sexta-feira, setembro 26, 2014

Probidade

Ser livre tem imensas vantagens: permite-me, por exemplo, dizer que discordo frontalmente da "exigência" hoje colocada por António José Seguro ao primeiro ministro no sentido deste abrir ao escrutínio público as suas contas bancárias, relativas aos anos em que o então deputado Pedro Passos Coelho tinha dedicação exclusiva na AR. Percebo que isso pudesse ser muito esclarecedor, mas parece-me algo desproporcionado face à gravidade objetiva das suspeitas que andam no ar. Embora saiba que muitos amigos meus não vão gostar de ler isto. É que eu considero que a divergência política que tenho com o primeiro ministro e com o seu governo tem de ficar à porta deste tipo de questões que relevam da ética pessoal.
 
Devo dizer, embora sem nenhum elemento concreto a apoiar esta minha perceção, que tenho o dr. Passos Coelho por uma pessoa séria. Talvez eu esteja influenciado pelo facto de conhecer a sua família, que é gente de bem. E, olhando para a sua vida, nunca nela vislumbrei o menor dos sinais exteriores de riqueza ou de ostentação deslumbrada que, infelizmente, marcam a imagem de muitas pessoas da nossa classe política - desde logo, muita gente do seu partido, mas não só.
 
Uma acusação de falta de seriedade nas "contas" é sempre algo de muito grave. Por isso, e até prova concreta em contrário, acredito na palavra do cidadão Pedro Passos Coelho e na sua probidade. E digo-o com toda a sinceridade e sem a menor ponta de ironia. Mas ele tem de ajudar.
 
O dr. Pedro Passos Coelho, com apoio dos arquivos da ONG em que colaborou, deve procurar explicitar, muito rapidamente, quais as despesas pela quais foi reembolsado por essa mesma organização. Até ao cêntimo. Posso admitir que, nas suas notas pessoais, não disponha desses elementos. Mas não é crível que a ONG em causa não tivesse uma contabilidade organizada que agora possa permitir dilucidar, de uma vez por todas, esta questão, que está a inquinar a nossa vida política e a lançar uma sombra, quiçá desnecessária, sobre o dr. Pedro Passos Coelho.
 
Pergunto-me ainda porque é que na imprensa, que até agora tão atenta se tem mostrado às questões patrimoniais deste caso, nunca surgiu uma reportagem completa, que possa revelar o espetro de ações levadas a cabo por essa ONG, ligada à "Tecnoforma", cuja existência e prolongamento de atividade ao longo do tempo induzem a realização de um vasto programa de realizações. No que me toca, estou muito interessado em saber o que fez, de facto, o "Centro Português para a Cooperação" e, nomeadamente, que tipo de fundos públicos utilizou durante a sua existência. E isso não pode ser objeto de qualquer tipo de reserva de informação. É de interesse público, porque terá mobilizado bens públicos.

18 comentários:

patricio branco disse...

mas ele tem de ajudar...expressão chave do comentário. e não está, não senhor, nada mesmo, está é a baralhar, a ganhar tempo e tudo por fim ficará em que se houve algo, prescreveu, e o assunto morre.
pessoa séria, sem sinais de enriquecimento, as duas coisas não são complementares,nem os sinais de riqueza querem dizer o contrario.
mas pc é muito inteligente nestes jogos. pergunte-se aqui ou alem, eu fico neutro e tiro as consequencias, etc etc

Anónimo disse...

O homem é sério. Basta ver onde vive, onde almoça frequentemente, onde passa férias e de que forma o faz.
O que não quer dizer que não possa ter tido algum deslize, alguma atitude impensada ou menos feliz no passado.
Já se verá. Ou não.
Mas que o homeme é sério e bonito, isso é.

Anónimo disse...

Completamente de acordo

Joaquim Moura disse...

"Se não for entregue, quando exigida, declaração de autorização para acesso à informação bancária ou, em alternativa, a apresentação de documentos bancários que sejam considerados relevantes ou outros documentos que venham a ser solicitados no prazo fixado, o pedido de atribuição da prestação é arquivado. Se a prestação já estiver em curso o pagamento da prestação RSI é suspenso."
Quanto à ética pessoal, não entendo que ela só se aplique ao mesmo Primeiro-Ministro que obriga a uma mão solteira desempregada com dois filhos a cargo, que OBRIGATÓRIAMENTE tem de autorizar o acesso à sua conta bancária para receber uma prestação mensal de € 285,03, e caso o recuse nos termos da lei, lhe seja recusada um direito legal.
Pelos vistos o direito à privacidade é só outorgado aos que não precisam de recorrer aos apoios sociais, isto é, os ricos.
Este Primeiro-Ministro, que no caso presente se tem feito de sonso para evitar dar as respostas claras exigidas, é no entender do Senhor Francisco Seixas da Costa, um homem sério. Já os beneficiários do RSI são todos considerados desonestos até prova em contrário.

Anónimo disse...

Neste como em outros postes o Senhor Embaixador mostra que lhe foge o pé para a direita. Mas quero dizer-lhe que uma coisa fica clara que é que os "tem no sítio" e diz sempre o que pensa. E eu gosto disso numa pessoa. É raro.

Anónimo disse...

Nestes casos (e já são tantos!), continuamos "ingenuamente" a discutir o que não tem discussão há 2000 anos: "À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta"!
antonio pa

Anónimo disse...

É necessário ter presente
que ninguém vai mostrar nada. Porque, em boa verdade todos os documentos já devem estar em pó, já que apenas terão de ser preservados por dez anos. A questão terá de ser ética e essa naquele sujeito passou logo na tal viagem a Cabo Verde!!!Resta ao povo tomar posição concreta nas urnas.

opjj disse...

Lembro V.Exª o caso UGT Torres Couto. A montanha pariu um rato.
Em causa estavam 5000 contos (antes do €), e agora querem cêntimos!
Seguro está a mostrar que pouco vale.A última coisa que ainda vamos tendo é o sigilo bancário.
Há época trabalhei com um informático que para triplicar o salário-limpo-, pôs 10.000 Km de despesas de deslocação.
AO ver tal recibo perguntei se tinha ido a Moscovo ou se esteve a trabalhar.O recibo(o último) foi assinado por gente importante do PS.
Tanta moralidade!
Cumps.

Anónimo disse...

Não gozem connosco, por favor.

E o striptease de rendimentos que Passos Coelho impôs aos titulares do Rendimento Social de Inserção?

Aí é que estão mesmo grandes valores democráticos, políticos e de maçaroca em causa, não é?


Vivemos num país em que só os pobres é que não podem ter direito ao pudor bancário?

opjj disse...

Permita V.Exª uma pequena nota. Ao que sei o RSI só deixa de ser atribuído a quem tiver mais de 20.000€. Portanto quem tiver 19.999€ não perde o RSI.Não condeno quem juntou o seu pé de meia e até é merecedor de respeito, mas a coisa vai sobrar para os que mais têm. Não há dinheiro.
Cumps.

Anónimo disse...

O Sr Embaixador não se vê só por Lisboa, Porto ou Viana; às vezes também se vê onde ninguém o espera !
José Barros

Anónimo disse...

Um Post miserável!
J.Barros

domingos disse...

Não acompanhei a questão Passos Coelho/ Tecnoforma em detalhe, mas suspeito que o visado sabia desde o princípio que não havia nada que lhe pudesse ser apontado e apenas "deixou correr o marfim" para prejudicar os detratores. Aliás, não era Napoleão que dizia "nunca interrompas o teu inimigo quando ele estiver a cometer um erro"? Agora não se pode dizer que esse tipo de rasteiras seja moralmente elegante. Digo eu.

Anónimo disse...

Era a este caso que o Mário Soares se referia quando, em tom premonitório, dizia que o Governo não se aguentava até ao fim do mês (ou coisa parecida)?

Anónimo disse...

Eu, anónimo que assina José Barros, deixei-me surpreender com o outro anónimo, J. Barros, que diz que este post "é um Post miserável".
Bem sei que é uma opinião que o Sr. Embaixador aceitou ver expressa, e bem sei que há mais Zés na terra. Mesmo assim, quero deixar claro que aquele J. não é o J. do anónimo José Barros que sou.
Não digo isto, todavia, para que contem comigo para uma qualquer "reabilitação" do Pedro Passos Coelho que conheço. Nem por solidariedade transmontana. Seria uma tarefa árdua demais para mim!
José Barros

Anónimo disse...

OPJ, e pq é que os beneficiários todos do RSI têm de fazer strip tease bancário à custa das leis que aprovou com Paulo Cabral Portas?

E se Passos Coelho ganhava cinco mil por mês em quanto tempo faria os ditos 20 mil?

E que lugar ocupa um e outro e qual será o maior atentado à democracia, ao Estado e ao direito?

Anónimo disse...

"Quem não deve não teme".

Se PPC quisesse, como devia, esclarecer toda esta situação, não precisava fazer "striptease" das suas contas bancárias.
Bastava-lhe pedir os correspondentes extractos e divulgar lista dos recebimentos mensais nos meses em causa.

Assim, escondendo esses dados, nunca se livrará da suspeita, que parece legítima, de ter cometido alguma ilegalidade.

Anónimo disse...

"Posso admitir que, nas suas notas pessoais, não disponha desses elementos. "

Ah, excellent... Senhor Embaixador, permita-me felicitá-lo por esta eximia demonstração de diplomacia bizantina. Mas estas coisas não estão em "notas pessoais", do género post its colados no frigorífico, ou apontamentos numa agenda; estão no movimento de contas do banco...

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