segunda-feira, agosto 20, 2018

Rubins


Por esse tempo, não tínhamos automóvel. Nos agostos das “férias grandes”, saídos de Vila Real, de comboio, com incómodos transbordos na Régua e no Porto, chegávamos finalmente a Viana, após imensas horas de viagem e esperas. À saída da estação, onde a família nos aguardava, cortávamos logo à direita e, de seguida, à esquerda, “para apanhar a sombra dos Rubins”, no dizer do meu pai, tático experiente dessas comodidades comezinhas. 

A Rua dos Rubins (na imagem) é paralela à principal artéria de Viana do Castelo, a Avenida dos Combatentes. Nos dias ensolados de caloraça, tem uma sombra magnífica. Os Rubins acabam junto ao cais mas, por essa altura, já se chamam, humildemente, Travessa do Salgueiro.

Era pelos Rubins que seguíamos, até cruzar a Rua Manuel Espregueira, que o meu pai sempre designava pelo nome antigo de S. Sebastião. Nas mãos dos homens, que se revezavam, iam as malas, nessa altura sem rodas (o inventor das rodas nas malas merecia ter tido um Prémio Nobel!). Na esquina, numa rotina sem exceção, o meu pai entrava, por um instante, numa casa comercial, para dar um primeiro abraço vianense ao seu amigo Magalhães Monteiro. Depois, um pouco adiante, tomávamos a direção de doca, pela Rua de Santa Clara, até chegar à casa da minha avó. Instalado finalmente no quarto, invariavelmente, eu olhava, lá no alto, a basílica e o hotel de Santa Luzia.

Foi assim, por muitos anos. Saudades desses tempos? Só das pessoas e de mim por esses anos. Mas confesso que me satisfaz bastante, agora, estar a escrever isto, com a paisagem tão simples dos Rubins à minha frente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Memórias dum passado longínquo. Viver para contar!

Unknown disse...

Família originária de Amesterdão, que passou a Portugal no séc. XVII na pessoa de Guilherme Rubin, filho de outro de igual nome e de Atida Ransulem, naturais de Antuérpia católicos romanos que "tinham oratório em sua casa onde iam ocultamente ouvir missa" . Guilherme estabeleceu-se em Viana estabelecendo comércio com as índias e com o Brasil. Com o tempo passaram os Rubins a usar o apelido Roby porque assim lhe deturparam o primitivo. Um belo relato da saga familiar pode ser encontrado no livro do meu pai " A Morte da Avó" https://www.dn.pt/lusa/interior/portugal-e-o-grande-protagonista-da-obra-a-morte-da-avo-de-roby-amorim-8978888.html. A casa dos Rubins / Roby em Viana era nesta rua que tem o nome da família na esquina com a rua General Luís Rego. Mais tarde foram viver para Braga dividindo-se a família em duas casas na cidade a das Hortas e a de Infias https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_%C3%8Dnfias onde ainda hoje moram.

Carlos Fonseca disse...

"Mas confesso que me satisfaz bastante, agora, estar a escrever isto, com a paisagem tão simples dos Rubins à minha frente."

E magnificamente instalado na, menos simples, mas muito confortável, Casa Melo Alvim.

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