Há muito que havíamos notado que a relação entre aquele embaixador
junto da União Europeia e o seu ministro para a Europa estava longe de
correr às mil maravilhas. O "body language" de ambos, mais evidente da
parte do embaixador, não deixava margem para dúvidas: apenas se
suportavam. E mal.
Ao que se sabia, o diplomata estava escudado ao mais elevado nível na
sua capital e o seu conhecimento da máquina comunitária havia-o
transformado numa figura indispensável para a continuidade da política
europeia do país, o que justificaria a sua prolongada longevidade no cargo. Já os ministros, iam e vinham com os ventos
eleitorais. Por isso, ele podia continuar a dar-se ao luxo dessa atitude.
Entre outras cenas e apartes, com que o embaixador não poupava
regularmente a figura do ministro durante as conversas com os colegas,
ficou famosa a história da chegada de um convite para almoço, a ter lugar no topo do Justus
Lipsius, sede do Conselho de ministros da UE, que sempre ocorria no decurso de uma determinada negociação, na segunda metade dos
anos 90.
Para a delegação desse país, como era de regra, chegaram, pela mão de um contínuo, dois convites: um
em nome do ministro (que, nesse dia, tinha faltado à reunião, por virtude de uma deslocação oficial) e
outro para o embaixador, que o substituíra na reunião.
Quando recebeu os convites, o embaixador olhou para o envelope destinado ao seu governante, e disse bem alto, audível por toda a sala, na qual as pessoas já estavam de pé, prestes a avançar para o almoço:
Quando recebeu os convites, o embaixador olhou para o envelope destinado ao seu governante, e disse bem alto, audível por toda a sala, na qual as pessoas já estavam de pé, prestes a avançar para o almoço:
- Para o ministro X?! Mas o ministro morreu!
E, nesse mesmo instante, rasgou o envelope em quatro pedaços, que lançou ao ar.
O contínuo que havia entregue o convite - um castiço italiano,
atarracado, de bigode, rabo de cavalo, brinco na orelha e gravata laça,
que, ao contrário de nós, não estava informado da razão da ausência do
ministro - reagiu, surpreendido:
- O quê!? Morreu?! O ministro X morreu?!
O embaixador nem o olhou nem lhe respondeu. Saiu da sala, deixando o
contínuo, zeloso na sua tarefa de entrega dos envelopes, a propagar a
"revelação" por quem lhos recebia, cujos sorrisos, manifestamente
incompatíveis com a "gravidade" do que ouvira, deveria estranhar:
- Parece que o ministro X morreu, sabia?
Nunca cheguei a saber se o ministro em causa chegou a ter conhecimento
da ousadia do seu embaixador. Mas, conhecendo-o, bem como à sua total
ausência de sentido de humor, imagino que não deva ter gostado minimamente da graça, que eu e
outros, testemunhas presenciais da mesma, guardamos na memória desde então.
5 comentários:
Pois é.... que tempos se passaram pela diplomacia deste país. Estaremos a pagar isso agora??? eu não sei
Imagino que tormento o do embaixador
possuido quiçá por desalento e despeito
dando mostras desse seu espontãneo rancor
rasgando o convite do ministro eleito
Que forte sentimento provoca a emoção
de excluir e banir das luzes da ribalta
a presença de um só elemento da ação
Que para cumprimento protocolar faz falta
Agora teria noção esse embaixador
da situação a que se estava a expor
ao antecipar essa certidão de óbito
sem habilitação divina só por ódio
deixa livre nas mãos do destino a desforra...
quem a minha morte sonha, a vida me dobra...
Julgava que os Embaixadores não tinham tanto àvontade nas suas andanças... Até que a vida para os Senhores não é tão é tão má lá por fora...
quem propagou a (falsa) noticia transformando-a em boato foi o continuo, atenção, e é sabido que os italianos perdem a cabeça por um bom boato...
a historia promete continuação com os mesmos personagens, depreendo
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