Não há a menor dúvida de que, logo à noite, Marcelo Rebelo de Sousa será o candidato mais votado. Também é claro que a segunda escolha irá para Sampaio da Nóvoa.
A grande questão está em saber se o candidato mais votado não ultrapassa os 50%, caso em que teria de ir a uma segunda volta. Se isso vier a acontecer, as próximas duas semanas de campanha serão muito interessantes.
Para o governo, uma segunda volta seria positiva, porque reforçaria a unidade das formações de esquerda à volta de Sampaio da Nóvoa o que funcionaria como uma sinergia de reforço da aliança política que apoia o executivo.
Devo dizer que não sei se, mesmo nessas condições, Nóvoa teria hipóteses de colmatar o "gap", em termos de votos, que irá ter face a Marcelo. Como também não sei se o eleitorado que apoia Maria de Belém, que irá ter um mau resultado, se transferiria necessariamente para Nóvoa.
É curioso que, se acaso tudo se tivesse passado ao contrário, isto é, se acaso Maria de Belem estivesse em melhor posição do que Nóvoa, as coisas seriam muito diferentes: toda a esquerda votaria nela, numa hipotética segunda volta, sem a menor hesitação. Mas é hoje evidente que o eleitorado de esquerda se revê muito mais num candidato como Sampaio da Nóvoa do que em Maria de Belém e que parte dos votos que esta obtiver nunca iriam para o candidato da esquerda. Muitos poderiam mesmo ir para Rebelo de Sousa. E isso muda toda a equação.
Voltando ainda ao interesse de António Costa e do governo numa segunda volta, há um aspeto a ter em conta. Se acaso a bipolarização e a confrontação viesse a ultrapassar um certo limite de tensão, e se Sampaio da Nóvoa acabasse afinal por não ser eleito, o governo teria perante si um novo presidente que os partidos seus apoiantes tinham acabado de combater fortemente. Por essa razão, não acredito que António Costa, mesmo na hipótese de uma segunda volta, se envolva demasiado na campanha. É que seria imprudente quebrar as "pontes" com um possível presidente Rebelo de Sousa. Percebo que isto possa parecer cínico para alguns, mas é a realidade.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, uma segunda volta, a acontecer, não deixaria de ter consequências políticas importantes. Contrariamente ao que ocorreu até agora, Marcelo necessitará da máquina da direita - ou, pelo menos, da máquina do PSD - para o ajudar a defrontar a mobilização que o conjunto dos partidos de esquerda farão em torno de Nóvoa. Ora isso funciona precisamente contra a "imagem" que, até agora, procurou criar: a de um candidato "transversal", que entra por algum eleitorado de esquerda através do fator "simpatia". A "despolitização" de Marcelo tem sido a chave do seu sucesso nas sondagens. Duas semanas de campanha com a máquina PSD ao lado transformarão necessariamente o candidato "mainstream" naquilo que ele, na realidade, é e tenta esconder: um político de direita. E isso tornará tudo muito mais verdadeiro.
Mas, para que tudo isso aconteça, é preciso que haja uma segunda volta. Logo veremos.