A Fundação Gulbenkian levou a cabo, no passado dia 3, um interessante debate em torno da língua mirandesa. O Mirandês é uma língua (de raíz ásturo-leonesa) falada em áreas dos concelhos de Miranda do Douro e de Vimioso, por alguns milhares de pessoas. Durante muitos anos, não teve forma escrita, sendo um modo de expressão nas famílias e entre cidadãos do meio rural.
O autor de um livro sobre o tema, publicado em França, "Le Portugal bilingue", Michel Cahen, acompanhado pelo professores José Meirinhos e Maria Benedita Basto, fez uma apresentação sobre as peculiaridades daquela que é a segunda língua oficial de Portugal, dos riscos que a sua sobrevivência corre e dos esforços que têm sido feitos para a promover, como um fator de orgulhosa singularidade de uma micro-região. Entre outros aspetos, foi curioso ver sublinhado pelo professor José Meirinhos o facto do Mirandês nunca ter sido objeto de "apropriação" política ou regionalista, situação muito comum em línguas minoritárias.
Não deixa de ser de destacar que algumas dezenas de pessoas se tenham mobilizado, no final de tarde, em Paris, para se deslocarem à Gulbenkian, para assistirem a este debate. Entre essas pessoas contava-se, há que dizê-lo, o embaixador de Portugal, que é tão transmontano como o próprio Mirandês.
O blogue Froles Mirandesas, colocou este post em língua mirandesa. Aprecie aqui:
O autor de um livro sobre o tema, publicado em França, "Le Portugal bilingue", Michel Cahen, acompanhado pelo professores José Meirinhos e Maria Benedita Basto, fez uma apresentação sobre as peculiaridades daquela que é a segunda língua oficial de Portugal, dos riscos que a sua sobrevivência corre e dos esforços que têm sido feitos para a promover, como um fator de orgulhosa singularidade de uma micro-região. Entre outros aspetos, foi curioso ver sublinhado pelo professor José Meirinhos o facto do Mirandês nunca ter sido objeto de "apropriação" política ou regionalista, situação muito comum em línguas minoritárias.
Não deixa de ser de destacar que algumas dezenas de pessoas se tenham mobilizado, no final de tarde, em Paris, para se deslocarem à Gulbenkian, para assistirem a este debate. Entre essas pessoas contava-se, há que dizê-lo, o embaixador de Portugal, que é tão transmontano como o próprio Mirandês.
O blogue Froles Mirandesas, colocou este post em língua mirandesa. Aprecie aqui:
La Fundaçon Gulbenkian lebou a cabo, ne l passado die 3, un antressante debate an torno de la lhéngua mirandesa. L Mirandés ye ua lhéngua (de raíç ásturo-leonesa) falada an árias de ls cunceilhos de Miranda de l Douro i de Bumioso, por alguns miles de pessonas. Durante muitos anhos, nun tubo forma scrita, sendo un modo de spresson nas famílhias i antre cidadanos de l meio rural.
L'outor dun libro subre l tema, publicado an Fráncia, "Le Pertual bilingue", Michel Cahen, acumpanhado puls porsores José Meirinhos i Maria Benedita Basto, fizo ua apersentaçon subre las peculiaridades daqueilha que ye la segunda lhéngua oufecial de Pertual, de ls riscos que la sue subrebibéncia cuorre i de ls sfuorços que ténen sido feitos pa la promober, cumo un fator d'ourgulhosa singularidade dua micro-region. Antre outros aspetos, fui curjidoso ber sublinhado pul porsor José Meirinhos l fato de l Mirandés nunca tener sido oubjeto de "apropiaçon" política ó regionalista, situaçon mui quemun an lhénguas minoritárias.
Nun deixa de ser de çtacar qu'alguas dezenas de pessonas se téngan mobelizado, ne l final de tarde, an Paris, para se zlocáren a la Gulbenkian, para assistíren a este debate. Antre essas pessonas cuntaba-se, hai que dizir-lo, l'ambaixador de Pertual, que ye tan strasmuntano cumo l própio Mirandés.
17 comentários:
Um Amigo de Miranda um dia, ainda andávamos na Faculdades, trouxe-me um texto para ver se eu o entendia. Entendi quase tudo. Guardei-o. Tenho muito prazer em o deixar aqui. Por favor, leiam; com certeza que também o entendem...
Hai lhénguas que to Is dies se muorren i hai lhénguas que to Is dies renácen.
Muitas lhénguas ténen proua de ls sous pergaminos antigos, de la lhiteratura screbida hai cientos d'anhos i de scritores hai muito afamados, hoije bandeiras dessas lhénguas.
Mas outras hai que nun puoden tener proua de nada desso, cumo ye l causo de la lhéngua mirandesa.
Eu com Vexa só falarei mirandês à frente de uma boa posta de bife de vaca de Sendim...
Não é semelhante mas parece os nosso caipioras da roça conversando
com carinho Monica
Saiba o amigo Alcipe que a posta mirandesa servida na Gabriela, em Sendim, é de vitela e não de vaca. Preciosismos que, na área, valem, igualmente, para o idêntico produto servido na Balbina, em Miranda, no Artur, em Carviçais, no Solar Bragançano, em Bragança, no Dom Roberto, em Gimonde, ou na Lareira, em Mogadouro. Quando o amigo necessitar de um GPS gastronómico, pode contar comigo.
Tem Vossa Excelência uma superior competência na matéria, de que os seus amigos só poderão beneficiar.
Caro Embaixador,
Pois já estive a saborear a tal posta mirandesa no Dom Roberto, em Gimonde, quando, não assim há tanto tempo, fiquei (ficámos) numa dessas casas de abrigo de montanha, na Serra de Montesinho - que belas, serenas e bucólicas paisagens! - e deliciei-me, ou deliciámo-nos!
Se era de vaca ou vitela não sei, nem perguntei, mas que era tenra e me ficou na memória do palato, bem pode crer! E acompanhei, faço questão nestas coisas de gastronomia, com um bom vinho. Que Deus (?!) me perdoe o pecado da gula...! Mas pecar assim é tão bom!
P.Rufino
GPS gastronómico! genial:)!
Moro numa terra que, até ao 25 de abril, tinha o seu falar característico, hoje já quase em desuso devido à escola que todos os jovens frequentam e que os incentiva a esquecerem a "língua" dos seus avós. Já a minha professora ralhava connosco por cada palavra que diziamos "mal".
Foi, por isso, com satisfação que ouvi, na altura, a aprovação do mirandês como lingua oficial de Portugal, de uma certa maneira fiquei orgulhosa e já não evito tanto as palavras que aprendi na infância e que ainda me saem da boca de vez em quando.
Já pensei em escrever textos nesse dialeto, já iniciei alguns, mas os muitos afazeres fazem com que abandone esses projetos na gaveta. Qualquer dia, quem sabe, recomeço.
Quando oiço falar de Mirandela é precisamente da Língua que me lembro, não das postas, pois não sou grande apreciadora de carne de vaca, boi ou vitela, peço desculpa. Ainda por cima, também não aprecio alheiras... mas hoje assisti na RTP à transmissão de um programa em direto desde Mirandela e vi que lá há mais do que esses pratos, aliás, vi umas trutas que pareciam muito saborosas... e parece que estão em vias de extinção, acho que se devia fazer algo contra isso.
Desculpe o comentário extenso, sou uma fala barato quando estou para aí virada...
Tão Transmontano...
Só por Si garantia de qualidades
Isabel Seixas
Caro Embaixador,
Sobre a fala mirandesa, permita-me pegar na oportunidade para lembrar um homem daquelas terras a quem a sobrevivência do "mirandês" muito deve: Amadeu Ferreira.
Isto dito, acho piada ao titulo do livro "Le Portugal bilinge". Para francês ver, não está mal; mas, convenhámos, que exagero! Falado, ainda o vamos ouvindo de alguns autóctones que beneficiaram do recente aumento da esperança de vida. Agora, escrito, só o encontro naquela tradução dos Lusiadas ou na pequena crónica mensal que o Amadeu heroicamente escreve (ou escrevia?) no Público. E é pena. Afinal já todos falamos "lisbonês"...
Cara Felipa: não volte a confundir Miranda do Douro (a da posta mirandesa) com Mirandela (a das alheiras)! Os nativos de ambas as localidades não lho perdoarão.
Fico contente de aqui se falar de/em Mirandês : )
...mas quando em Setembro de 2010 aqui falei de e em Mirandês so o Patricio Branco se interessou pelo assunto...às vezes é preciso dar tempo ao tempo ; )
Achei piada a dois promenores do livro :
O nome da colecçao : Rivages Linguistiques. Aqui as margens serao no sentido à margem ? ou de salve-se quem puder ?
O editor : Press Universitaires de Rennes. Sim, porque nestas coisas de levar a deles avante os bretoes têm reputaçao : )
Caro Manuel Alves, parece que também se ensina nas escolas (ensino basico !?)
http://www.youtube.com/watch?v=3SIv2sF5jOM
Mea culpa! Imperdoável, realmente, da minha parte, tenho de estar mais atenta a estas coisas... Mas sempre associei o mirandês a Mirandela, Miranda é um pouco desconhecida, para mim (a não ser pelos pauliteiros que , esses sim, são de Miranda, não é verdade?).
Peço imensa desculpa por esta enorme gaffe aos mirandeses e aos... como é que se chamam os habitantes de Mirandela? E não me digam que é António, João, José, porque essa já é velha!
E para me penitenciar vou provar a posta mirandesa quando tiver oportunidade (o meu marido é grande apreciador e de vez em quando lá vai com os amigos para essas terras da origem, da próxima vez também quero ir)...
Senhor Embaixador,
Teremos cursos da língua?
Senhor Embaixador,
Permita-me de lhe contar aqui que há uns anos, também eu fiquei surpreendido quando encontrei um jovem lusodescendente, o Jorge, que não sabia falar português.
E como eu forcei um pouco sobre a importância do bilinguismo, ele disse-me que era efetivamente bilingue: falava francês porque nasceu aqui em Paris e falava Mirandês porque essa era a única lingua que os pais ainda hoje falavam entre eles, em França.
Se um dia esta familia lhe for bater à Embaixada, lá vai o senhor Embaixador ter de pôr à prova... o “Portugal bilingue”!
Carlos Pereira
JN FICO MUITO SATISFEITO COM TODOS ESTES COMEMNTARIOS A LINGUA MIRANDESA.TB FOI A PRIMEIRA LINGUA QUE EU CONHECI, POIS NA ALTURA ATE AS VACAS E OS BURROS SO OBEDECIAM EM MIRANDES.
MAS QUERO SO LEMBRAR QUE A MAIORIA DAS PESSOAS QUE HOJE SE TENTA APROVEITAR DA DITOSA LINGUA,ERAM ELES QUE NOS ANOS 70 CHAMAVAM PALHANTRE AS PESSOAS DAS ALDEIAS.
Estimado Senhor Embaixador,
Sou investigador em Linguística (CELGA-ILTEC / U. de Coimbra) e membro da direção da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa. Sou, além disso, seu conterrâneo e leitor assíduo há vários anos, muito prezando os seus textos.
Gostava de pedir-lhe um endereço ou outra via através da qual, tendo o Senhor Embaixador disponibilidade, eu pudesse expor-lhe uma iniciativa em curso e um pedido de bom conselho para uma iniciativa de cidadania relacionada com o mirandês que temos neste momento em curso: ações para a assinatura e ratificação, por parte do Estado Português, da Carta Europeia das Línguas Minoritárias e Regionais, um tratado internacional (do âmbito dos Direitos Humanos) do Conselho da Europa.
A "Carta" é um instrumento essencial para o enquadramento e defesa das línguas minoritárias e regionais no espaço europeu. Foi assinada pela generalidade dos parceiros europeus de Portugal; os que não o fizeram têm razões concretas para o não terem feito, sobretudo de ordem geoestratégica (caso dos países do Báltico, com o russo, ou da Grécia, com medo do irredentismo da "Grande Albânia").
No caso de Portugal, no entanto, nenhuma razão dessa ordem parece justificá-lo. De resto, há mais de uma década que os responsáveis políticos de sucessivos governos vêm dando conta da sua concordância com as linhas gerais do conteúdo daquele Tratado e com a necessidade de Portugal proceder à sua assinatura e ratificação. Só no ano de 2015, fomos recebidos formalmente pelo Secretário de Estado da Cultura, pelo Camões e pela Comissão de Cultura, Educação e Ciência da AR: sempre bem recebidos, mas sempre sem qualquer resultado concreto. Planeamos, por isso, a apresentação de uma petição à AR com mais de 4000 assinaturas, forçando a sua discussão em plenário na próxima legislatura.
Crendo, pelo muito que venho lendo do seu punho, que este seria um objetivo e um modo de atuação que contaria com a sua simpatia, gostava apenas de ter a oportunidade de expor muito sumariamente as ações de cidadania que já empreendemos e as que temos previstas, pedindo o seu bom conselho, de modo a seguir uma estratégia adequada e a não incorrer em nenhum "faux pas" do ponto de vista político-diplomático. Se por alguma razão o preferir, eu teria todo o prazer em falar por outra via (seja por telefone, seja pessoalmente); resido em Lisboa, mas estarei na próxima semana em Vila Real (em Arrabães, Torgueda, de onde é a minha família materna). Faria por não lhe tomar muito tempo.
Desejando poder contar com o seu apoio,
Com estima,
José Pedro Ferreira
P.S.: Peço desculpa pela e apelo à sua compreensão para a via através da qual lhe escrevo; apesar de ser este um comentário no seu blogue, o texto não se destina, claro está, à sua publicação aqui.
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