segunda-feira, dezembro 17, 2012

Paulo Castilho e o francês

Paulo Castilho é diplomata, além de um amigo pessoal. Mas é, para além disso, um excelente escritor. Já aqui falei do seu último romance, "Domínio Público", que há semanas recebeu o Prémio Fernando Namora.

Ontem, chegou-me o último JL onde Paulo Castilho assina o "Diário" da quinzena. Noto o que ele ali escreve sobre a língua francesa em Portugal:

"É uma pena que atualmente em Portugal se despreze o francês e já quase ninguém o fale ou leia. Foi e é a língua de uma grande cultura, ainda hoje com um movimento editorial de um enorme vigor, em muitas áreas superior ao inglês. Agora corremos atrás da língua inglesa e de tudo o que tenha um ar de Inglaterra ou de América sem nos darmos conta de quanto nos encontramos longe da mente anglo-saxónica. Não os compreendemos plenamente e eles não nos compreendem a nós e, na verdade, tendem a tratar-nos com alguma condescendência. Os franceses não são certamente perfeitos, mas são mais 'a nossa gente' ".

100% de acordo, Paulo*.

(Curiosamente, ao olhar para o currículo diplomático de Paulo Castilho, verifica-se que esteve quase sempre colocado em paises anglo-saxónicos (EUA, Reino Unido, Irlanda) ou onde o inglês é usual (Suécia), apenas com uma estada num país de língua francesa, quando serviu junto do Conselho da Europa, em Estrasburgo. O que escreveu torna-se assim mais significativo).

12 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Não podia ser mais verdadeiro e oportuno este post.
Pertenço aos últimos moicanos para quem o francês é a segunda língua e a primeira internacional.
Fui e sou profundamente marcada pela cultura francesa, à qual devo uma boa parte da minha bagagem pessoal.

Cristina disse...

Sr. Embaixador
Será que são mesmo "a nossa gente"? Não os acha demasiado xenófobos? Acha que algum dia eles nos considerariam "próximos" deles?
Sinceramente, não me parece...

patricio branco disse...

atenção! entre o inglês e o francês está o espanhol, hoje a 2a lingua usada e falada internacionalmente. falar espanhol começa a ser essencial.
o francês é uma bela lingua e tem por detrás uma cultura de enorme valor e peso; as afinidades entre as culturas françesa e portuguesa são sem duvida muito mais fortes que entre o mundo anglo-saxonico e o português; mas não deixa de ser estranho que sendo as afinidades entre portugal e espanha enormes,desde as relações historicas à lingua e cultura, tenha a lingua espanhola ficado relegada para um lugarzinho muito secundario, insignificante. até 1640 qualquer pessoa de cultura e instrução ou classe social elevadas em portugal era bilingue português/espanhol, o que terminou com a restauração. camões, gil vicente, sá de miranda e outros são a prova, escreviam tanto numa como noutra lingua.
bem, mas fora estes lugares comuns que estou para aqui a debitar, o que me espanta um pouco na opinião expressa por paulo castilho é a influencia que a cultura anglo-saxonica tem nos seus romances, no conteudo, na mentalidade dos personagens, pelo menos nos unicos 1,5 romances dele que li. os personagens sentem verdadeira atracção pela cultura americana. mas vendo bem, não há contradição, uma coisa é o mundo descrito ou recreado na literatura, outra o que pode pensar em determinado momento o escritor.
talvez pc tenha sido tocado por uma profunda nostalgia do francês da sua juventude e portanto nos possa dar um novo livro muito influenciado por frança, a lingua e a cultura francesas, com personagens filo-franceses caminhando e conversando nas ruas de paris ou de bordéus.
como disse, o meu conhecimento da obra de pc é muito reduzido e pode ser que esse livro já exista,caso em que imediatamente o procuraria para o ler, então.

Isabel Seixas disse...

A aprendizagem do françês foi revitalizada, ao ser exigido o dominio da lingua falada, aos emigrantes licenciados, que têm a possibilidade de incorporação nos mercados de trabalho, nos paises onde é lingua oficial.

Veja-se por exemplo o incremento de escolas privadas de francês com cursos intensivos de dois meses,com custo em média 1500€, para profissionais de saúde concretamente enfermeiros fisioterapeutas e outros técnicos de diagnóstico e terapêutica como técnicos de Rx e análises,que querem emigrar para França, Suiça, Bélgica e Luxemburgo para exercer a profissão.

Helena Oneto disse...

Também estou de acordo e posso dizer à Cristina que os ingleses são muito mais xenofobos que os franceses.

Um exemplo, entre muitos, de tropismo anglo-saxonico foi Victor Constâncio ler em inglês, com tradução simultânia em francês, um "exposé" sobre "Portugal e a crise na Europa", na Fundação Gulbenkian em Paris.

PS1: Desta vez reli o que escrevi com atenção e penso não ter esquecido nenhum "s" (ja não é a primeira vez...) nem nehum "b", ou outra letra qualquer, para poupar ao anonimo "corrector de serviço" vir aqui com mais um insuportavel "irra!"

PS2: As minhas desculpas a Patricio Branco por lhe ter amputado o nome no meu ultimo comentario.

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,
Duvido que os próprios franceses partilhem do pensamento de P.C. de que são "mais a nossa gente", embora se perceba o motivo da opinião.
Prefiro, no entanto, a condescendência anglo-saxónica à sobranceria "da nossa gente".
JPS

Julia Macias-Valet disse...

Hoje apetece-me responder a todos :-)

@ Helena SC : nao pertence nao aos últimos moicanos, eu é que pertenço :-) Os meus amigos quando eu era jovem perguntavam-me sempre se eu também tocava piano ?

@ Cristina : Paulo Castilho disse "mas sao MAIS a nossa gente" por muitas afinidades que possamos ter com outro povo ele nunca sera o nosso. E sei do que falo !

@ Patricio Branco : sendo o espanhol a minha segunda língua e a primeira internacional gostei da 1a parte do seu comentário. Recordou-me os meus tempos de liceu. Nessa altura ninguém da minha geração falava espanhol pelo que o meu professor de Lingua Portuguesa do 9° ano aproveitou para gravar a minha voz quando trabalhamos o (Auto da India). O personagem do Castelhano ficou-me colado à pele até ao fim do liceu. E claro para os meus colegas as aulas de Português tornaram-se um momento super divertido.

@ Isabel Seixas : senao tivesse sabido falar e escrever em francês nunca aqui teria chegado em 1992. Parece-me mais do que normal que se se quere obter um lugar para trabalhar de nivel igual ou superior ao que se tem no seu proprio pais tem que se "maitriser" a lingua desse pais.

@ Helena : completamente de acordo.
E por acordo e pelos "IRRAS" com uma paulada mato dois coelhos...
Caro Anonimo dos IRRAS, preocupa-me muito mais o que li esta semana num pacote de sumo de laranja da marca Leader Price : SUCO de laranja pasteurizado etc, etc, a frase era precedida da imagem da bandeira portuguesa !
Se é SUCO a bandeira devera ser brasileira caso contrario é SUMO ! Ou bem que é assim ou caso contario nunca havera nem ORDEM nem PROGRESSO.
Eu continuo a escrever à antiga...porque me apetece mas quem quer ou quem têm que escrever de acordo com o novo AO também me parece muito bem...ou agora a caneta azul chama-se IRRA ?

@ JPS : Eu costumo dizer que os franceses sao uns latinos anglo-saxonicos...uns latinos do NORTE !!!
Mas nao estou de acordo com as suas palavras que têm um alcance muito mais profundo e supino ;-)

patricio branco disse...

o auto da india creio que é uma das raras peças do teatro português dessa época que fala de terras de alem mar, mas o brasil já existia, não só goa (calecute). claro, a india é só um pretexto para afastar o marido e durante uns tempos dar liberdade à sra para ter as suas aventuras em lisboa e aí entra o castelhano de jm-v que tem falas preciosas, o dialogo faz-se naturalmente, uns falam espanhol, outros em português, como se fosse tudo a mesma lingua. assim era no sec 16.

sim, o espanhol é hoje uma lingua importantíssima, a 2a lingua internacional logo a seguir ao inglês, mas paulo castilho ou não parece sensivel a essa realide, mas faz justiça ao francês.
creio que os eua já pensaram em dar ao espanhol o estatuto de 2a lingua oficial, e a verdade é que quase todos lá falam espanhol, tal como há umas decadas quase todos aqui falávamos francês.

mas o português tambem não estará em mau lugar internacionalmente.

gostei portanto da referencia ao auto da india a propósito do espanhol em portugal.

Anónimo disse...

Uma tendência nova que está a surgir com este governo é a de correr atrás das ideias alemãs. Há vários responsáveis de organismos do Estado que têm defendido o decalque para Portugal de modelos de gestão alemães, e penso que não falte muito para que nos venham vender os modelos germânicos de organização da educação, da saúde, etc etc. Assim como assim prefiro os ingleses.

Quanto à língua francesa, para nós é muito mais fácil falar e escrever *bem* o francês do que o inglês, graças à proximidade cultural. A suposta facilidade do inglês é um exagero, pois muitos anglófilos sobrestimam o seu nível sem se aperceberem de que apenas têm um conhecimento prático, mas superficial, da língua.

DL

Isabel Seixas disse...

Ó júlia também concordo, de facto uma comunicação efetiva é fundamental para operacionalizar qualquer profissão,aliás nos planos curriculares dos cursos superiores nas disciplinas/unidades curriculares de opção já são incluidas mais linguas como o espanhol e o francês a estudantes que também estudaram o inglês como primeira lingua,no intuito de facilitar o ingresso nos mercados de trabalho.

Também acho o francês uma lingua fundamental, mas a verdade é que nos planos curriculares como lingua de opção está a ser preterida em função do espanhol. Conheço estudantes, que embora preferissem francês, tiveram que ingressar no espanhol no 7º ano de escolaridade, dado não haver estudantes suficientes para constituir uma turma.











Anónimo disse...

Os franceses não são definitivamente a "nossa gente". Mas dá gosto entrar numa livraria francesa, como ontem me deu em menos de 24 horas em Paris, ou ver um bom programa de Cultura em língua francesa. Mas a elegância do francês não fica atrás da doçura do português.

Anónimo disse...

Esqueci-me de referir que Castilho é "filho de peixe que sabe nadar" e que "Fora de Horas" é um grande livro. E não há muitos depois do 25 de Abril. Esquecia-me de dizer: agora temos o João Tordo que tem densidade, arte e ritmo narrativo q.b. A seguir os próximos capítulos.

Agostinho Jardim Gonçalves

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