segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Déjà vu

Foi hoje, passava um minuto da uma hora da tarde. Eu ia atrasado para a reunião na FCSH, da Universidade Nova, na avenida de Berna. Entrei com o carro para o pátio da Faculdade (privilégio de quem é membro do Conselho da Faculdade). Um aluno ia a atravessar e eu travei a fundo. A culpa era toda minha. Pedi desculpa e fui estacionar.

Aquele episódio, sem consequências, ficou a bailar-me na memória, não percebi então bem porquê. 

Duas horas depois, antes de ir buscar o carro, "caiu a ficha", como dizem os brasileiros.

Havia sido há 43 anos, em 1973. Eu entrei naquele mesmo portão, a guiar um Fiat 128. Não tinha carta, confesso! O carro não era meu, era emprestado. Ali era o chamado "Trem Auto", onde se "tirava a carta" militar. Era o que eu ia fazer. À minha frente, já dentro do pátio, atravessou-se um Alferes. Travei a fundo, pedi desculpa, ele olhou-me de soslaio. Eu era apenas Aspirante, como se via pelas divisas.

Fui para a sala de provas. O Alferes entrou. Era o mesmo! E ia ser o meu examinador!

- Você vinha a guiar o carro? Tem carta civil?

- Não, não tenho...

- Essa agora! E então anda a guiar sem carta?

- É verdade! Trouxe o carro de perto...

- Pois, pois! Bonito!

Ele tinha toda a razão. Temi o pior. Mas passei, sem dificuldade.

Um dia, já na "peluda" (isto é, depois de fazer o serviço militar), lembrei esse episódio ao Alferes examinador. Chamava-se Leal Loureiro, foi uma grande figura da edição portuguesa, fundador da "Afrontamento". A última vez que nos vimos foi na "Bucholz", que ele dirigia. Morreu há alguns anos.

Lembrei-me hoje dele, por este simples episódio da vida.

ps - embora o crime já tenha prescrito, não acredito que venha a ser absolvido em todos os comentários.

12 comentários:

Santiago Macias disse...

Não me parece... Com essa abordagem, os puritanos vão conter-se.

Anónimo disse...

Grande Amigo meu, cheio de humor e culto, desde muito novinho, ao contrário da maior parte dos rapazes com quem nos cruzamos hoje. Teve uma sorte que invejo, morreu novo, mas de repente, a dormir, sem ninguém dar por nada.

Anónimo disse...

Atire a primeira pedra quem nunca guiou sem carta :)

Anónimo disse...

Os oficiais não usam divisas, mas sim galões.

Anónimo disse...

Caro Francisco,

Absolvido mas Buchholz tem dois h.

Um abraço

JPGarcia

Anónimo disse...

Eu nunca guiei sem carta e tirei a carta à primeira no código e condução.

Carlos Fonseca disse...

Também conduzi sem carta, mas com consequências mais graves, num episódio em que quase desfiz um jeep recém-reconstruído no ASMA em Luanda.

Vinha de Novo Redondo para a Gabela, e a meio da subida do morro que da zona das salinas, e durante alguns quilómetros de curvas e contra-curvas, vai até à Gabela, apanhei areão numa das curvas e o jeep parecia uma bailarina até dar umas cambalhotas, que me mandaram para o Hospital Militar durante 13 meses. Tinha exame de condução marcado para a semana seguinte ao acidente.

Levei com 3 autos, e só uma amnistia concedida pela visita do papa Paulo VI, me livrou de uma "porrada" séria. Claro que para beneficiar da referida amnistia tive de pagar o prejuízo causado à Fazenda Nacional, na percentagem da culpa no acidente que me foi atribuída pelos peritos.

Anónimo disse...

Ai que prazer não cumprir um dever
Então, ser em ditadura e não o fazer...

Luís Lavoura disse...

Se travou a fundo, é porque ia depressa de mais.
Infelizmente, em Portugal, há muitos campus universitários nos quais é permitido andar de automóvel. Ainda mais infelizmente, muitos dos automobilistas não reconhecem que estão num local onde devem circular numa velocidade muito - mas mesmo muito - baixa.

Anónimo disse...

Eram as regras do jogo. O alferes Loureiro estaria a pensar n'A Regra do Jogo, a sua editora?

Anónimo disse...

Vale a pena visitar este blogue, também para ver os "professores" de português fazendo correções ao texto...

Anónimo disse...

Ó Embaixador esse anónimo que veio corrigir ai o seu português, será o senhor da boina? ele gosta muito de correções. Sabe penso que será por isso que usa boina, por certo quando era pequenino, deve ter sido um menino muito corrigido e ficou com esse trauma.

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...