domingo, dezembro 16, 2012

Uma América

É uma ingenuidade pensar que uma tragédia como a que agora ocorreu nos Estados Unidos pode desencadear uma onda eficaz para a limitação do acesso às armas de fogo naquele país. E que, se acaso fosse possível (e não é), isso resolveria alguma coisa de essencial.

Os europeus têm de entender, de uma vez por todas, que a América não é uma espécie de Europa apenas um pouco "diferente". Os Estados Unidos são um país com uma matriz fundacional própria, o que lhes induz uma cultura mental e comportamental de uma outra natureza, com uma leitura da liberdade individual muito diversa da que prevalece deste lado do Atlântico.

A América é um mundo à parte, ou melhor, são muitos mundos à parte, alguns que rejeitamos profundamente, outros que muito nos seduzem. A América que persiste na pena de morte é a mesma América que elegeu um presidente negro, num país onde, até há escassas décadas, a segregação racial era lei. E, por muito que a América nos faça partilhar os custos de alguns dos erros estratégicos que pratica pelo mundo, essa é a mesma América que, nas praias da Normandia, morreu pela liberdade da Europa - a qual, claro, era também do seu interesse.  

Apesar de tudo, quando nós, europeus, olhamos em volta, somos obrigados a convir que a América continua a ser o melhor aliado que temos para a defesa de alguns - mas não de todos - dos valores que assumimos por essenciais. Embora isso não obste, claro, a que cada um de nós, no velho continente, acabe por ter o seu diferente "amigo americano".

10 comentários:

Anónimo disse...

(mais uma vez) concordo consigo.

patricio branco disse...

sim, é outro mundo, outro tipo de democracia, outra maneira de ver e resolver as coisas, são uma forte democracia que nasceu e foi construida há 230 ou 240 anos e que se mantem com as mesmas regras, um país que combateu hitler e missolini e ajudou a salvar a europa e logo a seguir a ajudou com um plano financeiro para recuperar as economias destruidas (em que portugal não quis participar,ou aproveitar, parece-me).
dificultar a venda de armas para defesa pessoal não vai de facto resolver o problema destas matanças que se devem mais a desequilibrios psicologicos e armas haverá sempre.
os eua têm manchas, sim, têm, timor, chile, p ex, mas tambem havia a guerra fria que deu do outro lado a hungria 1956 e checoslovaquia 1968, sim, é por vezes chique dizer mal dos eua, ser antiamericano, que só sabem comer macdonalds, que são incultos e gordos, mas muitas das melhores universidades e centros de investigação cientifica do mundo estão lá, os nobeis americanos em todas as especialidades são muitissimos, é um país feito de emigrantes, multiculturalismo, descentralização e patriotismo verdadeiro.
gostemos ou não são um grande país, sim, são.

Isabel Seixas disse...

Sr. embaixador a foto é intimidatória e assustadora de autêntica...Credo.

Anónimo disse...

Há muitos americanos (por exemplo, Barack Obama) que acham o contrário, isto é, que os Estados Unidos precisam de ter um maior controle das armas e que não têm que estar amarrados a uma disposição constitucional (o Second Amendment) datada de 1791.

Claro que os Estados Unidos têm as suas especificidades. Mas se o Tea Party nos arrepia, a verdade é que onde ainda se pensa alguma coisa à esquerda é nos Estados Unidos...

a) Alcipe

Anónimo disse...

O Obama não é "negro", é mulato. 50% branco, 50% preto.

É feio, lembrar que metade dele é branca?

Anónimo disse...

Sr. Embaixador

Sendo certa a ingenuidade de pensar que este acontecimento fará mudar de um dia para o outro a política de armas nos EUA, também o é o facto da diferenciação entre estados na tomada de posição de alguns assuntos polémicos, como por exemplo a pena de morte, o casamento gay, etc.

A verdade é que temos que começar por algum lado e se este acontecimento trágico for a gota de água no despertar dos americanos para este problema, talvez, um ou outro estado assuma claramente ser a excepção, nesta matéria, no conjunto de estados que dão forma ao EUA.

A história também se faz de pequenos passos.

Anónimo disse...

Há um certo ar professoral da opinião publicada europeia sobre os americanos. Em geral, para esses (muito portuguesinho), os americanos são uns cowboys que só fazem asneiras, e, então, “ensinam”, para quem os ouve, como eles deviam atuar. Depois de tudo, continuam a arguir da sua prévia razão.
Tal como a atitude das nossas queridas mulheres, em que, neste caso, a forma mais inteligente de reagir é fazermo-nos de muito burrinhos.

Blondewithaphd disse...

Os paradoxos americanos... Acho que, por muito conscientes que estejamos das particularidades americanas, dificilmente deixamos de nos posicionar a seu respeito sem ser nos extremos do "love it or hate it".

margarida disse...

"A América é um mundo à parte, ou melhor, são muitos mundos à parte, alguns que rejeitamos profundamente, outros que muito nos seduzem."
Perfeitamente resumido. Sendo que o que seduz ultrapassa largamente o que se rejeita.
A "América" será sempre 'o sonho',
admitido (como é o meu caso), ou não.

Anónimo disse...

Senhor:
"Os europeus têm de entender, de uma vez por todas, que a América não é uma espécie de Europa apenas um pouco "diferente". Os Estados Unidos são um país com uma matriz fundacional própria, o que lhes induz uma cultura mental e comportamental de uma outra natureza, com uma leitura da liberdade individual muito diversa da que prevalece deste lado do Atlântico."
Nada mais errado mas a tonteria persiste em todas as cabeças ditas bem pensantes da Europa.
Se fôsssemos somar as pancadas e esquizofrenias que cada país europeu arrosta, o senhor diria que estaríamos no Afeganistão. Pela História (basta ler o processo de emigração de toda a Europa para os EUA) para se compreender que é mesmo Europa, no melhor e no piro que ela tem.
Cumprimentos

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...