Nos dias que correm, muito daquilo que os governos fazem no tocante à Europa passa pela área das Finanças e pelos gabinetes dos primeiros-ministros. A obsessiva agenda económico-financeira, que absorve o discurso da União Europeia, ajuda bastante a que assim seja. Acresce que o Tratado de Lisboa, ao afastar os ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho Europeu (instância máxima de decisão da União), veio criar (desnecessárias) dificuldades ao trabalho das diplomacias nacionais no processo funcional em Bruxelas.
Quando o atual executivo foi criado, fiquei curioso em observar como se processaria articulação funcional entre o primeiro-ministro, o chefe da diplomacia e a secretária de Estado dos Assuntos europeus. Como penso que se compreenderá, mantenho uma particular atenção ao tema, desde que, já há mais de quinze anos, tive algumas responsabilidade por essas áreas - se bem que entre a Europa desse tempo e a de hoje haja um imenso mundo de diferenças.
Devo dizer que, à partida, tinha uma expetativa de que as coisas se iriam passar bem. António Costa detinha uma grande experiência europeia, por ter sido ministro de várias pastas, por ter dirigido conselhos de ministros europeus e por ter sido vice-presidente do Parlamento europeu. Augusto Santos Silva, embora sem prática política direta no setor, tinha um vasto, diversificado e rico currículo governativo, além de ser uma das melhores "cabeças" do executivo, de que em boa hora passou a ser "número dois". Finalmente, Margarida Marques é, nos dias de hoje, sem a menor dúvida, pelo seu profundo conhecimento da maquinaria bruxelense, com décadas de experiência na estrutura da Comissão e com uma valiosa e atualizada rede de contactos, uma das pessoas melhor habilitadas em Portugal neste domínio.
Ao final destes meses, as minhas expetativas, como observador exterior, foram francamente excedidas. Acho que o "triângulo" institucional referido projeta uma imagem de grande eficácia, de conhecimento e de elevada sensibilidade para os problemas, numa das vertentes que hoje são mais decisivas para o futuro de todos nós. A rápida, adequada e certeira reação às diatribes do ministro germânico das Finanças mostra uma forte determinação e um assinalável sentido de responsabilidade.
Como português, antigo diplomata e já longínquo "operacional" nessa área, fico muito satisfeito por ver a diplomacia europeia de Portugal em excelentes mãos, o que só comprova a capacidade de montagem e gestão de equipas de António Costa.
5 comentários:
Amen
Há, efetivamente, uma alteração de fundo no que diz respeito à verticalidade negocial de Portugal para com Bruxelas. E só isso já não é pouco. A Alemanha teme que o controlo das operações se esvaia inexoravelmente dos seus tentáculos. O que Schauble afirmou tem muito a ver com isso. Temos vindo lamentavelmente a esquecermo-nos de que, em democracia, não se pode remar contra a vontade do povo.
Sr. Embaixador, será que estamos preparadinhos para quando chegar o TTIP /TAFTA, é que vamos ficar mesmo centrados e daí que vão desaparecer as desvantagens da periferia?!
"Tomo Momofante" terá, com todo o gosto, o seu comentário aqui publicado, mas só quando o assinar com o nome por baixo. Acusações da gravidade da que fez sob anonimato não "passam". Vá lá, coragem!
Senhor Embaixador,
Sei do que falo e em Bruxelas e arredores a personagem era e é conhecida por ser de caprichos e não comunicar toda a informação à hierarquia. Eu consegui fazer um curso na área de Segurança convidado pela UE mas contra a opinião de Sara Marques que se tentou opôr. É isto uma funcionária que defende os funcionários portugueses nas instituições, agora alcandorada a chefe de gabinete? Basta consultar o meu processo individual nas Necessidades. Precisa também que lhe acrescente que milito no PS desde os 18 e que fui autarca em três differentes circunscrições em Lisboa? Acho que chega.
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