“Acha mesmo que as coisas vão correr mal?”, foi a pergunta de várias pessoas que leram o meu artigo da passada semana, em que, em síntese, eu dizia que Portugal tinha de ter uma estratégia para o caso da sua posição face à integração europeia poder vir a alterar-se. Alguns entenderam mesmo o que escrevi como uma falta de fé no projeto europeu – tanto mais que não me canso de repetir, há muitos anos, que sou tão europeísta quanto os interesses de Portugal assim o justificarem.
Vamos por pontos. A União Europeia, com o seu corpo de polítícas, é, no “mercado” corrente de opções, o melhor “produto” onde poderemos ancorar o nosso futuro. Não tenho a mais leve dúvida disso e, olhando para as últimas três décadas, faço uma avaliação extremamente positiva do nosso percurso europeu. Não posso sequer imaginar o que teria sido do nosso país sem a Europa. Aliás, essa é uma questão meramente teórica: se Portugal não tivesse aderido às instituições europeias em 1986, ter-se-ia juntado mais tarde, em muito piores condições e com muito menos vantagens. Entrámos no momento certo. Obrigado, Mário Soares!
A Europa, o projeto europeu, hoje chamado União Europeia, é, porém, um objeto mutante. O corpo de políticas de 1986 está a anos-luz daquilo que hoje existe, a nossa capacidade para operar o que nos compete na partilha comum de soberanias tem já muito pouco a ver com o dia da adesão. A evolução do projeto europeu fez-se com resultados assimétricos para os “sócios” do clube e, em vários dos seus países, há hoje crescentes questões que comparam as inegáveis sinergias positivas com alguns importantes impactos negativos. E, dessa comparação, no olhar de alguns, o retrato da Europa não a favorece muito.
Quero com isto dizer que há vertentes do projeto europeu que afetam a sua legitimidade política em alguns Estados membros. Mas essa é apenas uma parte da questão: o saber se nos “sentimos bem” nesta Europa que aí está.
O aspeto que o meu texto anterior procurava abordar tinha a ver com a dinâmica da Europa, a sua eventual evolução em termos que possam vir a revelar-se detrimentais para Portugal, seja pela inadequação objetiva de algumas políticas aos nossos interesses, seja – e lamento ter de escrever isto de forma frontal – pela eventual circunstância de virmos a não “ter pedalada” para acompanhar o seu ritmo ou os impactos de certas opções. Estou a falar do euro? Estou.
Continuaremos esta conversa, que, no dia de hoje, me evita Centeno e o livro de Cavaco. Só por isto, viva a Europa!
3 comentários:
Diz o Sr. Embaixador: "Não posso sequer imaginar o que teria sido do nosso país sem a Europa." Eu imagino sim, era outra Albânia!
D. (ex- profª Geografia)
Nós não aderimos à Europa, Portugal mergulhou de olhos fechados e de chapão e continuamos lá no fundo a esbracejar e a engolir pirolitos.
Margarida Marques anuncia no DN, com grande pompa, que está a tentar trazer a Agência Europeia dos Medicamentos para Lisboa. Mas outras capitais também o estão a tentar com qualificadas task forces como Milão e Copenhaga. Mas se hoje os ventos soprarem demasiado forte na Holanda, se Fillon for mis en examen à boca das urnas, se os gerontes do PD, Bersani e Dalema derem o tiro de misericórdia, a EUROPA é tão bonita, não Foi?
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