Numa divertida mesa de café, lembrámo-nos, afetivamente dos qualificativos que alguém, já desaparecido há quase uma década, utilizava para qualificar certas pessoas.
Era uma espécie de recorte caracteriológico, por vezes com um toque algo cruel, mas quase sempre bastante justo, de físicos, personalidades e comportamentos.
Alguns dos conceitos são vulgares, outros mais originais ou criativos. Comecemos pelos "dedicados" aos homens:
Animal do presépio - "Esse?! É um verdadeiro animal do presépio. Claro, tirando a vaca e os carneireirinhos...".
Cabaça - alguém que não tem nada dentro da cabeça. "Conheces o tipo? Repete-se-lhe as coisas uma imensidão de vezes e ele nunca percebe! Aquela cabeça não tem nada dentro, é como as cabaças..."
Canastrão - figura masculina já de certa idade mas que, não obstante, faz passar uma imagem de sedutor, o que o torna algo ridículo. "Olha para ele, a "fazer a folha" àquela miúda! Não tem a noção do ridículo! Que grande canastrão que me saiu..."
Chuchador - pessoa que tende a rir-se de tudo e de todos, que não leva nada a sério. "O homem tem graça, mas não para de dizer piadas. Aproveita tudo para chalaças. É um grande chuchador!"
Comedor - pessoa que tem como objetivo aproveitar-se, tanto quanto possa, das coisas e das pessoas. "Aquele tipo?! É um comedor. Aproveita-se de tudo e de todos..."
Comerciante - pessoa que tem o lucro como único objetivo de vida. "Nunca vi ninguém mais amigo do lucro! Onde pode "meter a unha", é certo e sabido que leva quem lhe aparecer à frente!"
Explorador - pessoa que vive no desejo de ganhar o mais possível, mesmo que à custa dos interesses dos outros. "Cuidado com ele! Tem sempre os preços mais altos! Eu nunca lhe compro nada! É um explorador!"
Farfateiro - pessoa bem falante mas cujo discurso é, quase sempre, sem conteúdo. "Quem? Fulano. Ah! a esse "ninguém o leva preso". Tem cá uma lábia para fazer a cabeça aos tolos..."
Figurão - figura que procura destacar-se e promover-se em termos sociais, geralmente motivado por interesses. "Esse é um figurão (o "ão" é prolongado na pronúncia da palavra). Sabe-a toda! Leva na conversa este mundo e o outro..."
Filósofo - pessoa bem falante, com um discurso elaborado, eventualmente com pouca substância. "É um filósofo, cheio de conversa fiada, come as papas na cabeça a meio mundo, sempre cheio de nove horas..."
Gandulo / Gandulote - pessoa com um comportamento social sem maturidade, que não é levado muito a sério. "Cuidado com ele! Não é para levar a sério! Não é de fiar! E comporta-se mal. É um gandulo/ gandulote"
Lambão - pessoa simpática, inofensiva, sempre de bem com os outros, bonacheirão. "Coitado, é um lambão, um bom-serás, não parte um prato, não faz mal a uma mosca..."
Letras gordas - pessoa sem cultura e educação , que nada lê. "Quem? Sicrano? É um analfabeto de pai e mãe! Nunca leu uma linha, é um letras gordas..."
Mão do finado - pessoa distraída que, com facilidade, deixa cair coisas das mãos, a quem se não posem confiar peças frágeis. "Cuidado com ele! Não lhe passes nada frágil para a mão, deixa cair tudo! É um mãos de cebola, é a verdadeira mão do finado..."
Músico - pessoa bem falante, insinuante, às vezes interesseira, com alguma elaboração. "Beltrano é um músico (o "u" lêº-se de forma longa, em tom desconfiado). Tem conversa para tudo, é um finório..."
Orelhas de camurça: "Não vale a pena tentar explicar-lhe nada. É duro de intelecto! É um orelhas de camurça..."
Padeiro / Padeirote - pessoa pouco qualificada na sua atividade profissional. "Não o chames para um serviço! Uma vez, fiz isso e fiquei escaldado! Não percebe nada do ofício. É um padeiro/padeirote)
Pantomineiro - pessoa não confiável, "troca-tintas", eventualmente pouco escrupulosa. "Esse tipo não é nada de confiar. Diz uma coisa e faz outra. Leva-nos no andor, se lhe dermos corda. Cuidado com ele!"
Paralelipípedo batizado - pessoa estúpida, de limitada compreensão. "É um cretino ao cubo! Burro como um calhau..."
Pedaço de asno - pessoa pretensiosa, arrogante. "Esse tipo é um pedaço de asno, a armar ao esperto, a dar-se ares..."
Peneirento - pessoa enfatuada, cheia de si própria. "Nunca vi ninguém tão peneirento! Acha-se o máximo! Tem o rei na barriga..."
Pobre diabo - pessoa que mete dó e suscita comiseração dos outros. "Coitado, é um pobre diabo, não tem onde cair morto, nem um tusto para mandar cantar um cego, mas é boa rez..."
Samelo - pessoa pouco inteligente. "É um samelo, um camelo com cedilha, um pateta alegre..."
Sedas - pessoa "escorregadia", que não desperta confiança. "Esse fabiano é do piorio, insinua-se mas não é de fiar, está de bem com deus e com o diabo, é um sedas do demónio".
Unhas de fome - pessoa forreta, que detesta dispender dinheiro. "Quem? Ir almoçar com esse fulano? É um unhas de fome, só gosta de sítios rascas, não gasta dez reis de mel coado",