Sempre tive a ideia de que há qualquer coisa de naïf no modo como olhamos as belas manhãs. Um dia a nascer com um sol de exceção cria a expetativa de que as coisas vão correr muito bem, que o resto do dia vai estar à altura do modo como começou. Ora a experiência mostrou-me que só muito raramente as coisas se passam assim. Os dias correm como têm de correr, às vezes mal, outras bem e, na maioria dos casos, assim-assim, que é a sina média das coisas. A mim, com toda a franqueza, isso já não me angustia minimamente. Cada vez mais, vivo bem e sereno com a uma mediania razoável de objetivos, satisfaço-me e valorizo "o que vier à rede". (Até a simplória "filosofia de almanaque" de que este texto está imbuído é prova evidente disso). Transformei-me, desde há bastante tempo, num militante fervoroso do "possibilismo", uma "técnica" que refinei ao requinte e que me permite raramente ter desilusões (e, podem crer!, relativiza e atenua as chatices, na lógica sábia de que "o que não tem remédio remediado está"). Aliás, olho quase sempre com algum gozo sobranceiro para a ambição obsessiva de alguns, embora reconheça que é ela que, lá no fundo, tem o poder de mudar a sério as coisas. Só que eu já há muito que não "ando por aí", não "estou nessa", razão por que repito, sem a menor melancolia, a frase conformada, desencantada e tão verdadeira, mas que sei que irrita bastante alguns: "é a vida!". Será por isso que, desde sempre, estas manhãs radiosas me "dizem" tão pouco?
domingo, julho 03, 2016
Manhãs
Sempre tive a ideia de que há qualquer coisa de naïf no modo como olhamos as belas manhãs. Um dia a nascer com um sol de exceção cria a expetativa de que as coisas vão correr muito bem, que o resto do dia vai estar à altura do modo como começou. Ora a experiência mostrou-me que só muito raramente as coisas se passam assim. Os dias correm como têm de correr, às vezes mal, outras bem e, na maioria dos casos, assim-assim, que é a sina média das coisas. A mim, com toda a franqueza, isso já não me angustia minimamente. Cada vez mais, vivo bem e sereno com a uma mediania razoável de objetivos, satisfaço-me e valorizo "o que vier à rede". (Até a simplória "filosofia de almanaque" de que este texto está imbuído é prova evidente disso). Transformei-me, desde há bastante tempo, num militante fervoroso do "possibilismo", uma "técnica" que refinei ao requinte e que me permite raramente ter desilusões (e, podem crer!, relativiza e atenua as chatices, na lógica sábia de que "o que não tem remédio remediado está"). Aliás, olho quase sempre com algum gozo sobranceiro para a ambição obsessiva de alguns, embora reconheça que é ela que, lá no fundo, tem o poder de mudar a sério as coisas. Só que eu já há muito que não "ando por aí", não "estou nessa", razão por que repito, sem a menor melancolia, a frase conformada, desencantada e tão verdadeira, mas que sei que irrita bastante alguns: "é a vida!". Será por isso que, desde sempre, estas manhãs radiosas me "dizem" tão pouco?
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4 comentários:
Simpatizo com a sua posição, já que, embora reconheça a importância do desejo de fazer coisas, sei bem que os nossos esforços normalmente saem baldados e convém aprender a lidar com isso. No entanto, isso não é uma razão para não apreciar uma bela manhã. Basta que nos lembremos que ela não é nenhuma indicação de como vai correr o dia (e o mesmo vale para uma manhã cinzenta).
Sr. Embaixador também me passaram essas sensações pela cabeça!
então tentei perceber porquê ?! cheguei a uma conclusão que será porque temos manhãs radiosas em grande quantidade durante praticamente todos os meses do ano, então como não é raridade...
bom domingo:)
As manhãs são sempre radiosas, mesmo para aqueles que nestes dias com cabeça maquiavélica , congeminam a fuga face ás responsabilidades.
O brexit vai servir para justificar eleições antecipadas. estava tudo a correr tão bem !
E se a CE aplicar sanções contra Portugal,virá a habitual gritaria da "culpa é do governo anterior", os mercados, brexit ,etc. etc, 785 milhões de euros de dívida que se escoaram em 15 anos entre os dedos dos socialistas.
Os socialistas só sabem governar com o dinheiro dos outros e o país permite...até quando?
vai servir cabeça maquiavélica , que já tem o plano congeminado:
O brexit vai servir para justificar eleições antecipadas. estava tudo a correr tão bem !
E se a CE aplicar sanções contra Portugal,virá a habitual gritaria da "culpa é do governo anterior", os mercados, brexit ,etc. etc, 785 milhões de euros de dívida que se escoaram em 15 anos entre os dedos dos socialistas.
Os socialistas só sabem governar com o dinheiro dos outros e o país permite...até quando? estava tudo a correr tão bem !
E se a CE aplicar sanções contra Portugal,virá a habitual gritaria da "culpa é do governo anterior", os mercados, brexit ,etc. etc, 785 milhões de euros de dívida que se escoaram em 15 anos entre os dedos dos socialistas.
Os socialistas só "sabem" governar com o dinheiro dos outros .
“Transformei-me, desde há bastante tempo, num militante fervoroso do "possibilismo", uma "técnica" que refinei ao requinte e que me permite raramente ter desilusões (e, podem crer! relativiza e atenua as chatices, na lógica sábia de que "o que não tem remédio remediado está"). Aliás, olho quase sempre com algum gozo sobranceiro para a ambição obsessiva de alguns, embora reconheça que é ela que, lá no fundo, tem o poder de mudar a sério as coisas.”
Senhor Embaixador : Esta frase, bem « décortiquée » vale o seu peso em ouro ! Creio que a aceitação do: "o que não tem remédio remediado está" , pode significar o abandono puro e simples de toda e qualquer acção que poderia melhorar a vida de multidões de indivíduos que sofrem. Ora, não seria daqueles que têm a capacidade intelectual de exprimir a revolta contra o que não deveria existir, que este dever se impõe?
A “opinião pública”, inventada por Voltaire, permitiu de levar o grito de revolta contra as iniquidades da religião, ao conhecimento dos grandes do reino, e do rei antes de mais. E assim, de salvar a reputação de Calas, em Toulouse. Só um intelectual o podia fazer.
Revejo-me francamente naqueles que goza no segundo parágrafo da citação acima, porque, no fundo, considero que só “a ambição tem o poder de mudar a sério as coisas”, como muito bem escreve. E como muito bem sabe, foram os intelectuais que fizeram a Revolução Francesa, que permitiu de “mudar a sério “ o feudalismo na República.
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