terça-feira, fevereiro 02, 2016

Manuel Pedrosa


Eu sei que o tema da gastronomia é para alguns um pouco deslocado, e até pedante, num tempo em que tanta gente atravessa dificuldades, em que a ida a um restaurante representa para muitos um esforço financeiro excecional. Percebo que falar de restaurantes de luxo ou de vinhos a preços estratosféricos pode ser visto como quase "obsceno" por muita gente. Mas essas realidades, diversas e contrastantes, existem e fazem parte do mundo, configuram um espaço nas economias dos países, pelo que iludi-las na abordagem pública seria como estarmos a iludirmo-nos a nós mesmos. Por isso, por aqui e noutras sedes, continuarei a tratar o tema da Gastronomia. Quem não quiser saber disso para nada pode fazer "zapping".

Porque ontem foi dia da atribuição das "estrelas" do Michelin em França, mas também porque foi a data do desaparecimento de José António Salvador, um homem a quem a divulgação dos vinhos portugueses muito deve, e que merece não ser esquecido, deu-me para falar de restaurantes (que novidade!, por aqui, dirão alguns).

Mas por que diabo este post tem por título "Manuel Pedrosa"?

Porque dos restaurantes cheguei mentalmente à crítica gastronómica e, logo de imediato, apareceu-me este nome. "Manuel Pedrosa" era o nome misterioso que, no início dos anos 70, surgiu em "A Mosca", o suplemento dos sábados do "Diário de Lisboa", a assinar umas notas críticas sobre restaurantes, quase sempre em Lisboa e arredores.

Com o tempo, vim a saber que o "comilão" que opinava era nem mais nem menos do que o escritor e jornalista Luis de Sttau Monteiro. Por esse tempo, o autor do empolgante "Felizmente há Luar" ou desse belo retrato social lisboeta que é o "Angústia para o Jantar" dedicava-se, como modo de vida, ao jornalismo. Em "A Mosca", Sttau escrevia as célebres redações da Guidinha, ao mesmo tempo que nos dava tais notas gastronómicas. Recordo-me que, nesses sábados, alguns leitores das crónicas tinham por hábito ir jantar ao restaurante indicado nesse mesmo dia pelo "Manuel Pedrosa" e que, ao final de algumas semanas, sorríamos com cumplicidade uns para os outros e, em alguns casos, até já nos cumprimentávamos...

Por muitos anos, pensei que o "Manuel Pedrosa" de Sttau tinha inaugurado a crítica gastronómica na imprensa em Portugal. Estava enganado, como há meses o provou Fortunato da Câmara, que sucedeu a José Quitério na "cátedra" gastronómica do "Expresso", que descobriu notas sobre restaurantes assinadas já nos anos 40 do século passado.

(Em gastronomia, aliás como no resto, estou sempre a aprender. Alimentava há anos a teoria de que "A Toca da Raposa" havia sido, em Vila Real, o primeiro restaurante da cidade - não tasca ou casa de pasto ou pensão. Ora o ilustre "vilarrealógrafo" ou "bilógrafo" Elísio Neves logo veio provar da existência de casas do género, ainda no século XIX. Quem te manda, sapateiro...)

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