Um dia de 1996, Eduardo Prado Coelho, então Conselheiro Cultural da nossa embaixada em França, disse-me que seria interessante se eu aproveitasse uma das minhas frequentes idas a Bruxelas, como secretário de Estado, para estar presente numa iniciativa de uma determinada associação de jovens portugueses e luso-descendentes em França, que estava a fazer coisas interessantes e que era desejável apoiar.
Segui o seu conselho e assim fiz: lá estive, creio que no centro de congressos da porte Maillot, num evento da “Cap Magellan”, que era o nome dessa associação da qual, até então, eu nunca ouvira falar. Era seu principal animador um jovem beirão, Hermano Sanches Ruivo, que fora para França, muito cedo na vida, com os pais.
Treze anos depois, acabado de chegar a Paris, dessa vez como embaixador, tive Hermano Sanches Ruivo, recordo bem, como um dos primeiros visitantes em casa.
A “Cap Magellan”, que havia sido criada em 1991, já tinha entretanto uma relevante história de realizações, no seio do associativismo da nossa comunidade, mobilizando muitos jovens.
Hermano Sanches Ruivo, que a impulsionara e à qual permanecia ligado, a exemplo de outras figuras da comunidade portuguesa, um pouco por toda a França, tinha optado por seguir uma carreira política.
Uma estrutura de coordenação de eleitos portugueses, que entretanto criara e animava, já não estava sozinha no terreno, espelhando uma competição política que passou a atravessar esse setor da comunidade.
Essa era uma realidade com que a embaixada que eu dirigia se habituou, com toda a naturalidade, a viver, não sem que a nossa leitura das coisas se afastasse, por vezes, daquela que aquelas e outras estruturas do associativismo português iam alimentando.
Hermano Sanches Ruivo revelara-se, entretanta, a figura da nossa comunidade que, creio, mais longe ascendeu na vida política francesa, assumindo mesmo, por bastante tempo, cargos de relevo na estrutura municipal de Paris.
Acompanhei o seu trabalho com Bertrand Delanöe e, mais tarde, com Anne Hidalgo. Muitas e importantes iniciativas que, no âmbito da autarquia parisiense, foram dando destaque e projeção à comunidade portuguesa tiveram o seu entusiasmo e seu esforçado empenhamento como assinatura. Tive o ensejo e o gosto de participar em muitas dessas atividades, de as estimular e de as apoiar, mesmo depois de ter deixado de ser embaixador em França.
A vida em geral, com a vida política em particular, é feita de altos e baixos, que fazem parte da anormalidade incontrolável dos seus insondáveis ciclos. Para Hermano Sanches Ruivo, fiquei há dias a saber que os últimos tempos não estarão a ser fáceis. Só posso lamentar por ele, mas também pela comunidade portuguesa em França, para quem a sua figura foi uma referência. Só posso esperar que tudo possa vir a correr pelo melhor, no seu futuro.
Neste tempo de festas que, para o Hermano não serão dias muito felizes, quero deixar-lhe aqui um abraço muito sincero de simpatia pessoal, deixando claro que não esqueço o muito de positivo que fez, ao longo de bastantes anos, por Portugal e pela nossa comunidade em França. E só posso desejar-lhe, como por lá se diz, “bon courage!”
1 comentário:
"não sem que a nossa leitura das coisas se afastasse, por vezes, daquela que aquelas e outras estruturas do associativismo português iam alimentando. " Lendo atentamente a frase, creio compreender o que o Sr.Embaixador quer dizer...
Um dia, por volta do meio-dia, encontrei-me perto dum restaurante português em Paris, que não conhecia. A saudade dum bom prato português levou-me a correr o risco de ficar desapontado...Porque não é não importa onde que se encontram restaurantes como um que descobri a ultima vez que fui à minha terra de Guimarães, em Moreira de Cónegos...
Havia muita gente mas consegui mesmo assim um lugar numa mesa, mas acompanhado. Como não tinha a intenção de passar lá muito tempo, esperei um bocado antes de ser servido. Mas não acabei o almoço. Para grande surpresa minha, vi entrar um grupo ruidoso e por sinal muito bem recebido. Compreendi melhor quando as duas ultimas pessoas entraram...Eram "habitués"segundo me disseram ao lado...Havia Marine e o seu séquito ... O patrão veio acolher a "cliente" com efusão e manifesta simpatia. Começaram então pequenos discursos nas mesas, que me incitaram a pagar e ir embora...Não sabia que havia na comunidade portuguesa de Paris "laços" tão estreitos...com a extrema-direita fascista. Mas é a democracia...
Lamento para o Sr.Ruivo, que aparentemente não tinha as mesmas companhias e talvez não fosse cliente do mesmo restaurante…
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