Devo dizer que fiquei com pena que Mário Centeno não tivesse aproveitado o encontro com os jornalistas, depois do Eurogrupo, em Bruxelas, para dizer algo parecido com isto:
"Aproveito para agradecer ao meu colega alemão a preocupação que demonstrou com a situação financeira portuguesa. É sempre confortável ouvir um alto responsável de um grande país amigo dar mostras de atenção e interesse específico sobre os nossos problemas, quando sabemos que outros Estados membros revelam fragilidades e dificuldades de cumprimento das metas orçamentais - como aliás aconteceu já com a própria Alemanha, no tocante ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que mereceu então a compreensão de todos nós.
Esta é, contudo, a confirmação de que poderemos sempre contar com o governo alemão no caso do futuro poder vir a trazer algumas surpresas a um executivo português cuja legitimidade democrática tive o gosto de ver reafirmada quando vim pela primeira vez ao Eurogrupo, em palavras simpáticas do meu amigo Wolfgang Schauble.
Aliás, nada disso é novo. Em Portugal, nunca esqueceremos que Angela Merkel, em 2011, esteve, até ao fim, ao lado de Lisboa, apoiando o PEC IV, de cuja iniciativa foi a inspiradora, na tentativa de evitar o resgate. Sempre ficou muito claro que não foi por sua vontade que a "troika" foi chamada a intervir em Portugal. Mas não só! Os meus antecessores, Vitor Gaspar e Maria Luísa Albuquerque, puderam beneficiar sempre, e de forma constante, do apoio amigo de Berlim, para as políticas que, ao tempo, entenderam dever destinar aos portugueses. Aliás, os portugueses também não esqueceram isso, podem crer!
Mas não posso deixar de aproveitar este ensejo para expressar uma palavra de grande solidariedade portuguesa face aos gravíssimos problemas que a banca alemã atravessa. A crise que o principal banco alemão de investimento, o Deutsche Bank, sofre nos dias de hoje, a somar-se à preocupante situação que sabemos persistir na banca de alguns dos Länder alemães, obrigam a que estejamos atentos e, mais do que isso, profundamente solidários com os nossos amigos da Alemanha e as ameaças que possam impender sobre o seu sistema bancário. No que pessoalmente me toca, e em tudo quanto lhe puder ser útil no âmbito europeu, Wolfgang Shauble sabe que pode contar comigo!"