sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Notas egípcias

1. É impossível, para quem o viveu, não deixar de pensar no nosso 25 de abril, ao observar a alegria simples do povo egípcio. Estes são os momentos mágicos da esperança, que antecedem o que aí vai vir, inevitavelmente, as muitas divisões e contradições de um processo que só agora começou. Mas este dia, para o Egito e não só, será sempre um fantástico momento.

2. Uma grande interrogação é saber o que farão as Forças Armadas egípcias, a partir de agora. Convém ter presente que elas estão no poder, naquele país, há quase 60 anos, sempre apoiando ditadores. Todos os presidentes egípcios, desde Nasser, foram militares. Não o tendo assumido até agora, poderão as Forças Armadas egípcias vir a ser tentadas a ter um papel "kemalista", como na Turquia?

3. Se as coisas correrem bem, esta nova situação pode abrir uma "janela de oportunidade" para a resolução da questão israelo-árabe. Pena é que o poder em Israel não dê mostras de perceber esse ensejo e se feche na sua lógica tradicional de só se sentir confortado com a instabilidade fragilizante ou com ditaduras à sua volta, como melhor alibi para justificar a sua própria rigidez.

4. Se "houvesse" Europa, o que se conseguiria agora fazer com o Egito! Não "havendo", vamos assistir, nos próximos tempos, à agitada coreografia de alguns Estados europeus, colocando-se em bicos de pés para seduzir as forças que lhes parecerem mais aptas a assumir o poder no Cairo. E ainda há quem por aí se preocupe com o Serviço Europeu de Ação Externa...

5. Se há algo que, depois dos acontecimentos da Tunísia e do Egito, ficou bem provado foi a importância da internet, o papel decisivo das redes informáticas para o contacto entre as pessoas e para a difusão da informação. Quase que valeria a pena, como gesto de reforço da liberdade e da democracia, incluir o livre acesso informático como um dos novos Direitos do Homem.

17 comentários:

margarida disse...

... e então? Fica "Egito" ou "Egipto"?
E o povo, mantêm-se 'egípcio' em qualquer dos casos, ou nem por isso?
;)

Luís Bonifácio disse...

Não acho que haja interrogação sobre as Forças Armadas.
Aliás, nos ultimos 15 dias vimos apenas uma pantomina montada por um sector militar que saiu à rua para substituir a policia e depois manteve e alimentou uma manifestação super controlada de modo a poder ganhar ascendente sobre a facção Pró-Mubarak.

Agora é tempo de aplicar o príncipio de Lampedusa.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: Escreve-se como se lê. Às vezes lá escapa... Essim, é Egito e egípcio, porque aqui o "p" se lê. As easy as that!

margarida disse...

...bem, agora 'convence-me' recordando-me o americano 'nite'; mas vamos lá convencer os britânicos a redigirem outra coisa que não 'night'...
E, de repente, creio que foram eles que 'inventaram' o inglês..., ah, e nós, o português!
Pronto: rebenta outra vez a peleja...
;)
Egipppppppppppto!
LOL!
(foi o rei que falou..., o dos Óscares... :)))))

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Muito difícil entender-se aquilo que vai (politica/social), suceder, no Egipto.
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De facto a primavera chegou, o verão a seguir, depois o Outono, já frio e a neve, gélida, do inverno.
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No entanto no Egipto, a força do Povo foi colocada à prova e muitos governantes ainda não entenderam que é este o que mais ordena.
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O Povo agiu, espontâneamente, em massa e penso não ter sido influenciado por ideologias políticas e adversárias ao presidente Mubarak.
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Houveram vítimas (impossível não haver num levantamento de tal dimensão), mas elogia-se o bom senso das Forças Armadas que se à frente, a comandá-las, estivesse um "paranoico" e ordenasse fogo contra a multidão, seria, lamentavelmente, um banho de sangue.
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Que se conceda, também, dignidade ao presidente Mubarak que nem todas as suas acções teriam sido más.
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Governar uma nação com 70 milhões de almas não é nada fácil e demais o Egipto tem sido o epicentro numa área de conflitos.
Saudações de Banguecoque
José Martins

Anónimo disse...

Os mesmos países que ignoraram esta situação durante 30 anos, vão ser os primeiros a colocarem-se na linha da frente para obterem dividendos com o novo governo.

É a eterna hipocrisia dos mais fortes... mas, muitas vezes, fundamental para a harmonização de poderes no xadrez político internacional.

Isabel BP

Helena Oneto disse...

O Senhor Embaixador! a Margarida tem razão! esta do "Egito" so pode vir do "braziu":)!! até em chinês se escreve Egipto com "p":)!!! Acordo assim, NAO!

Do resto estou en total concordância com estas "Notas". Também noto (ponto 4) com tristezae a quasi inexistente diplomacia da União(?) Europeia. Alguem viu ou ouviu a baronesa hoje? Isto de revoluções ou de mudanças "na ordem natural das coisas" é ca um problema para alguns a começar por Israel...
Bom fim de semana!

Anónimo disse...

Faz sentido...
Isabel seixas

patricio branco disse...

Cada vez mais as relações internacionais se regem por regras e interesses amorais, por vezes imorais, onde a ética não existe. Os dh são hoje algo sem peso nas relações entre estados ou governos. Mubarak tirano ou ditador? nem se pensa nisso, é o presidente dum pais muito importante com o qual temos de manter relações, seja qual for o tipo de regime. Petróleo, suez, medio-oriente, conflito israelo-palestiniano, tudo issso é o que pesa, não a falta de democracia ou liberdade de expressão internas.
Todos os paises do mundo mantêm boas relações com o egipto e continuarão a manter, china, ue, urss ou russia, eua e brasil, portugal e espanha, angola e por aí adiante.
Fora alguns países paria, somalia, ou muito isolados, coreia do n, ou problemáticos, irão, as relações internacionais são independentes dos regimes que os governam, baseiam se em interesses económicos e de segurança.
Mubarak manteve se 2 semanas no poder manobrando a sua sucessão imediata e o seu destino, para onde vou, que levo, como garanto a minha imunidade futura, poderei ficar, terei de sair, etc. Várias embaixadas egipcias (ou egícias!porque não?)devem ter trabalhado bem e em segredo junto de alguns governos para garantir um lugar de exilio para mubarak, provisório ou mais duradouro.
Mubarak é + ou - o modelo de governante que há em todos os países árabes. Há-os bastante piores e perigosos, ali mesmo ao lado, à direita e esquerda e ao sul.
Que o 25 de abril do egito agora saiba encontrar o seu rumo, e melhorias democraticas internas terão que vir, ou então para que serviu tudo aquilo?

Anónimo disse...

Oh!...

E porque gostavam...

Ambos perdoavam
Ao Outro o pecado...

Um perdoava a riqueza...
O outro a pobreza...

In Sándor Márai

"As velas Ardem até ao fim"(pg46...Citação concetual)

Citado por
Isabel Seixas

Guilherme Sanches disse...

Também a mim, então militar em Angola, que apenas "ouvi" o 25 de Abril português, as imagens do Egito me fizeram lembrar a nossa data. E o primeiro primeiro de Maio. E o Verão quente, e tudo o que se lhe seguiu.

Mas estes acontecimentos, a par da Tunísia e de outros que com mais ou menos semelhança se desenham nos horizontes políticos, têm uma abrangência muito para lá da política e que nos afeta diretamente.

Quando Portugal aderiu à CEE, abrir-se-iam (dizia-se) as portas de um mercado de 380 milhões de consumidores. Na realidade, o acertar do passo ao som dos tambores europeus deslocou os produtos portugueses exportáveis para níveis de competitividade internacional inferiores, mormente nas indústrias com mão de obra intensiva, como a têxtil e do vestuário, por exemplo.

Ainda antes da "invasão" do extremo oriente, depressa a tal porta de saída se transformou numa porta de entrada dos nossos mais próximos vizinhos não europeus, que pelos seus baixos custos de produção literalmente inundaram a Europa com produtos baratos, fazendo fechar centenas de empresas portuguesas, com consequentes dezenas de milhares de desempregados.

Foi há cerca de doze anos.

Acabo de chegar de Londres, em visita de trabalho a clientes. Com os mais importantes, não perdi a oportunidade de conduzir subtilmente a conversa para um tema no qual, modéstia aparte, sou uma verdadeira abécula - política internacional.

- E a Tunísia? E o Egito?

Haviam de ver o brilho do sorriso de quem entendeu a matreirice da questão.

- É! É um problema. Temos encomendas diversas no Norte de África. Não sei quando as vamos receber, ou se as vamos receber. Temos de repensar a nossa estratégia... blá blá blá... E qual é a vossa capacidade disponível?...

Para bom entendedor... Que as empresas portuguesas que se qualificaram e não sucumbiram às investidas dos preços baixos assim o entendam também. E que não fiquem no sofá a ver as imagens mil vezes repetidas.

Às vezes, ser Europeu até tem vantagem. E não é por querer mal a ninguém. É apenas a Lei da Vida.

cunha ribeiro disse...

É inevitável comparar a nossa com a revolução do país dos Faraós.
Mas para o bem e para o mal...
E, salvo as ainda largas janelas por onde entram e saem, os ventos das opiniões, que esperança poderão ter os egípcios, se trilharem "o tal" caminho...

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa,

Regozijo-me com o desfecho da insubmissão egípcia contra a prepotência de um ditador.

Na realidade, como bem nos indica o Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa, a liberdade informática neste mundo Global constitui um requisito para uma autêntica liberdade de expressão fundamentada na verdade. No entanto, esta onda revolucionária que está a varrer o mundo árabe do Norte de África ( Tunísia e Egipto )e em que agora aparecem alguns sinais na Argélia mostra a necessidade de uma efectiva Globalização dos Direitos Humanos.

Contudo, apesar do mundo Global pela vivência económica que se impôs continuam a existir vários mundos em que persistem muros que impedem a aceitação universal dos Direitos Humanos. São os casos evidentes da China, da Coreia do Norte e de Cuba para citar só alguns exemplos.

Os incidentes da Praça Tian'anmen de 1989 foram reprimidos e com a ascensão económica da China não me parece ser fácil fazer aceitar às autoridades deste país o respeito pelos Direitos Humanos, como nos lembrou a Academia Sueca com a atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2010.

No entanto, em prol de mundo melhor,mais justo e mais livre subscrevo inteiramente a tese do Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa!

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Margarida e Helena O. isto da "língua portuguesa" misturada com o Egipppppppto e com os egippppppcios anda a dar-me dor de cabeça. Que está duuuuuuuuuuuuuura para aceitar esta submissão!

Anónimo disse...

Oh! "Helena"...

Não perca jamais a sensualidade da Teimosia feminina ... Grrr

Pois Eu cada vez que descubro uma nuance no acordo acho afrodisíaca, esta então Hum ...melhor que cadburys de almendras... O nome dos filhos diferente do dos pais que revelação, isso é o que eu designaria o 4º repito o quarto ... Milagre... Dado o imprevisível, estou em crer que estava nalgum convento bordel linguístico só para aliciar... seduzir e corromper as aderências até das mentes mais leves produtivas e independentes...

Quando for grande se chegar Lá tenciono ser pior que a senhora que na minha gíria é ser melhor e mais alta...Nós as duas sabemos que é impossível
...

Mas não é aí que reside a Graça?!!!

Isabel Seixas

Agora vou mesmo andar, até...

zamot disse...

Caro Senhor Embaixador,
Não vivi o 25 de Abril, mas desde os primeiros dias que me emociono com o que se passa no Egito como se fosse a nossa revolução. Deve ser uma experiência inigualável presenciar de perto tais acontecimentos.

A propósito do que escreve sobre a importancia da internet nestes acontecimentos e concordando plenamente deixo-lhe uma refleção:
Numa conversa cá em casa sobre esta revolução e o papel da internet, surgiu-me a ideia de que com esta nova ferramenta, no futuro, uma evolução da democracía, podería passar por uma espécie de abolição dos partidos, passando os cidadãos a decidir os problemas nacionais a ser resolvidos com referendos online.
Cheira muito a Utopia mas dá me uma imagem muito refrescante do que poderá vir a ser a cidadania.

Cumprimentos,

Tomás Viana

Alexandre Rosa disse...

Meu caro Embaixador e amigo Seixas da Costa.
Acompanho as tuas notas sobre a situação no Egipto.
Tenho um sentimento idêntico ao teu e um desejo, pelas mesmas razões, que tudo corra bem.
Escrevi no meu FB, em comentário a um comentário do João Soares, que
"Sem entusiasmos excessivos, devo dizer que tenho bons feelings sobre a situação no Egipto. E que tem algumas semelhanças com a nossa revolução também me parece.
Por ca os militares libertaram Portugal com o apoio do povo. Por la o povo libertou o Egipto com o apoio dos militares. Em ambos os casos os militares prometeram um poder civil. Por cá a promessa cumpriu-se. Por la vamos ver. Acredito que isso acontecera. Aguardemos.
Um abraço e continua a escrever. Gostamos de te ler e precisamos das tuas reflexões, sempre tão oportunas.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...