quarta-feira, dezembro 08, 2021

‘A Arte da Guerra”


Tenho a impressão de que, desta vez, muitos dos meus amigos não vão gostar mesmo nada daquilo que digo na primeira das três partes do “A Arte da Guerra”, um programa que faço com António Freitas de Sousa, num “podcast” para o “Jornal Económico”.

Nesse ponto, trato das tensões entre o mundo ocidental e a Rússia, a propósito da situação na Ucrânia. Na intervenção, não digo nada que já não venha a dizer há muito tempo, mas julgo que ouvi-la agora pode ser mais “chocante” para alguns, no actual contexto. 

Querem um “cheirinho”? Aqui ficam duas frases. A primeira: “O facto de um país ter um regime cujos princípios se opõem aos nossos não significa que não tenha preocupações legítimas de segurança que temos de respeitar”. A segunda: “Alguns acham normal que a Ucrânia entre para a NATO e que a Rússia nada pode objetar a isso, mas o que aconteceria se o México, por exemplo, fizesse uma aliança militar com a Rússia ou a China? Washington deixava?” E por aí adiante.

Neste programa, também se fala das aproximações dos Emirados Árabes Unidos ao Irão, bem como da Cimeira das Democracias, organizada pelos EUA.

Pode ver o programa aqui.

10 comentários:

Luís Lavoura disse...

Boas frases, ambas.

as aproximações dos Emirados Árabes Unidos ao Irão

E não só ao Irão. Parece que a China está a construir uma base naval lá.

disse...

Quem diz a verdade não merece castigo.

Lúcio Ferro disse...

Bom senso, é apenas isso que se pede, coisa que tem faltado desde a fantochada de Maidan, em larga medida orquestrada pelo Ocidente, ou há poucos dias a bravata da chefe do Foreign Office, montada num tanque na Estónia. Parvos, não sabem com quem se estão a meter, felizmente Biden já veio corroborar que não haverá boots on the ground. Bela análise, ou fica tudo como está e se mete na cabeça dos tolinhos da liderança ucraniana que devem ficar sossegados ou a Rússia come mais un chunk da Ucrânia, a sua segurança nacional assim o obrigará.

José disse...

Constatações óbvias baseadas no senso comum.
(basta lembrarmo-nos da crise dos mísseis em Cuba)

MAS... os EUA são uma democracia, sujeita a controlos internos que mantêm o Governo dentro de limites, enquanto a Rússia nunca foi uma democracia e é, atualmente, dirigida por um malandro da pior espécie.

Os EUA, apesar de tudo, têm mais a temer do México do que a Rússia tem a temer por parte dos países de Leste.

Ninguém - nem um louco -, se lembraria de atacar a Rússia enquanto que a Rússia parece ter facilidade em atacar os outros.

Os vizinhos da Rússia querem mais é que ela se esqueça deles e os deixe viver "à ocidental".

O maior tampão que pode existir entre a Europa ocidental e a Rússia é uma série de países pacíficos e prósperos. Ora, quem parece querer impedir isto é a própria Rússia.

Putin está a seguir os passos de Hitler. Só não vê quem for cego.

É muito fácil fazer comparações. O pior, como sempre, são os detalhes.

José disse...

Interessante a análise do Lúcio Ferro.

A Rússia não quer a NATO junto das suas fronteiras, portanto, anexa partes da Ucrânia.
Pormenor de somenos importância: quanto mais território ucraniano for anexado, mais próximas ficam as fronteiras da NATO. Ou seja, não é a NATO que se aproxima, é a Rússia que vem ter com ela. Isto, claro, por meras questões de segurança nacional, que os ucranianos são gente muito agressiva e com um longo passado de ataques à Rússia.

Outro pormenor pouco importante: as zonas anexadas/anexáveis são russófonas. Passo à frente da comparação com Hitler e a sua proteção dos "alemães étnicos" mais o "espaço vital", para dizer que estas áreas, num cenário de PAZ, seriam um excelente "tampão" natural através da influência cultural e económica da Rússia.

Venha, então, mais uma anexaçãozita - pelas melhores razões -, e comecem a preparar os vossos argumentos para os estados bálticos onde ainda há forte minorias russófonas que estão, mesmo, a pedir que a Rússia alegue questões de "segurança nacional".

Ah, e Kalininegrado? Aquilo também é uma questão de "segurança nacional"?

Quem faz de Chamberlain? Quem faz de idiota útil?

Luís Lavoura disse...

José,

Chamberlain não era um idiota. Era um tipo patriota e consciente de que tinha o Império Britânico a defender. Ele sabia que, se a Inglaterra entrasse em guerra com a Alemanha, ficaria de tal forma exaurida financeiramente e militarmente que seria incapaz de manter o Império por muito mais tempo. Por isso, de forma totalmente racional, ele procurou por todos os meios impedir que a Inglaterra entrasse em guerra com a Alemanha. Chamberlain explicou isso muito claramente: a Inglaterra tinha de escolher entre manter o seu Império ou travar Hitler na Europa. Racionalmente, Chamberlain escolheu a primeira opção.

Churchill optou pela segunda opção e, consequentemente, três escassos anos após o fim da guerra já a Inlgaterra tinha que abrir mão da Índia, a joia da coroa. Poucos anos depois largou todo o resto do império sem sequer dar luta. Estava de tal forma endividada que não tinha forma de lutar, muito menos quando o seu credor - os EUA - preferiam que o Império fosse desmantelado.

Temos que nos lembrar hoje de Chamberlain, como Você bem diz, e seguir o seu bom exemplo: metermo-nos em guerras só nos conduz à ruína.

Luís Lavoura disse...

Lúcio Ferro

ou a Rússia come mais un chunk da Ucrânia, a sua segurança nacional assim o obrigará

Comer chunks da Ucrânia é muito mau para a Rússia. Ter absorvido a Crimeia só lhe trouxe montes de despesa. (Só a construção da ponte sobre o estreito de Kertch já foi uma despesa brutal.) A guerra no Donbass também não a beneficia em nada. É só despesa para a Rússia. Invadir mais pedaços da Ucrânia sairia ainda mais caro.

A Ucrânia é um gigantesco pedaço de caca e ninguém de bom senso, nem a Rússia nem o "Ocidente", deve querer ficar com nada dela. Aquilo por lá é só corrupção e fábricas velhas. Ficar com aquilo só dá despesa, proveito nenhum.

Lúcio Ferro disse...

Luís Lavoura,
"Ter absorvido a Crimeia só lhe trouxe montes de despesa. (Só a construção da ponte sobre o estreito de Kertch já foi uma despesa brutal.)"

Tem alguma dúvida de que o investimento russo na Crimeia faz todo o sentido e de que a prazo só traz benefícios à Rússia e a quem lá vive? Esquece o posicionamento geoestratégico da Rússia, as bases em Sevastopol e arredores? Dali a passar o estreeito do Bósforo é um pulo às bases russas na Síria. A reconquista da Crimeia, que é disso que se trata (a Crimeia só foi ucraniana de nome), foi feita em larga medida por causa da interferência desastrada do Ocidente na política da região, no suporte que deu aos golpistas neo-nazis ucranianos, na total desorganização que se seguiu e que foi o argumento lógico para a intervenção da Rússia; é caso aliás para dizer que o Ocidente se pôs mesmo a jeito. Diz o Luis que a aventura ficou cara aos russos. Mas, digo-lhe eu, que olhe que não, olhe que não, uma ligação terrestre, para além do estreito de Kerch, por exemplo por Maripol, por certo não estará a ser negligenciada no Kremlin, com mais este estúpido passo em falso dum ocidente que não pode comprar brigas com chineses e russos em simultâneo. A ver vamos.

Joaquim de Freitas disse...

« MAS... os EUA são uma democracia, sujeita a controlos internos que mantêm o Governo dentro de limites,” diz um comentador.


Pois é, mas por vezes os "controlos internos" entram pela porta da Casa Branca, assaltada pelos democratas ao “molho americano”…que recusam o voto dos eleitores…Ou no joelho dum polícia em cima do pescoço dum negro até à asfixia…mortal!

Ou no assassinato dum presidente que ousou votar leis contra a discriminação racial…E no do seu irmão, ministro da justiça, que queria continuar no mesmo caminho.

Ou no assassinato dum pastor, líder negro, que ousou sonhar …de democracia na América.” I have a dream “ Onde a lista macabra de negros mortos a tiros pela polícia americana continua crescendo.

Ou na maior prisão do mundo, em proporção da população. Onde a maioria dos presos pertence às minorias negra e latino.

Onde os “controlos internos” permitem uma impressionante lista de tiroteios em escolas, sem igual no mundo. A NRA explica que são as escolas que matam, não as armas.

Quanto ao efeito dos “controlos internos” na politica exterior americana, 18 guerras locais no mundo desde 1945, algumas sem aval da ONU, países destruídos até às fundações, materiais e sociais, milhões de mortos, dezenas de milhões de pessoas deslocadas, em deambulação miserável nas estradas da Europa, ou afogando-se nos mares .

Assassinatos “corajosos” por drones no mundo, dos inimigos que não se ousa afrontar a pé , e tudo isso sob a protecção da “extraterritorialidade” das leis americanas que permitem escapar ao TPI da Haia…

Embargos mortais dos povos recalcitrantes que não aceitam a “democracia” americana…

Democracia que serve de álibi para o pior. A democracia porta nela os pontos fracos nos quais uma grande maioria de homens políticos se introduz para fazer os “seus” negócios. Estamos longe da severidade da democracia de Atenas.

Podemos sonhar de Democracia… Eu continuo à espera…As regras introduzidas por Péricles deviam ser aplicadas hoje. Por exemplo, que os dirigentes do Estado, deputados, ministros, etc., sejam obrigados a prestar contas no fim dos seus mandatos.
E que quando não os exerceram satisfatoriamente a não reeleição, só, não seja considerada suficiente para ser exonerado da justiça, que nesse tempo era o “ostracismo”, isto é o exílio por 10 anos …

Mais ainda, todo cidadão ou deputado que propunha uma lei ficava responsável dessa lei durante um ano, o que quer dizer que podia ser trazido para tribunal pelas pessoas que se estimavam vitimas dessa lei.

A Democracia precisa de reparações urgentes. E se os representantes do povo, apresentam por vezes muitas lacunas de toda a ordem, os cidadãos, pela sua falta de educação politica, também não merecem outra coisa. Têm os representantes e os governos que merecem.

José disse...

"Chamberlain explicou isso muito claramente: a Inglaterra tinha de escolher entre manter o seu Império ou travar Hitler na Europa. Racionalmente, Chamberlain escolheu a primeira opção."

Como é que um ateu como eu dá por si a dizer tantas vezes "Meu deus!"?...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...