quinta-feira, dezembro 13, 2012

Património

Desde fevereiro deste ano, tem-me cabido dirigir a missão portuguesa junto da Unesco, em acumulação com a embaixada portuguesa em Paris. Só o consegui fazer graças ao esforço denodado da pequeníssima mas bem mobilizada equipa que permanece na nossa delegação, a qual se desdobra para poder acorrer à imensa diversidade de atividades que têm lugar no seio da organização.

Mesmo com esses limitados meios existentes, julgo que temos conseguido "dar conta do recado" e, muito em especial, que temos estado bem atentos a todas as questões que se prendem com a defesa dos interesses portugueses. Sendo a UNESCO uma organização em que a África é a principal prioridade e onde a promoção internacional da língua portuguesa encontra um espaço privilegiado de afirmação, a diplomacia portuguesa não pode, naturalmente, "deixar cair" a UNESCO.

Por esse motivo, porque a nossa visibilidade na organização é essencial para a nossa política externa, as autoridades portuguesas aceitaram a proposta que formulei no sentido de apresentarmos a nossa candidatura à mais prestigiosa instância da UNESCO, o "Comité do Património Mundial" - o grupo de 21 países que decide da classificação dos bens aos quais a UNESCO atribui um estatuto mundialmente reconhecido, acompanhando posteriormente a respetiva preservação e o cumprimento das regras para tal estabelecidas. Desde há vários anos, Portugal tem diversos bens que já mereceram o estatuto de "património mundial" e integram a respetiva lista. Nesse âmbito, aliás, o nosso país dispõe, de há muito, de uma experiência da maior valia, que é mundialmente reconhecida. Colocá-la ao serviço da UNESCO será, assim, um importante fator de prestígio para o nosso país. A decisão sobre a nossa candidatura, um "combate" complicado onde teremos de defrontar adversários de peso, será tomada pelos Estados membros da UNESCO na segunda metade de 2013. 

Já não estarei em Paris para acompanhar o essencial desse esforço promocional, mas ele ficará em excelentes mãos: as do meu sucessor, em França e na UNESCO, o embaixador José Filipe Moraes Cabral, que foi um dos principais - senão mesmo o principal - responsáveis pela eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU, onde depois, durante dois anos, representou Portugal. Lá de Lisboa, como dizem os brasileiros, estarei "a torcer" para que essa nossa nova candidatura possa ter sucesso.

22 comentários:

Isabel Seixas disse...

Ainda bem.
A foto é linda, património paradisiaco.
Acho que também é por aí ...

Anónimo disse...

As "armas" entregues em boas mãos...

O passado não é um luxo de proprietário (Sartre)

Isabel Seixas disse...

Obviamente que me referia ao Douro, sem descurar nunca a paixão do Tâmega com a top model Romana...
Mas pode sempre erigir-se outro imaginário.

Anónimo disse...

Não seja modesto: esqueceu-se da representação no Mónaco...

margarida disse...

E por falar em património, na defesa dos nossos interesses, na promoção internacional da língua portuguesa - essa imaterial e preciosa herança que enlaça não só gerações como povos em diversas geografias - esperaria uma referência de V.exa. à posição do Brasil quanto ao mais do que controverso 'acordo' ortográfico.
Deixei mote no sítio do costume, mas compreendo que o tema lhe provoque azia.
'Culpa' sua.
:)

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, atendendo a que os "filhos" querem sempre fazer a "diferença" das diligências esforçadas dos pais, sempre achei que de Cabo Verde até Macau "eles", os falantes daquelas bandas iriam manter o "devir" natural da língua portuguesa sem acordos ou selo branco... Mesmo depois desta utópica paragem sincrónica da língua portuguesa, em cada um dos lugares em que os hábitos linguísticos já têm também as suas "histórias" a evolução diacrónica, continuaria depois o seu "natural" devir. Daqui a algum tempo teriamos que assinar "outro" novo acordo ortográfico! Para ajudar a "florida" e não "Flórida" Margarida vou ajudá-la no seu argumento: "Existe entre o galego e mais o português tam estreita afinidade que quanto mais é o português e mais galego é o galego, mais vém a se assemelharem". Rafael Dieste (1899-1981). E a nossa afinidade passado/presente com o galego? Boa ajuda a da Presidente Dilma.

Anónimo disse...

Parabéns pelo excelente trabalho de desenvolvimento do "soft-power" de Portugal. Ao contrário do que pensam muitas pessoas, Portugal goza de relativo prestígio junto das organizações internacionais. E a UNESCO pode ser um importante fórum de afirmação para um país como o nosso. Os nossos antepassados legaram-nos um património único que muitas vezes os governantes não sabem ou não querem valorizar. E não é por falta de oportunidades (que existem) a nível internacional, para projectos bem montados e bem defendidos. Muitas vezes, verdadeiras jóias do património são negligenciadas por via da omissão e passividade das próprias pessoas ou instituições que deveriam lutar por elas. Será que isso é tido em conta nos critérios de avaliação do desempenho, agora tão em moda?

DL

Helena Oneto disse...

Minha querida Margarida,
Pelo sucesso, mais que relevante, na dificil missão de defender os interesses portuguêses, malgré os sempiternos “limitados meios existentes” e as pressões subidas mas sempre ultrapassadas com brio e panache (hoje sou eu que mando piropos) pelo nosso Embaixador, poupe(-nos) o flagelo, por-amor-de-deus!
Ja percebemos que gosta de "taquinar" o nosso estimado anfitrião e que sua Excelência adora dar-lhe réplica, mas não com o AO! e logo a menina que tão bem escreve o amor...:)
Beijinhos

margarida disse...

E o Amor à nossa maravilhosa língua poderá ser preterido?
'Jamé!'
Estou em crer que o stock de Água das Pedras está a sumir-se pela tout Paris...
;)
O património não são apenas pedras (e a expressão carrega-se de nobreza). Nem a nossa inquestionável hegemonia neste ponto essencial pode ser descurada.
Além da compreensão dos outros (e das suas necessidades e/ou vontades) está o brio pelo que é soberanamente nosso.
E a língua é-o!
Defendamo-la com cautelas de conservador (e a expressão toma-se de flamância) e cuidados de curadores de tesouros.

margarida disse...

A excelência está a preparar o contra-ataque..., preparemo-nos!
Portugueses: às trincheiras!

margarida disse...

E o contra-ataque, se bem que diplomático, será tremendo!
... ou, secundando o que deve ter pensado o ministro brasileiro há uns tempos, a excelência deve murmurar: " mi aguardji!"
(eh.eh.eh.eh...)

Anónimo disse...

Sr. Embaixador
agradecendo o espaço do seu blog, permita-me que faça um pedido. No âmbito da influência que poderá vir a ter na UNESCO, seria maravilhoso integrar nas classificações dessa organização a proteção das aves.
Refiro-me à (vergonhosa) tradição que existe essencialmente em parte do Alentejo e sobretudo no Algarve, onde se capturam os passarinhos do campo para os respectivos petiscos.
Sendo ilegal, isso não impede que as ementas apareçam nos restaurantes como passarinhos ou com nomes de "código".
Trata-se sem dúvida de um patrimônio em grande perigo de extinção.

Helena Oneto disse...

Oh! no que eu me fui meter:)!

Sweet warrior dos olhos doces, não tenho pedalada para a flamância da sua prosa!
Não ponho em causa o amor que temos pela lingua do Eça! Com ou sem acordo, o prazer de ler o que aqui se escreve ultrapassa largamente os quelque mots que perpassam, parfois à peine, as sensibilidades orthographicas mais conservadoras...
E para digerir, nada melhor que Agua das Pedras que ja aqui chegou, fresquinha e em garrafinhas!
Bisous:)!

margarida disse...

Quêêêê? Aniquilar infamemente os pardais é ilegal e aqui na esquina, em pleno centro do burgo, fazem gala de medonha montra com os ditos em tristíssimos preparos?
ASAE para que te quermos?
Se não a língua falada e escrita, pelo menos que se contenha a anatómica que se permite tal gula obscena.

Francisco Seixas da Costa disse...

Como se sabe, olho com alguma phleugma para este assumpto do acordo ortográphico e para a questão da entrada effectiva em vigor do mesmo. Trata-se de uma cousa cujas razões estou sempre prompto a aceitar, desde que o diccionário mo determine.

margarida disse...

Pfff... só isto?!
Ora bolas.
:(

Julia Macias-Valet disse...

Defendendo uma causa tao justa por que fica vossa excelência anónimo ? caro comentador das 16:59...

Uns bárbaros esses Alentejanos !!!

Ja la diz o ditado que : Alentejanos, Algarvios e caes de caça é tudo a mesma raça !

Se calhar, este dito vem do facto de todos irem à caça. Coitadinhos dos p'ssarinhos...

Abaixo a caça, abaixo as fisgas...Acima os p'ssarinhos... tordos, pardais e outros que tais : )

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: agora interrogo-me: será "ora bolas" ou "hora bolas"? Desejo-lhe um bom fim de semana, cara Senhora da Ora que o destino marca.

Julia Macias-Valet disse...

Caro escriba, ja agora, na qualidade de embaixador e defensor do nosso patrimonio, é a favor ou contra que comamos os p'ssarinhos ?

gherkin disse...

É O QUE SINCERAMENTE SE DESEJA! PARABENS A TODA A EQUIPA PELO ESFORÇO E SUCESSO OBTIDO!
Abraço do,
Gilberto Ferraz

patricio branco disse...

boas saidas e boas entradas...

margarida disse...

Boa semana, mr. Dodger, excelência.

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Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...