sábado, dezembro 29, 2012

Paulo Rocha (1935-2012)

Morreu Paulo Rocha. Foi por aqui, por Paris, que estudou cinema e trabalhou com Jean Renoir.

Em 1963, Paulo Rocha realizou um filme que alterou o modo como muitos, de uma certa geração portuguesa, passaram a olhar a vida. Como foi o meu caso. Chamava-se "Verdes Anos". O som de Carlos Paredes colou-se eternamente a essas imagens, as de um Portugal a-preto-e-branco, urbanizado de fresco em avenidas que então eram novas, um país bem diferente que estava a nascer e que, cerca de uma década depois, implodiria para o futuro. Revejam essa obra-prima e digam-me se não tenho razão. E, já agora e se puderem, olhem também o seu "Mudar de Vida", anos mais tarde.

Paulo Rocha apaixonou-se depois pelo Japão, onde foi adido cultural e onde se inspirou para um filme de diferente natureza, "A Ilha dos Amores". Vim a conhecê-lo pessoalmente, creio que nos anos 80, num lugar improvável de que passou a ser proprietário, um bar, ali na zona do Saldanha.

Nota: entre a fotografia do post anterior, de Gérard Castello-Lopes, e as imagens de Paulo Rocha há uma similitude que vai muito para além da cor.

5 comentários:

patricio branco disse...

maravilhosa imagem esta tirada dos verdes anos. vi a pelicula quando se estreou, não a revi. recordo o branco e negro e o fundo musical da guitarra de carlos paredes, a bonita cara da actriz.
quanto à imagem do post, é puro neorealismo italiano, roma ao longe e um par de namorados nas colinas não urbanizadas ainda dos anos 50, 60, embora pelo que me lembre os verdes anos não seja exactamente neorealista, mais existencialista mas sem sobrecarga filosofica? talvez siga o conselho de fsc e me disponha a rever a pelicula, certamente que veria coisas que antes não vi, ou talvez reveja uma lisboa onde vivi e isso seja uma mais valia.
não vi os outros trabalhos de p r.
diz-se que os verdes anos e belarmino lançaram o novo cinema português, uma nouvelle vague daqui, creio que sim.
de belarmino lembro o preto e branco tambem e a face de boxeur do proprio, que uma vez vi no cabaret ritz clube de que ele era habitual.
o cinema português perdeu 2 realizadores este ano, tudo é triste, tambem hoje se foi um amigo, sim, há dias mais tristes que outros, tenho ideia que os verdes anos eram tambem uma pelicula melancólica, não muito alegre, um pouco triste,e apetece-me citar "às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer...
que disparate dirias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que...(ruy belo)"
a rever pois os verdes anos de paulo rocha!!

Anónimo disse...

Tudo o que se disser de Paulo Rocha fica aquem do seu saber, estar,do seu enorme SER.

Conheci-o em atos ,pedagógicos, cinéfilos.

E tambem nas vagueações do Saldanha e Gulbenkian.

Perda irreparavel.

Anónimo disse...

Deu recentemente na televisão um programa chamado "Provavelmente Fernando Lopes" que falava do Cinema Éden e de uma boémia paralela antes do 25 de Abril cuja história estará ainda por fazer. E referiu um livro fundamental para a compreender que irei a correr comprar: Um Secreto Adeus do Batista-Bastos. A saudosa Raquel Reis falava-me muito do Paulo Rocha.

Helena Sacadura Cabral disse...

Estimado Embaixador
Conheci o Paulo. Partilhou um capítulo importante da minha vida, que está encerrado.
Ambos tínhamos o mesmo gosto pelo país do sol poente.
Mas os verdes anos de então ficam tão longe, tão longe dos de hoje, que, às vezes me pergunto se os terei atravessado...

Helena Oneto disse...

Ha uma similitude, sim, mas cada um vê a cores diferentes o preto e branco que tingiram os nossos verdes anos...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...