segunda-feira, novembro 26, 2018

Protocolo



Tive o gosto de ser convidado a proferir, na manhã de hoje, a conferência inaugural das XIII Jornadas Internacionais de Protocolo, organizadas pela Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo (Aporep), que se realizam na reitoria da Universidade Nova de Lisboa.

A minha palestra intitulou-se “Ensaio sobre os rituais e a convivência internacional”. Numa conversa de quase uma hora, passei em revista as origens e as dinâmicas contemporâneas do Protocolo diplomático, igualmente focando as suas múltiplas declinações sectoriais, oficiais ou não: militares, académicas, parlamentares, religiosas, autárquicas, empresariais ou outras.

O Protocolo é uma atividade que, tal como os árbitros de futebol, deve procurar ser discreta e passar despercebida, infelizmente quase sempre só se relevando quando alguma coisa “corre mal”. As regras protocolares constituem um sábio “código da estrada social”, que facilita a convivência, supera equívocos, dá previsibilidade confortável às situações, igualiza entidades e evita que o relacionamento institucional coletivo, em especial na ordem internacional, seja capturado pelo poder e pelo arbítrio. É, no fundo, uma soma essencial de bom senso, eficiência, pragmatismo, cooperação e cortesia. 

Desprezar o Protocolo, a que De Gaulle chamava “a ordem da República”, como se vê fazer a alguns “parvenus”, é quase sempre sinal de arrivismo, de preconceito demagógico, de populismo saloio, as mais das vezes assumido com arrogância e desprezo por quem tem a desdita de não conseguir ser educado e a urbanidade de saber ser respeitoso para com os outros. E citei o que um dia Jaime Gama escreveu: “Vencer o preconceito em torno do Protocolo é um ato de maturidade que aperfeiçoa as sociedades e lhes confere um acrescido grau de liberdade, porque lhes acrescenta civilização”.

Terminei a palestra recomendando aos participantes naquelas Jornadas: “não sacralizem o Protocolo, não absolutizem o cerimonial, mantenham mesmo alguma saudável ironia sobre as suas liturgias, mas conheçam bem e nunca esqueçam todas as suas regras, até para poderem, quando quiserem, desrespeitá-las, mas sempre em plena consciência”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Lido com gosto mas....

Despacho:

Veja-se bem as dificuldades de protocolo da 1ª Republica Portuguesa e do actual Regime no principio das suas vidas protocolares a nível internacional.
Seriam todos pacóvios e não se interssando pelo exercício protocolar internacional ou eram apenas revolucionários primários, os quais até queriam dar liçóes quanto ao interesse do protocolo internacional.

Não deferido por não ter falado nisso numa conferência universitária.


[ As regras de protocolo fizeram pela primeira vez parte de um acordo que foi inscrito no Tratado de Viena de 1815 para os países que o assinaram.]

Anónimo disse...

Caro Francisco,

A propósito de protocolo, morreu há dias, aos 93 anos, Renato Pinto Soares, o meu primeiro chefe (e também Chefe do Protocolo ). Era um homem de outro tempo mas tinha muitas qualidades, a primeira das quais foi confiar sempre nos seus jovens adidos e assumir a responsabilidade pelos erros que estes cometiam. Também não tinha medo do poder político o que o desfavoreceu na carreira mas o deixou de consciência tranquila.

Anónimo disse...

Não assinei o meu post anterior...

Um abraço do

JPGarcia

Isabel Amaral disse...

Na era da comunicação digital o protocolo é essencial para se transmitir a mensagem pretendida sem que nada desvie a atenção do público. Como dizia o Tayllerand, só os tolos fazem troça do protocolo. As pessoas inteligentes e cultas reconhecem a sua utilidade. E defendem-no de forma brilhante como o fez na conferência de abertura das XIII Jornadas Internacionais de Protocolo na Universidade Nova de Lisboa. Muito obrigada pela sua intervenção que em muito contribuiu para o êxito destas Jornadas.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...