Pela voz de Amália, Pedro Homem de Melo crismou as palavras - “havemos de ir a Viana” - daquele que é hoje o hino informal de Viana do Castelo. Quem por lá for, por estes dias, ouvi-lo-á por toda a parte, de tal modo a canção se colou à pele da cidade e dos vianenses.
O próprio Homem de Melo, veraneante na vizinha Cabanas, era um visitante regular de Viana. Há muitos anos, no centro da Praça da República, uma figura então muito conhecida da cidade, Zé Rancheiro, ao vê-lo aproximar-se, disse alto, com voz sonante, uma quadra do poeta: “O rio passa em Cabanas / Por entre fragas ... tão lindo / que embora desça da serra / parece que vai subindo”. O declamador concluiu com um admirativo “Belo poema!”, ao que Homem de Melo terá retorquido, com um largo sorriso: “Dito por Vossa Excelência!”, tudo terminando num cumprimento cavalheiresco.
A Praça da República de Viana - finalmente liberta do “mostrengo” da estátua do Caramuru, que agora, da Praia Norte, para onde foi desterrada, poderá vislumbrar melhor o Brasil da sua lenda - não vai por estes dias ser palco de “jogos florais” com a elegância passada. É que o espaço medieval enche-se agora de bombos, de música no coreto, de gigantones e cabeçudos, imagens de marca da Romaria de Nossa Senhora da Agonia - as Festas, para o vianense.
As Festas andam por toda a cidade: do desfile das Mordomas à Festa do Traje, das procissões ao Cortejo histórico, das cantigas ao desafio às filarmónicas, dos arraiais aos tapetes coloridos de sal da Ribeira, da feira no Campo da Agonia ao variado fogo de artifício, com destaque para a Serenata sobre o Lima. E até se sentem lá no alto, em Santa Luzia, com a basílica agora de faces lavadas.
Sejamos justos! Não se encontra, pela província portuguesa, uma romaria igual. O mundo, aliás, sabe isso. Tirando a coreografia do fado, a única imagem do folclore português que sobrevive no estrangeiro, nos dias de hoje, não é outra senão a das lavradeiras vianenses - dos trajes vermelhos aos azuis, dos verdes de Geraz ao negro das noivas, com o orgulho (“chieira”, diz-se em Viana) do seu ouro por cima. A mulher, aliás, é a dona das Festas. O traje local dos homens é por ali algo incaraterístico, com a notável exceção das camisas de linho bordado (a minha é imbatível, desculpem lá!).
Se quer um bom conselho, caro leitor, vá às Festas a Viana, durante este fim de semana único. E não se deixe tomar pelo “fica para o ano”, fingindo levar a sério o dito “havemos de ir a Viana”. Vá agora! Eu já lá estou!
4 comentários:
Isso é tudo bonito de dizer. O pior é arranjar alojamento condigno que não fique a quilómetros do acontecimento!
Concordo com o Albertino Ferreira. Ir às festas de Viana como? Só se se tiver reservado hotel com um ano de avanço!
E depois há o resto. Há dois anos passei pela Ponte do Lima duante as Feiras Novas. Estacionei o carro a um quilómetro (com sorte, podia ser pior) do centro. Era hora do almoço e eu queria almoçar, tal como os meus filhos, antes de dar uma volta a ver as Feiras. À porta dos restaurantes havia filas de dezenas de pessoas a aguardar. Tive que me vir embora e ir almoçar a Braga. Aquilo durante as festas nem almoçar num restaurante se pode!!!
Mais ano menos ano, irei!
Sintonizo muito com a publicidade aos lugares que nos são significativos, especialmente quando fogem do mapa do useiro e vezeiro.
Boas Festas!
Senhor Embaixador:
Lamento, mas não consigo com tanta falta de civismo:
"As Festas andam por toda a cidade: do desfile das Mordomas à Festa do Traje, das procissões ao Cortejo histórico, das cantigas ao desafio às filarmónicas, dos arraiais aos tapetes coloridos de sal da Ribeira, da feira no Campo da Agonia ao variado fogo de artifício",
FOGO DE ARTIFÌCIO ???, contra os dispositivos legais e contrariando todo e qualquer bom senso em época de fogos ???
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