O exercício não era fácil, mas deu-me algum prazer, há umas horas, no Grémio Literário: um assumido republicano como eu sou a apresentar um livro do meu colega e amigo embaixador José de Bouza Serrano, em que basicamente se aborda, com bastante detalhe e informação, a questão da crescente tendência das figuras da realeza europeia para casarem fora dos seus círculos mais tradicionais.
Para alguns, imagino que o tema possa parecer sem grande pertinência, muito ligado ao “gossip” social das revistas cor-de-rosa. É um erro. A estabilidade institucional de alguns Estados europeus pode vir a passar por ali. E isso pode constituir-se numa questão política relevante. Assim, entendi que interessava procurar refletir em que medida o fim desse “glamour” exclusivista conduzirá, ou não, a uma banalização das casas reais e, por essa via, da instituição monárquica. Ou será que a tendência para aliar os “royals” a gente “comum” vai acabar por humanizar mais as monarquias e aproximá-las dos cidadãos? A resposta não é unívoca, até porque cada caso nacional é um caso diferente. As ameaças sobre a monarquia que hoje existem em países como a Espanha, a Bélgica ou a Holanda não se comparam com a relativa estabilidade em que vive, por exemplo, a generalidade das monarquias nórdicas. Foi isso que procurei analisar, depois de ter abordado as razões históricas que, a meu ver, justificam a permanência de regimes monárquicos em alguns Estados europeus.
Com a interessante e muito informada contribuição do historiador Lourenço Correia de Matos, foi possível transformar o lançamento do livro “As Famílias Reais dos nossos dias - tradição e realidade” num momento de alguma reflexão política e institucional prospetiva. Tentei que o meu republicanismo não fosse excessivamente contrastante com um ambiente em que o monarquismo abundava, porque não estávamos ali para discutir, mas para refletir. A experiência diplomática, creio, pode ter ajudado. Se o consegui ou não, só quem esteve presente (e foi uma casa cheia, com muita gente de pé) poderá dizer.
2 comentários:
A estabilidade institucional de alguns Estados europeus pode vir a passar por ali.
É claro que, se as monarquias desses Estados forem substituídas por repúblicas, serão instituições que terão perdido a estabilidade.
Agora, qual o mal que isso possa trazer, ou os perigos que possa acarretar, é que não vejo.
Para mim é, de facto, uma questão absolutamente irrelevante.
Justíssima evocação ao trabalho do Lourenço Correia de Matos, Senhor Embaixador.
Apesar de jovem, o Lourenço é um insigne historiador que tem já uma vasta e brilhante obra publicada. Destaque para o livro sobre a história do Real Club Tauromáquico Português, escrito de forma muito cuidada e completa, com uma precisão e qualidade habitualmente pouco vista entre nós.
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