domingo, setembro 16, 2018

Copianço


A denúncia - com “name and shame” - de plágios de teses universitárias e de currículos falseados é muito salutar. 

É bom que quem por aí anda na vida pública perceba que não pode mentir sobre o seu passado, sem o que todos ficaremos na dúvida sobre se não nos vai mentir no futuro

11 comentários:

Anónimo disse...

Neste caso penso que os culpados são os que acompanham os doutorandos e o júri que o ouvio pois não se apercebeu do copianço.
As exposições orais servem exactamente para o juri se inteirar como o doutorando domina o tema. É muito importante a honestridade do apresentador.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Sem dúvida!
Tenho-me vindo a aperceber que o problema não é assim tão residual, no caso da Universidade de Lisboa, tenho constatado a crescente importância dada às medidas anti-fraude académica face à que se dava há cerca de 10 anos.

AV disse...

É um problema crescente - ou talvez a nossa percepção sobre as suas dimensões seja maior do que há anos atrás. Tem proporções alarmantes em muitas Universidades, mesmo em sistemas de ensino conceituados, como o britânico, por exemplo, que conheço bem, sobretudo com o número crescente de alunos internacionais oriundos de sistemas de ensino muito diferentes, em que copiar é visto como aceitável. Isto, apesar das Universidades disponibilizarem recursos apreciáveis para treinar esses alunos no que é a boa prática académica.
A responsabilidade é sempre do indivíduo que comete o plágio. Não é justo pô-la nos supervisores e nos júris de prova, a não ser que estejam cientes de que houve plágio e sejam coniventes com isso. Na maior parte das vezes não estão ou, tendo dúvidas, porque detectaram variações no estilo da escrita ou porque haja discrepância entre a fluência do texto e a do indivíduo que têm à frente, é difícil provar que houve plágio, a não ser que isso seja detectado por um software próprio para isso, como o Turnitin.
O uso deste software é prática corrente na maior parte das Universidades britânicas para a maior parte dos trabalhos submetidos pelos alunos. Funciona bem para cópias directas ou para o refrasear demasiado semelhante de trechos que consegue pesquisar. Não detecta fontes que não pesquisa ou que estejam noutras línguas não foram traduzidas.
Também não detecta o fenómeno crescente do ghost writing académico, em que alunos pagam a outros para lhes fazerem os trabalhos. Há inúmeras empresas especializadas nisso e é uma verdadeira indústria. Muitas usam o Turnitin, que afinal é um produto comercial, para salvaguardar que não haja detecção de cópia e assim garantir a satisfação dos seus inúmeros clientes.
Acrescento que muitos destes indivíduos são razoavelmente convincentes a discutir o trabalho que passam por seu. É também justo reconhecer que o volume de supervisandos que muitos professores estão obrigados a ter, num sistema de ensino que se tornou cada vez mais comercializado, não permite o acompanhamento de perto que havia há 20 ou 15 anos atrás.
Este é um dos legados da liberalização e comercialização da política de ensino superior iniciada por Thatcher e que todos os governos subsequentes, incluindo os do Labour têm reforçado. Mas também é uma prova de que quem está determinado a fazer batota e a ser desonesto encontra (quase) sempre meios para isso.

Anónimo disse...

Mas em Portugal o que importa....são oa números para as estatíticas do ensino brilhante que temos.
Os xumbos são só para os que não se apresentam às provas.

Anónimo disse...

@Ana Vascocelos.

Mas finalmente os seu exemplos podem ser meras citações que não estão indicadas como tais. Vê se bem que os juris muitas vezes não se apercebe disso porque se o doutorando não questiona as citaçõs de outros é só para apresentar "palha" como se dizia antigamente.
Uma tese tem sempre de conter uma introdução, uma exposição escrita e uma conclusão. Nestas três partes se se não conseguir detectar que a proposta da tese, o seu desenvolvimento e a sua conclusão não são do autor, então a culpa é de quem a leu.
Cada um sabe de si.

Anónimo disse...

Cara Ana Vasconcelos,

No sistema de ensino britânico, copiar é aceitável, não me parece...

Em Portugal é de facto alarmante pesquisar, ajuda em teses e encontrar de norte a sul, imensa oferta, quer de particulares, quer de empresas e passam fatura.
A culpa do plágio claro, que é do aluno, de quem mais poderia ser?

Mas um orientador, que, conhece o aluno e normalmente conhece e já leu trabalhos do próprio, sabe perfeitamente se o fez ou não.

Imagine uma criatura, que, habitualmente, sempre como 99% dos portugueses, diz: havia há 20 ou 15 anos atrás! De repente escreve na perfeicão havia há 20 ou 15 anos. É só um exemplo das barbaridades, que ouço e leio diariamente.

Claro, que, antes de bolonha não havia tanta aldrabice, só fazia mestrado quem seguia a via académica.
Agora cursos de 3 anos (direito 4) mais mestrado e ums quantos internships mais as viagens, porque esta gente aos 23 anos, quase deu a volta ao mundo, se não aldrabar os CV, faz como? Não há tempo para tudo, mas, depois nas entrevistas, adeus.

O nosso ensino, se focado na publicidade e não na excelência, que, apregoa mas não cumpre, não contribui para o desenvolvimento de quem o frequenta. Por exemplo, aquela faculdade de economia, com nome em inglês e tudo! Em Carcavelos, encostada a Oeiras, em cima da marginal, ainda em obras e que vão continuar...
Sem qualquer possibilidade, de no futuro ser ampliada. Dinheiros privados, na construção, mas, os alunos e, por enquanto a maioria são portugueses,pagam propinas e por ali andam no meio do pó e do barulho das máquinas, sem biblioteca!!! Sem sala de estudo!!! Sem transportes públicos!!! É entrar e sair rapidamente, alguns levarão quase duas horas até casa. E ainda não começou a chover...

p.s. Tem biblioteca e sala de estudo, mas, ainda por terminar. Nem para o próximo ano lectivo estarå tudo concluído. Estou a ser otimista.

AV disse...

Anónimo das 16:00: ‘meras’ citações não referenciadas como tal e não atribuídas aos seus autores são uma forma de plágio e como tal não são admissíveis em trabalho académico.

AV disse...

Caro anónimo das 19.22 - Está equivocado; eu escrevi que existem sistemas de ensino muito diferentes do britânico em que copiar é aceitável; não escrevi que o é no sistema de ensino britânico. Por não o ser, as suas universidades usam os sistemas de deteção de plágio a que me referi.
Existem muitas formas de má prática académica e de desonestidade intelectual, que não se limitam ao plágio, assim como existem várias formas de plágio, Algumas são mais fáceis de detectar do que outras. Dizer que um supervisor “sabe perfeitamente se [o aluno ou a aluna] o fez ou não” é por isso uma simplificação. E ‘saber’ não basta - é preciso provar.

Anónimo disse...

@Ana Vasconselos.

Concordo com tudo quanto diz.

Nos finais dos anos 80 tive que ir para Paris porque em Lisboa não consegui preparar a investigação pretendia para uma tése de doutoramento que pretendia fazer.
Por lá encontrei um mundo universitário diferente do de Lisboa. Como era um assunto muito pouco trabalhado, de história, ficaram muito entusiasmados com a minha ideia. Em Portugal disseram-me muitas vezes que era dificil de defender um trabalho tão inovador. Não me disseram que era controverso mas quase.
Conheci em França muitos investigadores da minha área que só me perguntavam como me tinha lembrado do tema, sempre que lhes explicava o que pretendia investigar.
Li muito em fontes primárias, li muito em livros para confirmar que quase nada tinha sido feito. Mas só consegui estar pronto para defender tese alguns anos depois, com sucesso.
No meu caso não era possivel fazer plágios e uma verdadeira tese é aquela onde não se podem incluir citações sem as indicar.

As teses de mestrado não são bem teses mas sim aquilo a que chamávamos um trabalho de fim de curso para se ver a capacidade do aluno para fazer investigação e de expor o seu trabalho.
Nunca indiquei que eram só os alunos que tinham culpas. Referi que os elementos do juri incluindo quem tinha acompanhado o mestrando teria também uma grande responsabilidade dos casos em apreço, apenas.
Com os meus cumprimentos,

AV disse...

Caro comentador das 13.50, reconheço-me em grande parte no que escreve. Na área em que trabalho também não existiam doutoramentos em Portugal nos anos 90, o que me levou a fazer um percurso idêntico ao que descreve. Por saber do trabalho árduo que tantos colegas puseram na sua investigação, sinto uma grande frustração e desapontamento para com o crescente número de casos de plágio e de desonestidade intelectual que, estou convencida, são a ponta do icebergue.
No contexto em que eu trabalho, esta tendência tem sido facilitada por alterações na política de educação, que muito mudaram a natureza do sector universitário e se reflectem, directa e indirectamente, nas práticas de trabalho
Saudações académicas e cumprimentos,

Ana

Anónimo disse...

@ Ana Vasconcelos.

Para mim todas as Universidades, não cintíficas mas sociais, são apenas uma extenção daquilo que era dantes o ensino liceal.
Sei que andam por essas áreas alunos que frequentam a universidade para que os pais não tenham vergonha de dizer que o filhote não faz nada.
Enfim as nossas universidades refletem bem este país onde as estaíticas me contradizem.

Em 1979 voltei à universidade para acabr a minha licenciatura interrompida por várias razões.
Uma das cadeiras que tinha de frequentar tinha por título: História de Potugal Actual. Por curiosidade inscrevi-me na cadeira.
Quem regia a cadeira era um jornalista muito conhecido da nossa praça naquele momento, não sei por que artes as suas. Fui à primeira aula. Não gostei e deixei de lá ir. No fim do ano fui às pautas ver o que me tinha acontecido. Para meu espanto tinha passado com um 10. Resumindo o regente da cadeira: ou era muito humano ou queria baixar-me a média.
Aquela cadeira na reforma seguinte passou a opção e eu nunca optei por ela. Houve também muitos colegas que tiveram passagens adminitrativas por não haver regentes para todas as cadeiras. Enfimm foram temppos que marcaram o mundo académico de uma forma muito negativa.
Cumprimentos

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