”O que é Nacional é bom!” era um jingle que andou pela rádio e televisão, noutros tempos, a propósito já não sei de que produtos da empresa “Nacional”. O trocadilho entre o nome da empresa e os produtos portugueses resultava em pleno.
Ontem, a propósito de uma conversa aqui sobre cafés, gerou-se em alguns comentadores uma onda de carinho nacionalista pelos produtos portugueses. E tendo eu manifestado a minha preferência pelo Nespresso, fui logo vergastado por remoques patrióticos. Tendo passado uma vida a promover no estrangeiro os produtos portugueses, não é este café que me tira um minuto de sono.
Mas tudo isto fez-me lembrar um professor que tive no liceu, lá por Vila Real, o dr. Girão, uma figura que nos obrigava a sublinhar os livros a lápis (coisa que hoje, aliás, passo os dias a fazer). O Girão, contudo, deixemo-nos de eufemismos nostálgicos, era um inenarrável chato! E salazarista empredrenido, num tempo em que, para nós, a política tinha muito pouco significado mas em que aquele pouco subliminar proselitismo tinha o condão de nos irritar.
Um dia, ao Girão deu-lhe para meter-se numa de elogio à “preferência nacional” e começou a clamar contra o hábito consumista de se comprarem produtos estrangeiros. Recordo-me de que deu o exemplo de um sabão da barba (na altura não havia espumas ou gel): “O sabão Santa Clara pode não ser melhor do que os sabões estrangeiros. Mas se todos os portugueses com barba comprassem sabão Santa Clara, ao final de uns anos o sabão seria um sucesso e tornar-se-ia tão bom como os sabões estrangeiros”.
Armado em esperto, decidi levar o que fora dito à letra e retorqui: “Ó Xotôr! Os portugueses com barba não usam sabão para a barba!”. O homem foi aos arames! “Não usam?!” E eu, vivaço, respondi-lhe: “Não, não usam. Como têm barba, não fazem a barba, logo, não usam sabão!” O Girão não achou graça à minha graça. E lá fui eu mandado “para a rua” e, dias depois, chamado ao diretor de ciclo! Em casa, a falta foi vista com sobrolho carregado pelo meu pai. Contei então o episódio. E não querem ver que o meu pai usava sabão Santa Clara?! Riu-se imenso e, como o Girão era salazarista, perdoou-me o atrevimento académico.
Esta é uma história já ”com barbas”. Pergunto-me agora: terá tido sucesso o sabão Santa Clara? Nunca o vi. Eu, hoje, pouco patriótico, uso (fui agora ver) Nívea. Ó diabo! É alemão...