sábado, fevereiro 26, 2011

Portugueses

Ela era lindíssima, muito bem “desenhada”, bielorussa, com vinte e poucos anos, funcionária da missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em Bishkek, no Quirguistão. Chamava a atenção de toda a gente. 

Estávamos num jantar oferecido pelo chefe da missão a cinco embaixadores, idos de Viena, numa viagem de duas semanas que fazíamos por todos os países da Ásia Central. (Para que não fiquem dúvidas: fiz essa deslocação à minha custa).

O ambiente era descontraído, numa espécie de taverna típica, um pouco fora do centro da cidade, creio que perto de uma estância de ski. Não havia protocolo, a ocupação das mesas era informal, "free seating".

A bela bielorussa sentou-se ao meu lado, anunciando, alto: "Eu fico aqui, para falar com o embaixador de Portugal". Desfiz-me num deliciado sorriso, perante a onda de ironia invejosa da esmagadora maioria dos parceiros (pelo menos) masculinos do repasto. A bielorussa logo esclareceu, contudo, as suas castas intenções: "Tenho a maior admiração por um grande escritor português e quero falar sobre a sua obra. Tenho a certeza que o embaixador o conhece bem".

Preparei-me, intimamente, para lhe explicar a grandeza dos sinos ou os encantos da biblioteca de Mafra, a pretexto do "Memorial do Convento", de José Saramago. Ou, no caso de ser Lobo Antunes, tentaria contextualizar uma literatura angustiada, nascida nos traumas da guerra colonial, como em "Os cus de Judas”, embora o significado de um título como esse levasse mais algum tempo a detalhar. Não estava a ver que outro escritor português pudesse mobilizar o interesse de beldades de Minsk e arredores. Embora longe de ser um alargado conhecedor daqueles autores, o que sabia dava-me para garantir uma dose mais do que suficiente para uma agradável conversa.

Foi então que a jovem me lançou um desafio impossível: "Conhece bem a obra do Paulo Coelho, com certeza! É o maior escritor português, não é? Li tantos livros dele...” Passaram muitos anos e, daquele jantar pelas terras da Rota da Seda, só me ficaram memórias vagas. De uma coisa tenho a absoluta certeza: Paulo Coelho, durante esse repasto, foi um português dos sete costados.

24 comentários:

Anónimo disse...

Como eu o percebo, caro Embaixador. Espero que tenha dito mesmo que o Paulo Coelho era seu conterrâneo transmontano.

CSC

Anónimo disse...

O que é o problema do défice, comparado com isto?In FSC

Irrelevante, claro...

De qualquer forma poderia ter-lhe falado de Eça,Pessoa...
Dar-lhe a conhecer, uma pelo menos,"Segunda opinião"
Isabel seixas

Helena Oneto disse...

Ahhhhh! Depois do comentario de CSC, pouco mais haveria a dizer... Fico-me por aqui pois são mais que horas de me ir deitar. Vou a rir, claro!!!

Rubi disse...

Uma loura!

patricio branco disse...

Foi a lingua portuguesa que saíu eleita, não interessa usada por quem.

margarida disse...

Era loira.

Helena Sacadura Cabral disse...

Ainda gostava de perceber o sucesso de Paulo Coelho...

margarida disse...

Êpa..., maldadezinha tem limite e acabo por me sentir um nadinha desconfortável...
Na realidade, quem não derrapa uma vez por outra? Então não me sucedeu já querer sentar-me junto ao embaixador da Transilvânia?
;)

Julia Macias-Valet disse...

Caro CSC, melhor ainda, no lugar do nosso embaixador eu até lhe tinha dito que eramos primos, avô comum que emigrou para o Brasil, etc, etc.

Rubi e Margarida se a piquena era loura ? ou loira ? Ficamos (até agora) sem saber...mas a pergunta da beldade foi um bocado p'ro "ruça" ! : )

José disse...

Os comentários que um jantar aloirado provoca.
Ninguém sabe que os antepassados do P.C. são transmontanos? Enfim, mentes loiras...
Excelente leitura de jogo de patrício branco...

Anónimo disse...

Tantos preconceitos pedantes desta gente que fez infinitamente menos pela lingua portuguesa que Paulo Coelho.
Loira, é esta pacovice saloia destes seres presumidos armados em importantes.

margarida disse...

Corajoso(a) "anónimo(a)", admiro imenso gente que apelida frontal e livremente de 'pedantes', 'saloios pacóvios' e 'presumidos armados em importantes' pessoas que brincam com uma situação ligeira e sem qualquer maldade.
Se tiver a generosidade de ler bem os comentários gerais, ninguém tem pretensões a coisa alguma e todos (a maior parte, pelo menos), passa por aqui com gosto e boa disposição, aproveitando do bom ambiente, saudável, livre e sem preconceitos.
E, havendo lugar a um 'mea culpa', ele far-se-á.
No meu caso particular, fi-lo.
Entendi que não fui gentil, que lancei um argumento 'fácil' em excesso, mesmo que pudesse argumentar que sendo bielorrussa provavelmente o cabelo da menina seria desse tom.
Mas seria uma débil saída e indigna de mim.
Sou a primeira a declarar que não sei nada, que descubro dia a pós dia que desconheço crescentemente do mundo e até de mim, por isso V.Exa. erra o alvo neste meu pobre caso.
De qualquer forma, faço votos para que algum dia tenha a coragem necessária para apresentar o nome e o rosto - verdadeiros - seja para atirar flores, seja pedras.
Assim, sim, seria bonito e teria, finalmente, alguma dignidade e vantagem.
Receba os meus cordiais cumprimentos.
Margarida Pereira

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara/os comentadores: ela era, de facto, loura, no "belo" sentido.

Anónimo disse...

Assim é que é falar, Margarida! Também não gosto de "rostos escondidos", sobretudo quando nos atacam.
Abraço!
P.Rufino

Anónimo disse...

Ao Anónimo de parcas leituras mas de farta sensibilidade aos superiores interesses da língua portuguesa, recomendo a leitura do BORDA D'ÁGUA - ALMANAQUE, verifique os dados astronómicos nunca se sabe... a sua estrela poderá também brilhar!

Saudações levemente pacóvias e algo saloias

Eduardo Antunes

Julia Macias-Valet disse...

Adoro estes anónimos espertos e citadinos que por aqui aparecem de tempos a tempos.

Até têm graça e dão um pouco de pimenta à vida : ))

Obrigada caro embaixador pela elegancia da frase : loura, no "belo" sentido ; )

Assina, uma leitora loura...mas que se anda a tratar : ))

Anónimo disse...

Pois...
Novamente parabéns Sr. embaixador...

Diz-se por Cá ...
Nem tudo a saber... Pronto deve ser por causa de uma certe auréola de mistério...

Querida Maggie

Não me tire o único protagonismo sadio...

Loira burra... são tão espertas!...
Preconceituosa
Pacóvia
Saloia
presumida
armada

Só posso ser Eu...
A menina também quer ser culpada de tudo só para ser mais masoquista que a maioria das mulheres...

Que mania...
Isabel seixas

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Eu já sou mais branca do que loura. E até já fui ruça e platinada. Tudo aquilo que corresponde, em versão livre, a ter poucos miolos...
Mas depois do seu lindíssimo "loira no belo sentido", nem hesito, vou alourar-me!
Maggie a minha querida amiga é uma senhora. São raras!
E eu declaro já que "fiz infinitamente menos pela língua portuguesa do que o Paulo Coelho". É um facto. Ele está muito rico com a dita língua e eu estou muito longe disso...
Espero que o anónimo - não preconceituoso, nem pedante -, continue a enriquecer a língua de Paulo Coelho. Porque o bolso, esse, já está cheio!

Fernando B. disse...

Que falha...

Então não há uma foto da bela da Biela???

Anónimo disse...

Mais a mais...

Qual a diferença entre a biodiversidade da atração pela declaração facial de interesse captada por sextos sentidos os femininos signos de perspicácia ...

Qual Paulo Coelho...Deve-se também à capacidade de ressonância do nome, fácil de memorizar, pretexto ...

Como se a menina não tivesse feito triagem...

Por cá também se come com os olhos
Diz-se...

Isabel seixas

Anónimo disse...

Permita-me só mais um Sr. embaixador...

É...Que não resisto à proliferação inspiradora que este Post e os respetivos comentários suscitam...

Um dos meus dilemas anuais por esta altura é conseguir ser proativa e oferecer no dia de aniversário ao meu marido algo original e redundante como um relógio reprodutível ao fim de n anos...

Agora perante estas manifestações de ...Êxtase;Acho que faria um Sucesso se lhe oferecesse um livro de Paulo Coelho...

Uma matrioshka, matriochka ou matrioska, já tem... E também com inspiração do Corin Telado lá do sitio...
Isabel seixas

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Já agora digam-me quem é o Paulo Coelho?

margarida disse...

É um cavalheiro de nacionalidade brasileira que escreve uma literatura digamos 'mística', com muita saída.
Por acaso tenho um livro ('Maktub', se não me equivoco), mas não fiquei fã.
É grisalho...
;)

Mário Machado disse...

Senhor embaixador,

Eu diante de uma situação dessa era capaz de "baixar" (como dizemos por aqui)o próprio Paulo Coelho. Ainda que conheça mais dos seus tempos de músico ao lado do imortal (ainda que já tenha de fato morrido) Raul Seixas e diria a ela que "é melhor ser uma metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo, sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei o quê".. Na vã esperança da confusão parecer fazer que eu sabia do que falava.

Obrigado, António

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