O nosso embaixador em Brasília, Francisco Ribeiro Telles, deu-me há pouco uma notícia bastante triste: morreu Luiz Felipe Lampreia.
Não fomos íntimos, mas desde há mais de vinte anos que com ele mantinha uma relação de amizade, reforçada no tempo em que vivi no Brasil. Nem sempre coincidimos, nas nossas conversas, no modo como "líamos" as questões bilaterais Brasil-Portugal, mas sempre mantive um grande respeito pela sabedoria e lisura com que defendia os seus pontos de vista.
O Luiz era um diplomata de carreira. Depois de outros postos, foi embaixador do Brasil em Portugal. Seria também ministro das Relações Exteriores do seu país (1995-2001), no governo de Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, trabalhava no setor privado, para além de atividade no âmbito de um "think tank" sobre relações internacionais. Mantinha também um blogue.
Luiz Felipe Lampreia foi um excecional profissional, daquelas figuras de grande categoria que a diplomacia brasileira produz e que alicerçam uma política externa ambiciosa e ativa. Era um homem de grande elegância, palavra fácil e com um conhecimento profundo dos meandros internacionais. Ainda há semanas por aqui citei o seu livro de memórias, "O Brasil e os Ventos do Mundo", onde faz referências à relações com Portugal e à CPLP. Durante a última década, vi o Luiz bastante crítico da política externa do seu país.
Há uns tempos, constatámos que, de certa maneira, tínhamos acabado as nossas carreiras de modo idêntico: na administração e consultadoria de empresas. E quando lhe fiz notar a curiosidade de termos entrado e saído do governo dos nossos dois países precisamente nos mesmos anos, tive o cuidado de acrescentar: "você como ministro, eu como modesto secretário de Estado, nada de confusões!" . A resposta dele foi curiosa: "Modesto? O vosso Cavaco é que chamava aos secretários de Estado de "ajudantes", não era? Olhe, Francisco, se você disser a sua função em inglês ficamos "iguais"..."(referindo-se ao facto do lugar de secretário de Estado, no Reino Unido, ser designado por "minister" e o de ministro por "secretary of State").
Quero deixar aqui uma palavra de respeito e condolências à família de Luiz Felipe Lampreia.
3 comentários:
Também o conheci.
Era chanceler durante a acirrada e (na altura) muito falada "crise dos dentistas".
O seu avô, João Camelo Lampreia, grande amigo de Ramalho Ortigão, foi o último embaixador da monarquia portuguesa no Brasil e por lá ficou com a implantação daRepública em Portugal.
Há mais de um mês o nosso amado, Luiz Felipe nos deixou. Esperávamos que o tempo arrefecesse a nossa dor, mas até o momento só sentimos as saudades aumentarem. No entanto, mesmo sob o signo da incompreensão pela perda tão recente, prematura e injustificável, gostaríamos de agradecer sua mensagem de carinho e atenção por ocasião do nosso trágico 02 de fevereiro, que nunca iremos esquecer.
Abraços,
Das filhas Teresa, Inês e Helena, da sua esposa Karla e da sua Neta Maria Carolina
Caras Familiares de Luiz Felipe Lampreia. Para além do que escrevi ao tempo do falecimento do Luiz Felipe, reitero aqui o meu pesar. Homens como ele fazem falta ao Brasil e creio que todos podemos imaginar o que ele estaria sentindo neste tempo complexo que o seu querido país atravessa. Com amigos cumprimentos. Francisco Seixas da Costa
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