Partiu a Leonor Xavier. Foram anos de luta corajosa contra o “passageiro clandestino” que lhe rondava as horas.
Há meses, escrevi aqui este texto sobre ela. Hoje, neste dia de tristeza, fico contente pelo facto de ela ter podido lê-lo e apreciado, como me disse.
“É uma mulher com algumas vidas, com muitos livros, com imensos amigos, com uma coragem acima do mundo. À minha amiga Leonor Xavier, a existência tem pregado partidas, sustos e, às vezes, jogado com ela às escondidas. A Leonor, com aquela voz rouca e doce que, à primeira vista, poderia transportar um discurso naïf, é alguém que descobriu que as dificuldades se agarram de caras, que os problemas se resolvem combatendo em terreno aberto. É uma cabeça arejada, positiva, que olha as pessoas de frente, guiada por uma ética à prova de bala, com valores que caldeou ao longo dos anos. Quando saímos do seu convívio, das conversas sempre interessantes que com ela temos, fica-nos uma admiração imensa pela sua força e determinação. Posso dizer uma coisa muito sincera, sem correr o risco de se julgar que estou a fazer um ’número’?: saio sempre melhor do que me sentia, depois de falar com a Leonor, nem que seja apenas pelo telefone. Mas, claro, tenho saudades dos almoços lentos no Ribatejo, das ocasiões em que ela sabe juntar a gente certa, para horas divertidas, coisa que a pandemia interrompeu. Lembrarei para sempre aquele seu aniversário louco, com baile, na Barraca! E a poesia na igreja do Rato. E o debate sobre o Brasil no El Corte Ingles. E recordo as histórias com Sérgio Godinho e Nélida Piñon no CCB. E também me fazem falta as noites na Dois, no Procópio, com a Leonor a dar a deixa para as gargalhadas da Alice. Em outros tempos, também com o Raul por lá, depois os tempos passaram a ser com alegres saudades dele. A Leonor faz sempre da vida uma festa - e, para nossa sorte, convida-nos para ela!”
(Estou certo de que a Leonor teria gostado que eu utilizasse, nesta sua despedida, a fotografia que lhe tirei, em sua casa, no Ribatejo, há seis anos, no aniversário de Maria Antónia Palla, quando foi descortinar aos baús a sua imensa coleção de trajes de Carnaval.)
1 comentário:
Os meus pêsames. Tenho sempre presente a sua voz. Lindíssimo texto. Obrigada Sr. Embaixador.
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