Há sete anos, nas redes sociais em Portugal, bem como na imprensa em geral, creio que muito pouca gente - se alguma - falava de Éric Zemmour.
Em outubro de 2014, escrevi neste meu blogue um post sobre Zemmour, onde assinalava o meu fascínio analítico por essa figura hiper-reacionária - disse então que ele era visto em França como um “facho”, com o “o” fechado à francesa - que animava, de forma altamente polémica, o mundo mediático daquele país.
Nesse post, escrevi, nomeadamente, isto:
“ Gosto de "malditos", confesso. Quando vivia por França, não perdia um "On n'est pas couché" onde Eric Zemmour, com um género físico de "fraca figura" comparável a Aznavour, seduzia pela sua inteligência "facho", politicamente muito incorreta, com uma vivacidade e uma cultura excecionais. Depois do seu forçado e estúpido afastamento do programa da France 2, segui-o para o Zemmour/Naulleau e lia as suas crónicas no Figaro Dimanche. E vou tentando acompanhar os livros que publica.
Zemmour é um jornalista e escritor desencantado com o manifesto declínio do seu país. Com pena fácil e verbo ácido, esconde por detrás do sorriso (é especialmente perigoso quando começa a mover a cabeça com ar de assentimento) uma atitude de aguda agressividade face àquilo que entende que está a descaraterizar a França contemporânea - as culturas estrangeiras, as políticas migratórias, as atitudes de permissividade multicultural que entende por perversas por parte da esquerda, mas também de alguma direita. Tem coragem para ser impopular, o que é sempre raro. Na polarização política francesa, é visto como um mero "compagnon de route" de Marine Le Pen. O que é muito injusto para ele e, a contrario, elogioso para a líder da extrema direita. Dele saiu agora o livro "Le suicide français". Não tenciono perder.”
Vim a ler esse seu livro, como já tinha lido os anteriores, bem como o que acaba de ser publicado.
Zemmour anunciou ontem ser candidato à eleições presidenciais francesas, procurando deslocar para si o voto em Marine Le Pen, tida como inevitavelmente derrotada por antecipação, numa eventual segunda volta contra Emmanuel Macron, bem como o apoio de uma direita clássica que está a ter uma forte dificuldade em definir um nome consensual, com hipóteses (que sempre acharia muito remotas) de poder vir a evitar a reeleição deste.
A oficialização da candidatura de Éric Zemmour foi o tema da minha curta “estreia” ontem, por Skype, como comentador regular, no mais novo canal televisivo português.
7 comentários:
Li os dois ultimos livros de Zemmour.
Sem esquecer que foi condenado nos tribunais por racismo, com as suas pseudo-teorias, Eric Zemmour há muito procura dar uma base ideológica à islamofobia, querendo tornar apresentável um discurso que, na verdade, é apenas o do ódio e do obscurantismo.
É uma deriva muito perigosa para a sociedade francesa, pois Eric Zemmour visa dar argumentos aos piores xenófobos, incentivando actos que seriam completamente impossíveis de controlar.
Este é o próprio mecanismo de incitação ao ódio, e é nisso que não podemos permanecer indiferentes a esses comentários. Graças ao apoio irresponsável da mídia que, durante anos, complacentemente cedeu fóruns a esse condutor de pensamento - já condenado por incitar o ódio racial - essas teorias estão devastando a sociedade francesa, que Eric Zemmour chama de preparação para uma guerra civil contra os muçulmanos .
“Agitar o povo antes de usar”. Antiga receita do malvado Talleyrand-o-coxo, mais relevante do que nunca.Trump também conhecia esta receita, com a qual levou a democracia americana à beira do precipicio em frente da Casa Branca.
O talentoso agitador-propagandista incendiário Zemmour está bem no seu papel, fortemente retransmitido pela mídia às ordens. Ele retomou, num timing perfeito, a restrição de um correligionário Finkelkraut envelhecido, exausto e à beira de um colapso nervoso, com um discurso retumbante que permaneceu inesquecível na mente dos telespectadores da A2. francesa, que não sei se o Sr. Embaixador Seixas da Costa viu…
A artimanha deste berbere argelino, filho das montanhas Djurdjura, tornado francês de papel pela prestidigitação de Adolphe (não Hitler, mas o outro, Issac Crémieux) vai ao encontro da estratégia da tensão cuja regra é mentir, dividir e destruir o outro.
Nessas circunstâncias, o alvo é a religião islâmica. Aplicada fortemente, como um elefante numa loja de porcelana, pelos pequenos soldados neoconservadores BHL, Meyer Habib, Taguieff e seus acólitos do círculo do Oratório.
Essa baixa política de destruição do outro, foi inaugurada ruidosamente, em 2001, pela caça ao diabético Bin Laden, esse James Bond das cavernas afegãs, uma criatura mefistofélica saído directo das farmácias secretas de golpes retorcidos e, decretado pelos globalistas , inimigo público N ° 1 do mundo e símbolo emblemático de um "Islão radical" terrorista, bárbaro e odioso do Ocidente.
A "guerra ao terror" declarada pelo alcoólatra Cruzado GWBush e para a qual a ONU, esta loja de roupas legal, foi modesta e cheia de contenção, é na realidade apenas uma guerra total contra o Islão, este sistema de valores e princípios contrários, no essencial, aos interesses desta dita democracia ocidental, arrogante, segura de si e dominadora.
O giratório e infatigável Zemmour, este Iznogoud está encarregado por seus pares, de causar o incêndio da casa França, de empurrar para a guerra civil estigmatizando a população francesa de fé muçulmana e denunciando-a como uma ameaça. nacional contra os interesses da nação francesa e seus valores republicanos.
Portugal, com um politico que estende o braço "à la Mussolini e Franco", deve ter cuidado com o exemplo Zemmour. Eles eram bons oradores, os fundadores de Auschwitz e Treblinka.
Houve uma época em que Enrico Macias, o outro berbere argelino, o "oriental-sentimental" cheio de amor e de gratidão, nos cantava, com trémulos na voz, um "tu Paris, tu me levaste nos teus braços". Zemmour , ingrato e amnésico, desempenha a o papel de um Nero que o espectáculo de Paris em fogo e sangue deliciaria.
Que ideias tem Zemmour além de ser contra os muçulmanos e os imigrantes?
E que propõe ele fazer contra os muçulmanos e contra os imigrantes, além de os proibir de dar nomes estrangeiros aos filhos?
Para um tipo supostamente tão inteligente e tão culto quanto Zemmour, parece-me muito pouco em matéria de propostas políticas, proibir as pessoas de chamar Mohamed ao filho e Aicha à filha. Ele não tem mais nada a propôr aos franceses?
Exactamente Louis Lavoura ! Um incendiàrio não tem ideias normais.
Tem, Lavoura. Eu, que me dei ao trabalho de ouvir três ou quatro longas entrevistas feitas ao fulano (mais um ou dois debates), ouvi-o falar de muitíssimo mais do que a questão da imigração. Ouvi-o falar sobre a UE, a energia, as alterações climáticas, as relações com os EUA, etc. E até o ouvi queixar-se de que os jornalistas andam sempre à volta da questão dos imigrantes.
Quanto aos ditos imigrantes, Lavoura, ele propõe MUITO mais do que questões de cosmética. Por exemplo, ele quer proibir a reunião familiar automática, quer - parece-me -, redefinir a política de asilo -, quer expulsar quem não se porte bem, quer aplicar limitações aos "serviços de cidadania" (expressão minha), e por aí além. Mas, para saber estas coisas é preciso ouvi-lo.
Faz sempre bem esforçarmo-nos um pouco. Não faça como o outro, que anda a lamber blogues brasileiros e franceses e a copiar expressões de terceiros. Informe-se. O Zemmour tem uma voz um bocadinho irritante mas consegue-se ouvir.
Felicito o Joaquim de Freitas pelo excelente texto. É bom encontrá-lo por aqui, quando visito este blog, pois saio mais bem "equipado"...
João Pedro
Obrigado João Pedro. Creio que é sempre bom confrontar ideias. Mas, sobretudo, é bom não deixar alguns crer que esquecemos as lições do passado.
Enviar um comentário