quinta-feira, novembro 29, 2018

António Patrício Gouveia


Foi uma bela homenagem a que foi prestada a António Patrício Gouveia, o chefe de gabinete de Francisco Sá Carneiro, que com ele morreu em Camarate, em 4 de dezembro de 1980. Faria este ano 70 anos.

Conheci o António na Escola Prática de Administração Militar, onde fui seu instrutor de “Ação Psicológica”, nos meses que antecederam o 25 de abril. Recordo-me do seu sorriso jovial, do ar brincalhão com que encarava aquela tropa a caminho dos dias do fim do regime. Creio que fomos apresentados pelo Simões Ilharco, como ele um homem do jornalismo. Um dia, numa conversa na parada do Lumiar, concluímos que já nos tínhamos encontrado, no início dos anos 70, nuns colóquios da Sedes (ainda na rua Viriato), onde tinha ido umas poucas noites, até concluir que aquilo era demasiado “moderado” para mim. O ambiente eufórico de 1974 não deu para constatar que, embora da mesma idade, quase tudo nos separava, dos círculos de vida às convicções políticas. Isso não impedia que, sem sermos propriamente amigos, mantivéssemos uma relação de grande cordialidade e simpatia mútua.

Recordo perfeitamente a última vez que falámos, ele no pátio do palácio das Necessidades onde tinha ido por qualquer razão, eu pendurado na janela da minha sala das “Económicas”, que dava para esse espaço. Foi aí por inícios de 1979. Provavelmente, trocámos trivialidades e rimos de alguma coisa - ambos éramos dados ao humor e nada sisudos.

O António era uma pessoa altamente preparada. Era uma figura em ascenção do PSD, com um futuro brilhante à frente, nomeadamente na política externa, onde contava com bons amigos, alguns dos quais cruzei no ISEG, na tarde de ontem, na homenagem que lhe foi prestada. Partiu muito cedo, aos 32 anos.

Fez-me muita impressão a sua morte. Foi bonito ver Marcelo Rebelo de Sousa associar-se à sessão e nela proferir um tocante discurso dedicado a alguém que era um seu amigo pessoal. E foi um gesto muito simpático ver atribuída ao homenageado, pelo presidente da República, a título póstumo, a grã-cruz da Ordem do Infante.

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

Devia ser de uma família muito católica e dada à mania das nobrezas (que se deteta pela extensa lista de apelidos e em particular por dois apelidos sempre juntos).

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...