quinta-feira, setembro 27, 2018

É dos livros !


Foi numa capital europeia. Notava-se que aquele funcionário português, ali colocado, andara todo o dia a passarinhar à volta da figura política que chefiava a delegação vinda de Lisboa. Era uma evidência que queria agradar-lhe, talvez para poder ter algum apoio futuro na sua carreira profissional. Compreensível, mas menos bonito de observar. 

Íamos em grupo, numa rua. A certo momento, o político viu uma livraria e disse que ia entrar, por um instante. Ficámos cá fora, à espera. O tal funcionário, que vinha um pouco atrás, inquiriu onde estava o governante. Ao saber que tinha entrado na livraria, apressou-se a juntar-se-lhe. 

O gesto, pelo caráter impulsivo da coreografia assumida, surpreendeu-nos a todos, mas talvez mais a alguém que, em voz alta, se interrogou sobre o que levara o homem a entrar com aquele afã na livraria. 

Recordo o “esclarecimento” de uma outra pessoa, concedo que um tanto cruel: “Felicitem-se por termos sido testemunhas de um momento único”. Interrogativos, olhámos para ele, que logo concluiu e elucidou: “Ver aquele tipo entrar numa livraria é uma ocasião histórica”. Logo um terceiro, mais maldoso ainda, acrescentou: “Só ultrapassado pelo dia glorioso em que ele, de facto, vier a ler um livro...” 

Há gente muito mazinha...

2 comentários:

Anónimo disse...

Lido

Despacho:

Todos que sabem ler poderão ler todos os livros do mundo. Mas só alguns sabem fazer uma ficha de leitura correcta do único livro que leram.

O que será mais importante: A ficha de leitura de um livro ou saber ler, para ler um livro sem reter nada dele?


Não deferido

Anónimo disse...

Show me a family of readers and I will show you the people who move the world.
NB

Vargas Llosa

Era um escritor genial. Politicamente, era um reacionário. Às vezes, acontece. Na minha hierarquia íntima de admiração, alguns desses criado...