que sejam as operações de estabilização bancária em que se tem fortemente empenhado, volte a disponibilizar-se, de forma tão flagrante, para "escudar" o executivo da forma que o tem feito. Ele vai achar que já cumpriu a sua missão em prol da estabilidade. Talvez a questão da eutanásia seja o primeiro pretexto.

Uma última nota para a geringonça. O caso TSU terá feito ver ao PC e ao Bloco que os riscos do desalinhamento são muito elevados. Ambos devem ter hoje uma maior consciência de que a sua eventual divisão no apoio ao governo PS só pode vir a ajudar a direita. Mas terão mesmo?

15 comentários:

Augie Cardoso, Plymouth, Conn. disse...

E triste sr. Embaixador que este ministro das financas e primeiro ministro na tem coragem de assumir as decisoes QUE fizeram.
MAIS LAMENTAVEL E que Estes deputados, OS representantes dos circos eleitorais na assembleia da republica, nao ponham o M. Das Financas e o Antonio Costa no olho da rua.
Nao vai ha muinto tempo que OS austrlianos fizeram isso mesmo e SUBSTITUIRAM o primeiro ministro sem muita fanfarra.

Anónimo disse...

Claro que os dois partidos têm essa ideia é têm-no mostrado como se vê nas sucessivas intervenções de Jerónimo e no modo como o BE temperou uma excitação mediática que vinha tendo. A questão é saber se o PS a tem. Portou-se como um traidor na questão da TSU - coisa habitual no sonso Vieira da Silva - e na CGD na questão da administração não se comportou do modo que devia, embarcando em excepções ao bom estilo do Bloco Central de interesses.

Anónimo disse...

Em cheio:
- Penosa a explicação de Centeno: um "homem bom" e competente num tanque de piranhas, à espera do reconhecimento público e politico pelo excelente trabalho feito (ingenuidade); o comunicado fora de horas de Marcelo é vergonhoso, é um abraço do urso, que deixa o ministro em agonia.
- O PSD, sem pingo de vergonha, deixou a CGD num sufoco e agora, por mero opurtunismo e vingança, não tem problema em por tudo em causa.
- António Costa tem, por vezes alguma falta de humildade e acha que a transparência é uma treta (veja-se a alteração impensável feita à lei de acesso à informação administrativa); ele foi abençoado pela natureza e nós temos que comer e calar, nada de questionar.
- Marcelo, com o "apoio" ao Governo, apenas tem arrecadado capital para a qualquer momento o poder mandar dar uma curva; é daqueles laranjinhas cegos, que vai quer ver o partido no governo o mais depressa possível e tem feito o caminho mais curto possível para isso.
- O BE e o PCP, embora com formas de atuar diferentes, não vão querer perder a sua clientela política, estão a borrifar-se para o Costa; quando o governo chegar ao fim querem apenas agarrar em meia dúzia de bandeiras e dizer que são suas, afinal o PS continua a ser um partido de direita.

David Caldeira

Anónimo disse...

Um governo de ilusionistas

Não há quaisquer motivos para nos surpreendermos com as mentiras que agora vieram a lume e foram comprovadas. A ilusão está na génese da geringonça. Só os ingénuos ou distraídos é que não se surpreendem...

Só mais uma coisa: o “génio” é sustentado por uns média, máquinas amorfas de repetição de “loas”, um dia uma coisa no dia seguinte o contrário, sempre com a barriga a empurrar para a frente, “sossegando” o povo e continuar o parasitismo do estado....

Serão filhos desta Pátria Portuguesa ?

Não se esqueçam já agora de aprovar a eutanásia, experimentando-a......

Anónimo disse...

Continua a haver, da parte de governo, oposição e governados, a ideia salazarista de que o Governo não pode errar, é por definição infalível. No caso TSU procedeu-se pela via normal e perdeu-se quando o chefe de um partido sobrepôs, mais uma vez, a sua carreira ao interesse nacional. Erro de cálculo, em que parceiros sociais caíram, mas é a democracia.
No caso da CGD, o governo consegue negociar uma solução para o problema principal é , cereja no cimo do bolo, nomear um independente. Depois, por excesso de voluntarismo, leviandade, negligência, talvez um pouco de estupidez e muita inabilidade a reconhecer o erro, arranja um sarilho que delicia naturalmente a oposição, mas sobretudo os comentadores e a c.s. sempre ávidos de escândalos idiotas, mesmo que isso prejudique o país.
Por sinal, o que move Marques Mendes?
Fernando Neves

Anónimo disse...

O Erro da Percepção"

"É próprio do erro poder ser refutado pela experiência e pelo raciocínio. As ilusões dos sentidos não podem ser refutadas assim; são apenas maneiras de perceber que não são normais. Aliás, mesmo as maneiras normais de perceber são ilusões; toda a percepção é, em suma, uma ilusão.

Jules Lagneau, in 'Carta Sobre a Percepção'

Anónimo disse...

Nisto tudo, só uma coisa me parece interessar: a opinião pública. Acho que numa democracia é isto mesmo que mais importa, porque é isto que vai a votos. O resto, são políticos e comentadores a comentarem-se, em circuito fechado. Ora, como é que isto está a ser percepcionado pela opinião pública? Não se correrá o "risco" de fadiga com este assunto?

Anónimo disse...

Parabéns. Os direitolas esperam estes "argumentos" como uma possibilidade de se aliviarem. Da pressão, obviamente. É V~e-los aqui atrás a debitar leis. Pena que continuem a valer 20% do país.

Anónimo disse...

"bacanal de percevejos numa enxerga podre"

Fialho de Almeida.

Anónimo disse...

E nisto tudo acabou por se tomar a nuvem por Juno. O ministro Centeno parece-me um homem honesto, talvez um pouco ingénuo; que para resolver o "grande problema" que outros foram criando na CGD, ao longo de anos" (e que com isto vão sendo esquecido…), pode ter sido enredado e embrulhado… durante as negociações para a entrada dos "salvadores" da Caixa.
Em quem não confio é naqueles que, como estes ex-administradores da CGD, não querem mostrar aquilo que têm, dando a ideia que não querem que se descubra "como o ganharam".
E tantos, tantos embarcam nesta "inversão de todos os valores", desfocando aquilo que é essencial para a sanidade mental e para a vida democrática.
Não acho graça a isto.
M. B.

dor em baixa disse...

Afigura-se-me que o PCP e o BE definiram os seus princípios e mantiveram-nos. O PS é que não cumpriu o que prometera de não haver descidas da TSU para patrões e cometeu um erro de avaliação ao contar tacitamente com o apoio do PSD. Já devia ter aprendido com o que aconteceu no PEC IV mas a tendência para o bloco central exerce nele muita força.

A JOGATANA disse...

Centeno não merecia ser abusado pelos manhosos da geringonça.

É um técnico, e dos bons, parece, não merecia ser embrulhado por costas-catarinas-jerónimos e aquele dos animais.

Se já todos estes conseguiram os seus intentos primordiais, que libertem Centeno e vamos a eleições antes que nos esmurremos contra o muro.

Anónimo disse...

É um prazer ler aqui vários dos comentadores num tom de ódio e desespero de exigência de eleições que contraria o clima que felizmente e de modo alargado se vive hoje em Portugal.



A Constituição cumpre-se, segue-se, a qualidade da democracia melhorou, com muitas questões e decisões a passarem pelo parlamento, em vez de serem marteladas por uma maioria.

Acabou a crispação, acabou o discurso de ódio ao Outro, o discurso de castigo e de culpa em modo calvinista. Acabou o gosto de um governo inteiro pela a humilhação de um povo pelos schaubles, pelos djosselboem, pelo fmi, pela comissão, pelo BCE, pelos holandeses, pelos finlandeses.

Agora, há orgulho patriótico e esperança. Mesmo que haja asneiras. Como a TSU ou a administração da caixa - curiosamente alturas em que o Governo se pareceu mais com a oposição, com as formas e substâncias do PSD e do CDS-PP, e não com a solução que a esquerda viabilizou. Mas os eleitores percebem bem como essa semelhança existiu aí e que nesses casos têm sido o PCP, principalmente, e o BE a manterem o sentido de Estado onde os laranjas, e os fundamentalistas católicos neo-liberais do CDS-PP também, buscam a sabotagem.

O clima económico melhorou, os indicadores também. As pessoas têm mais dinheiro, e respiram de outro modos nos transportes públicos, Acabou o monolitismo económico. Da ausência de alternativas. Há mais gente a perceber as canalhices e mentiras de cinco anos de Passos, Portas e Cavaco E a dívida só poderia crescer, até porque o ministro alemão teima em falar antes de cada ida dos do sul ao mercado. Mas isso da dívida vem de trás. Os números obtidos pelo nosso das Finanças metem a um canto os da medíocre Maria Luísa e os do autistíco Gaspar. Até a caixa apesar das asneiras com Domingues está melhor do que quando metida para debaixo do tapete por Passos Coelho e Paulo Portas a ver se a privatizavam.

É um prazer ver gente a pedir eleições antecipadas na presente situação. Continuação, é o que se deseja. Feliz por os ver escoicear nas caixas de comentários. Feliz com os bernardos ferrões que zumbem contra o governo ao lado dos gomes ferreiras. Feliz com os blogues informativos publicitários que o compromisso portugal apoia ou em pasquins económicos com presença na administração de antónio mota , um que contratou Paulo Portas lá para a empresa.


Anónimo disse...

Permita-me, Embaixador, habituado que está, forçado pelas Necessidades, a hálitos de croquete e lagosta (como diria Bragança Lafões, Nuno) endereçar daqui um suave desejo a alguns comentadores em tom que compreendem e cultivam.

Aos A JOGATANA, anónimo de 14 de fevereiro de 2017 às 12:22, e Augie Cardoso, ocorre-me um bem audível "INCHA, PORCO!".

Anónimo disse...

Com a devida vénia, mais uma opinião......


"Blog Gremlin Literário

QUARTA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO DE 2017
E o rei dos sapos?

2017-02-15

"No pântano a água anda agitada e, com a agitação da água, solta-se o lodo do fundo e fica cada vez mais turvo.
Mas, se lá no fundo está tudo cada vez mais turvo, cá em cima, no fundo, é claro como a água. É um jogo de cadeiras romanas. Na primeira jogada o mundo era todo deles, até os engolidores de sapos estavam com eles, e prometeram mundos e fundos a quem colaborasse.
Quando a coisa deu para o torto, os sapos puseram-se todos ao fresco e sacrificaram o banqueiro, o único que ficou apeado. Até lhe exigiram que entregasse a declaração. Ficou para a história como o oportunista cujo principal objectivo na vida era esconder o seu património da população que lhe ia pagar o ordenado. Um sacana! Pode não ter sido brilhante como estratégia de jogo ter queimado alguém que sabia mais do que dizia, mas quando se tem o rei na barriga a teoria dos jogos deixa fazer tudo, e tudo acabar bem. E, de facto, na primeira jogada foi ele que saiu do jogo. Mas o jogo não acabou.
A segunda jogada foi mais renhida. Apareceram comunicações à superfície, esconderam-se as comunicações de novo no lodo, mas há sempre um Correio da Manhã que as consegue descobrir, e, no que parecia um jogo em que já havia cadeiras para todos, com todos a torcer para a coisa ficar por ali, até porque havia coisas mais importantes para tratar e não havia documentos a comprometer os jogadores ainda na roda, veio-se a reveler que não, que afinal faltava uma cadeira, e que mais um dos jogadores ia ter que ficar apeado.

Quem? Obviamente, o mais totó, o que tinha sido incumbido pelos outros de conduzir a marosca sem, por não ser político nem advogado, se prevenir contra deixar provas documentais espalhadas pela cena do crime.

E deixou, será ele a saltar fora. E é uma boa estratégia de jogo jogar fora o jogador que conhece mais por dentro o processo e sabe o que cada um dos que restam sabiam, mesmo sem ter os documentozinhos assinados a provar o que eles sabiam? Pode não ser...
E o jogo acaba aqui? Não, este jogo só acaba quando todos os sapos ficarem apeados, inclusivamente o último.

Os dois jogadores que restam são virtuosos naquilo a que se chama o tacticismo político.

Qualquer deles merece ficar em jogo até ao fim, mas um deles vai ter que perder nesta jogada. Qual deles? O Correio da Manhã ditará com as suas fugas de informação a conta-gotas.

Mas um deles foi à vinha enquanto o outro ficava à porta, é mais provável que seja o que foi à vinha a saltar. O futuro o dirá.

Neste jogo só há uma coisa fatal como o destino.

Tanto os que saltam, como os que ficam, estão cheios de lama até ao pescoço."

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...