Há dias, jantávamos com um amigo do Porto, que a Paris aporta com alguma regularidade, até porque foi por aqui que estudou e ainda tem poiso. O local era, tal como o filme, "um americano em Paris", um restaurante cujo nome não vem para o caso, bastante movimentado, ruidoso e animado, ali para os lados do Beaubourg (a foto é de lá).
A refeição já ia avançada quando decidimos mudar de vinho, cansados da opção por um tinto do "novo mundo" que nos tinham impingido. Olhámos em volta, tentando "to catch the eye" de um dos fâmulos que, minutos antes, giravam pela sala. Qual quê! Ninguém aparecia!
Foi então que esse meu amigo, se saiu com a exclamação: "Estamos no 'momento zero'!". Olhámos para ele, perplexos, desconhecedores do significado do comentário. Esclareceu-nos: "Desde há muitos anos que me convenci que, em todos os restaurantes, há, a certa altura, um 'momento zero'. Trata-se de um vazio momentâneo, que chega a durar minutos, durante o qual os empregados se somem, talvez para fumar um cigarro ou para outras pausas mais básicas, em que o patrão se recolhe por instantes ao escritório, em que o pessoal do balcão, por qualquer razão misteriosa, se eclipsa. Não há ninguém na sala! Ou, se acaso resta alguém, estão recolhidos em espaços inacessíveis, sempre de costas voltadas ou, mesmo se de frente, assumem um olhar vítrio e distante, neutralizados por um cansaço que os torna inoperacionais. É um 'momento' que normalmente acontece quando a refeição já vai adiantada, sem um novo turno de clientes no horizonte, em que se caminha para as derradeiras sobremesas. Ah! Então na altura dos cafés, é uma tragédia, é quando geralmente acontecem os grandes 'momentos zero'!".
O tempo que esse amigo demorou a explicar-nos a teoria do "momento zero", que já testou pelos mundos que visitou - o "momento zero" é transversal a todas as civilizações gastronómicas, note-se - e que afirmou com a sabedoria de quem vive em frente ao palácio de Cristal, acabou por ser suficiente para que um empregado surgisse, finalmente, ao fundo e, face ao agitar sedento dos nossos braços, nos trouxesse um "pichet" de aceitável "rosso" italiano, para substituir o australiano quer eu caíra na asneira de escolher no início. O "momento zero" acabara.
Fiquei a pensar no assunto. E lembrei-me de uma história de um "momento zero" que me aconteceu um dia: estávamos num restaurante, durante largos minutos ninguém aparecia para dar sequência ao serviço e, em desespero de causa, tive então a ideia de ligar pelo telemóvel ... para o próprio restaurante. Atendeu-me uma voz, a quem eu perguntei: "Podia, por favor, mandar alguém atender a mesa junto à janela?". Vieram que nem setas...
8 comentários:
Achei o máximo o momento zero, também acho que é transversal à "maioria" ou a uma grande parte dos restaurantes.
Além das perdas por defeito também conheço as perdas por excesso em que os donos por excesso de zelo vêm perguntar de 10 em 10 minutos se está tudo bem quase entre cada mastigar e respetiva deglutição falo na quebra do entusiasmo da conversa e tema de momento,além da falta de sentido de oportunidade.
Não sei se já está batizado esse momento?...
" (...) e que afirmou com a sabedoria de quem vive em frente ao palácio de Cristal,(...)"
?!
O 'momento zero' seria excelente para 'zerar' a conta.
Bom, OK, pelo menos para lhes pregar esse susto.
Toda a gente saia 'de fininho' e ficava escondido a aguardar o 'pânico' dos "distraídos"...
Imagino que, pelo menos ali, nunca mais se repetisse o momento 'cabecinhas no ar'.
De quem vive na Invicta, cara Margarida.
A sabedoria é logo de nascença para quem vê a luz do mundo acima do Douro ;-)))
Maria Helena
Essa do telefonema já eu vi um conhecido meu fazer, no centro português de Ludwigsburg, cansado de tanto esperar pelo vinho que deveria acompanhar o seu petisco, o sr. Afonso pediu por telefone a sua dose, perante o espanto do empregado.
cara margarida
zerar a conta significa nao voltar a petiscar no dito tasco durante uns tempos largos que podem nao ter fim
a pratos que nao valem isso...
bh
tambem há o momento oposto, como dizer? em que estão vários empregados presentes, andam pela sala azafamados, saindo da e entrando na cozinha, entre as mesas, só que nunca olham para o nosso lado quando necessitamos de alguma coisa, a pimenta, mais uma garafa de água, etc, de costas voltadas como vem no texto.
agora já não se chama por voz, psxt, não é correcto, mas por um sinal corporal/gestual,p.ex. levantar a cabeça inclinando-a um pouco para traz, olhar fixamente para o empregado mais a geito e abrir bem os olhos, numa sinaletica esperando que eles percebam que precisamos deles, mas o mais provavel é isso não funcionar à primeira pois o empregado não está a olhar para o nosso lado, etc. quase parece propositado mas não é concerteza; o mesmo levantar um pouco o braço até à altura da cabeça com um dedo esticado, como se fazia na escola para mostrar que queriamos dizer algo, mas muitas vezes resultado igual, nada feito, olham para o lado oposto, alem de que parece que tambem já não é muito correcto levantar o braço.
usar o tm pode ser a solução como aqui contado com graça, mas só para situações pontuais e dar-lhes uma lição, alem de que aumenta a conta.
talvez o profissionalismo da media dos empregados seja agora menor que há uns anos quando um empregado estava sempre varrendo a sala com o olhar para os vários lados.
quanto ao minuto zero, acredito que tal aconteça, vou tomar atenção, gostaria de confirmar por mim próprio. creio que uma vez experimentei algo parecido mas por outras razões, os empregados começaram a discutir na cozinha do restaurante, entre eles ou com os cozinheiros, a coisa aquecia, ouvia-se na sala o falar alto e exaltado deles, e durante pelo menos 10 minutos nenhum foi à sala, olhavamos uns para os outros, os clientes que estavamos nas mesas, atrapalhados com tal situação, como se fossemos nós a portarmo-nos mal. por fim a coisa arrefeceu e lá apareceu um empregado, logo a seguir outro, atendiam os clientes a ainda pensar no problema deles, notava-se, disse ao que veio à minha mesa, mas que foi isso, ouvia-se aqui a vossa discussão, não é agradavel para nós, resmungou algo, tudo acalmou por fim. digo onde, foi no restaurante da casa do alentejo em lisboa, há uns anos, e a comida foi fraquita, mas foi algo diferente do que estamos habituados num restaurante, pelo menos.
sim, tambem há aqueles que vêm com frequencia perguntar se está tudo bem como lembra isabel seixas, por vezes até se põem a conversar connosco e nós a querer comer, aconteceu-me em outubro ou novembro, ao empregado, parecidissimo com barack obama, perguntei-lhe: então quem ganha as eleições, é você ou é o romney, pois gostou da pergunta e desfez logo o romney, ali ficou uns minutos a falar do tema. empregado aliás muito cordial, tambem já um dia veio à nossa mesa pedir desculpa por não vir quase falar connosco mas, explicou, nesse dia tinha por sua conta a outra secção do restaurante.
acredito que o jarrinho de tinto italiano caisse melhor que o tinto australiano, embora deva expressar o meu respeito pelos brancos e tintos australianos, os rieslings australianos são já quase tão bons como os da alsácia e os tintos deles são sólidos vinhos, mas é um país que não tem cozinha própria, apenas a pavlova que eles dizem ser doce original deles, e nos ultimos anos servindo cada vez mais carne de canguru e de crocodilo, mas têm excelentes restaurantes nas suas cidades, lá isso têm.
vou então estar atento e esperar pelo momento zero na proxima vez.
Caríssimo FSC
Parece que a velha senhora esperava outra coisa desse seu tão sugestivo título:
'momento zero' - sinal
do estado tão desgraçado
agora aqui em portugal?
pois não - é só cozinhado
distantes os restaurantes
com snobes participantes
amor grande deceção
falhou título e ocasião
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