A partir de hoje, o "International Herald Tribune" passa a ser apenas, de forma ainda mais clara do que já o era desde há uns tempos, uma simples edição mundial do "The New York Times".
O jornal foi, no seu início, um órgão de informação destinado à comunidade americana residente ou expatriada na Europa. Chamava-se então "New York Herald Tribune" e os cinéfilos recordam-se bem de ver Jean Seberg a anunciá-lo em Paris, Champs-Elysées abaixo, ao encontro de Jean-Paul Belmondo.
A grande vantagem do IHT era o facto de, durante muitos anos, nos trazer o melhor, não apenas do New York Times, mas igualmente dos excelentes The Washington Post e do Los Angeles Times. Era um retrato de uma certa América, com magníficos textos de opinião, que nos ajudavam a ultrapassar a visão mais eurocentrada do Le Monde ou do Financial Times. Um dia, o jornal perdeu para a publicidade a sua última página, onde até então apareciam as deliciosas crónicas do Art Buchwald e em cujo rodapé emergiam pequenos anúncios, desde o eufemismo das primeiras "escort girls" às casas de campo por essa Europa fora. Por décadas, desde 1924, o Herald Tribune incluiu nesse espaço a publicidade a esse expoente americano da bebida que ainda é o Harry's Bar, aqui em Paris, onde o respectivo endereço - 5, rue Daunou - era apresentado em transcrição fonética, por forma a permitir ao consumidor yankee dizê-lo com facilidade ao taxistas parisienses: "Just tell the taxi driver: sank roo doe noo".
Com esta sua mudança, consagra-se o fim de uma época do IHT. Por mim, confesso, tenho alguma pena. Mas não deixarei de lê-lo todos os dias, como faço há muitos anos.
O jornal foi, no seu início, um órgão de informação destinado à comunidade americana residente ou expatriada na Europa. Chamava-se então "New York Herald Tribune" e os cinéfilos recordam-se bem de ver Jean Seberg a anunciá-lo em Paris, Champs-Elysées abaixo, ao encontro de Jean-Paul Belmondo.
A grande vantagem do IHT era o facto de, durante muitos anos, nos trazer o melhor, não apenas do New York Times, mas igualmente dos excelentes The Washington Post e do Los Angeles Times. Era um retrato de uma certa América, com magníficos textos de opinião, que nos ajudavam a ultrapassar a visão mais eurocentrada do Le Monde ou do Financial Times. Um dia, o jornal perdeu para a publicidade a sua última página, onde até então apareciam as deliciosas crónicas do Art Buchwald e em cujo rodapé emergiam pequenos anúncios, desde o eufemismo das primeiras "escort girls" às casas de campo por essa Europa fora. Por décadas, desde 1924, o Herald Tribune incluiu nesse espaço a publicidade a esse expoente americano da bebida que ainda é o Harry's Bar, aqui em Paris, onde o respectivo endereço - 5, rue Daunou - era apresentado em transcrição fonética, por forma a permitir ao consumidor yankee dizê-lo com facilidade ao taxistas parisienses: "Just tell the taxi driver: sank roo doe noo".
Com esta sua mudança, consagra-se o fim de uma época do IHT. Por mim, confesso, tenho alguma pena. Mas não deixarei de lê-lo todos os dias, como faço há muitos anos.
4 comentários:
Curiosa a história do Herald Tribune. Gostei bastante de (re)ver, na foto, a bela e excelente actriz Jean Seberg (com J.P. Belmondo, ainda novo), de quem era um “fan” incondicional.
Quanto ao “Herald” ficou-me, de facto, a impressão de ser primordialmente destinado aos expatriados norte-americanos (como diz aqui Francisco Seixas da Costa), visto a escolha dos assuntos e artigos ali publicados o serem sempre na perspectiva de Washington e dos seus interesses globais, mesmo quando se referiam à Europa e outros continentes (nada de errado nisso, são opções – motivados por interesses - que se respeitam). Até, de algum modo, na página dedicada ao desporto.
Na defunta época do Sr. G.W. Bush, o jornal, na minha modesta opinião, foi, talvez, mesmo um pouco mais além, acabando por veicular, em diversas ocasiões, de certa maneira, alguma dose de “propaganda” daquela pouco saudosa Administração (das suas acções e atitudes), sobretudo na política externa, mas também na económica. Interessante, o “Herald” teve sempre para com o Reino Unido uma atenção diferente. Como se os interesses dos EUA e do R.U. coincidissem em grande parte (o que até nem estará longe da verdade).
Pareceu-me notar, todavia, nestas últimas edições, um certo “arejamento”, se calhar devido aos “novos tempos” que se vivem do outro lado do Atlântico.
Impagável em muitas ocasiões, eram (e parece continuarem a ser) os “cartoons” divertidos com um conteúdo crítico notável. George Bush e outras figuras não escaparam ao sarcasmo do autor, com imensa graça.
Quanto à publicidade na última página, confesso que, por vezes, até aprecio; por exemplo, outro dia gostei de ver Marion Cotillard (num anúncio à Dior), essa excelente actriz francesa, cujo filme A Good Year, de Ridley Scott, com o vinho como temática, me ficou na memória (apesar de não ser o seu melhor). Minha mulher já apreciou mais o de hoje, com Sean Connery ainda cheio de charme, nos seus “setentas”.
Mas não deixa de ser uma referência jornalística. Sem dúvida.
P.Rufino
PS: este blogue surpreende-nos agradavelmente pela variedade e interesse dos Post que diariamente ali aparecem!
Permita-me o Anónimo que cumprimente a sua Mulher. Também eu notei o anúncio e partilho do seu apreço. De facto, há "setentas" que continuam a ser pedaços de "mau caminho".
Não sei que idade terá a sua Mulher. Mas adivinho um bom gosto refinado.
Oh meu Deus! O meu coração balança! Aplaudo mais o 'post' de V.Exa. ou o comentário de P.Rufino?!
Secundo em absoluto o seu P.S. (post scriptum, post scriptum... cof, cof...)
Senhor Embaixador, não passar aqui é uma perda!
E a vida já tem perdas em excesso.
Cordialíssimos cumprimentos.
Francisco
Ineiramente de acordo. Como quase sempre.
Só uma pequena estória. Em nome do Diário de Notícias onde, à época (e como muito bem sabe, querido Amigo) era o Chefe da Redacção, assinei, em Nova Iorque, o acordo de exclusivos que assim se estabeleceu entre os dois jornais: o NYT e o DN (1987). Era então director do New York Times Arthur Gelb que - por especial deferência - rubricou comigo o acordo.
Nessa altura, na capital federal, visitei também o Washington Post, onde conheci Bob Woodward com quem estabeleci uma boa Amizade. Dois anos depois, na Universidade de Berkley iria encontrar como conferencista Carl Bernstein. Com eles (e com muitos outros) aprendi muitíssimo, principalmente sobre jornalismo de investigação. O caso Watergate foi, é e será para mim, um dos momentos mais altos do jornalismo no Mundo.
Muito falámos sobre o produto conjunto que já era o Herald. Se já antes era, para mim, uma quase Bíblia, nessa época, o IHT passou a ser uma verdadeira fonte de tudo - desde a informação, até à opinião. Não mais deixei de o ler e, naturalmente, assinar, até hoje. Estive, até, três ou quatro vezes na sua Redacção em Paris. Coisas.
Acontece agora o que tinha de acontecer. O NYT, que atravessa (também ele) uma enorme crise com prejuízos gigantescos, deixa de poder «sustentar» a aventura quotidiana do Herald. Logo, incorpora-o. É a vida. Sobretudo, a vida dos órgãos da Comunicação Social, espalhados por todo o Mundo. Até que já não o consiga fazer. Quando? Onde estará perdida a bola de cristal? O que para mim, para nós todos que trabalhámos em Jornais com caixa alta, será muito, mas mesmo muito, doloroso. Cheira a execução, cheira a assassinato.
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